João Arruda, bonecreiro residente do Museu Municipal da Lagoa, na ilha de São Miguel, abraçou a arte há oito anos, mas a paixão pelo ofício vem desde o tempo de criança.
Sentado na oficina, no museu, o artesão lagoense dá os últimos retoques numa figura.
“Há muitos colecionadores. Há pessoas que não passam um ano sem comprar mais uma figura. Há sempre um cantinho no presépio para colocar mais um boneco, nem que seja só uma ovelha”, conta João Arruda à agência Lusa.
A produção destas pequenas figuras de barro iniciou-se na segunda metade do século XIX com a abertura das primeiras fábricas de cerâmica na Lagoa e a arte chegou a ser um complemento ao rendimento de muitas famílias.
Na oficina de bonecreiro dezenas de moldes de bonecos em gesso ocupam as prateleiras.
“Uns são moldes meus, mas há também moldes de outros bonecreiros que já faleceram e que a Câmara adquiriu”, explica, sinalizando novas figuras que começam a surgir nos presépios açorianos.
No presépio tradicional, a Natividade constitui a parte central da representação. A partir daí a decoração é feita com as figuras de barro que retratam as vivências e tradições açorianas nas vertentes religiosa, social, cultural e arquitetónica.
João Arruda fala com orgulho das peças que molda e do prazer que tem em “moldar novos estilos de bonecos”.
As procissões, as festas do Espírito Santo, as romarias quaresmais, as procissões, os pescadores, as lavadeiras, os noivos, os tocadores e a matança do porco são alguns dos elementos com representação garantida no presépio tradicional.
Mas, há encomendas de “novos estilos de bonecos”, garante o artesão: “Tenho feito ultimamente bonecos de marchas populares. E há até de pessoas em piqueniques nos cozidos das Furnas”, relata, confessando que é “muito gratificante inovar” na arte, até porque a técnica “também se foi aperfeiçoando”, com recurso a novas tintas e pincéis.
O método de produção dos bonecos passa por várias fases, desde a manipulação do barro à colocação nos moldes e à secagem das figuras, finalizando-se com a pintura.
“Uma coisa é certa – até um boneco estar pronto é uma semana, embora existam atualmente novos mecanismos de secagem”, salienta o artesão.
João Arruda é também formador no âmbito do projeto “Novos Bonecreiros”, criado pelo município da Lagoa, para incentivar a adesão de novos artesãos, por forma a dar continuidade à arte naquele concelho micaelense.
“A arte bonecreira estava quase a morrer, mas a Câmara da Lagoa apostou neste projeto e disponibiliza formações na comunidade e nas escolas. Já temos novos bonecreiros formados na nossa oficina”, refere, orgulhoso.
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