“Há imagens que nunca foram vistas. Assistimos a quase mil horas de imagens de arquivo”, disse em entrevista à Lusa Caroline Marsden, produtora da 72 Films, que produziu a série documental de seis episódios sobre o ataque que atingiu Nova Iorque, Pensilvânia e Washington, D.C..
“Encontrámos pessoas que tinham câmaras de vídeo e conseguimos imagens que foram digitalizadas pela primeira vez”, explicou a responsável.
No primeiro episódio, é mostrada a fotografia do português Carlos S. da Costa, um emigrante natural de Canas de Senhorim que trabalhava na Autoridade Portuária e foi responsável pela retirada de 70 pessoas com os colegas Frank De Martini, Pablo Ortiz e Peter Negron. Nenhum sobreviveu.
A descrição de atos de coragem e altruísmo como os de Carlos da Costa permeia a visualização da angústia e assolação no “ground zero”, onde os bombeiros em serviço estremeciam de cada vez que se ouvia o estrondo dos corpos das pessoas que preferiram atirar-se da janela a morrerem queimadas nas torres em chamas.
“Temos uma memória coletiva disto, como nação”, disse o produtor executivo T.J. Martin, que falou numa mesa-redonda sobre a série. “Queríamos olhar para a resiliência humana, a fragilidade humana e tudo o que fica entre esses dois espaços”.
Baseada inteiramente em imagens de arquivo e entrevistas com sobreviventes, bombeiros, polícias e outros profissionais que acorreram aos locais atacados, a série documental não inclui narração, opiniões de especialistas ou análises ao sucedido.
Segundo T.J. Martin, a intenção principal foi “ouvir as pessoas que sobreviveram”, sem intervir, obtendo o relato das experiências na primeira pessoa.
Uma dessas sobreviventes foi Kathy Comerford, que se encontrava no 70.º andar da Torre Sul do World Trade Center, em Nova Iorque, quando o primeiro avião embateu na Torre Norte, às 8:46 da manhã de 11 de setembro.
“Quando isto aconteceu pensámos que era um transformador ConEd a rebentar”, disse à Lusa a sobrevivente, explicando que isso levou a que as equipas de segurança considerassem que a Torre Sul estava segura.
Kathy foi uma das pessoas que não regressaram ao posto de trabalho conforme estava a ser pedido nos altifalantes da Torre Sul, quando o embate estava a ser avaliado como um acidente.
“Estava tudo em chamas lá fora e não sabíamos que vinha aí um avião. Nunca responsabilizei ninguém por nos mandarem voltar para cima”, disse, apesar de não ter voltado.
“Não fazíamos ideia de que era terrorismo até chegar ao piso 44, quando o segundo avião embateu. Aí soubemos que estávamos sob ataque e não fora erro humano”.
Apenas duas dezenas de pessoas foram salvas com vida dos escombros das Torres Gémeas, onde morreram 2.606 pessoas. Kathy Comerford sublinhou as ações de coragem e superação tomadas naquele dia.
“Algumas pessoas têm a ideia errada de que era uma confusão e desorganização, mas não foi assim”, afirmou. “Toda a gente estava a ajudar-se mutuamente. Quando estávamos presos nas escadas, era como se fizéssemos parte de uma equipa”, descreveu. “Descemos quase em alcateia, os grupos gritavam palavras de apoio para cima e para baixo”.
Um dos responsáveis pelos esforços de salvamento, o chefe de bombeiros Joseph Pfeifer, disse que havia sinais de devastação por todo o lado, mas também sinais de esperança.
“Dei ordens aos bombeiros para subirem e evacuarem o edifício”, disse Pfeifer, que perdeu o irmão e grande parte da sua corporação durante as operações. “Fizeram coisas ordinárias num momento extraordinário da História”.
A produtora Caroline Marsden disse que a produção desta série foi difícil e requereu apoio de especialistas, pelo impacto que a visualização das imagens teve.
“Espero que as pessoas percebam que isto é um único dia de violência”, disse à Lusa. “Olhem para o efeito que teve, vinte anos depois, nas pessoas que sobreviveram, nas suas famílias. Imaginem semanas, meses, anos de violência”, continuou. “Espero que, de certa forma, nos faça considerar a violência de outra perspetiva”.
A série estreia-se quando os Estados Unidos estão a dias de assinalar o vigésimo aniversário dos ataques e num processo de retirada do Afeganistão.
“Se não aprendermos com a História, vamos repeti-la”, frisou a sobrevivente Kathy Comerford, referindo que todas as crianças e jovens que estão hoje na escola nasceram depois desta data. “São vinte anos. Se pensarmos quantas pessoas ainda não tinham nascido nesse dia horrífico… precisam de entender que isto modelou muito do que aconteceu de 11 de setembro de 2001 em diante”.
“9/11: Um Dia na América”, que se estreia às 22:10 de segunda-feira, é uma produção 72 Films em colaboração oficial com o 9/11 Memorial & Museum.
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