“Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos”, editado pela Cavalo de Ferro, e traduzido diretamente do polaco por Teresa Fernandes Swiatkiewicz, tinha data prevista de publicação no dia 14 de outubro, mas o anúncio da atribuição do Prémio Nobel da Literatura à autora, no dia 10, levou a editora a reforçar as edições, ainda antes de o livro chegar às livrarias.
“Pese a tiragem já razoável (2.500), tendo em conta o excelente comportamento do ‘Viagens’ [anterior livro da escritora editado em Portugal, que venceu o Prémio Internacional Man Booker 2018], claro que esta não chegava para satisfazer os pedidos que choveram do mercado. No dia do anúncio foi de imediato dada a ordem para reimprimir mais 5.000 exemplares”, contou à Lusa fonte da editora.
A primeira edição do livro “Viagens” saiu em março de 2019, com 2.000 exemplares, aos quais a editora acrescentou mais mil, logo em junho, o que se deveu às “excelentes vendas”, impulsionadas pelo prémio Booker.
Para este mês já estava agendada uma terceira edição, mas com o anúncio do Nobel, a Cavalo de Ferro decidiu aumentar a tiragem da reedição para 5.000 exemplares.
“Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos”, que foi finalista do Prémio Booker Internacional este ano, pode ser lido como um policial negro, porque parte de um mistério e da sua investigação, mas vai mais fundo, explorando de “forma provocadora” temas como o ambientalismo e o catolicismo, o que gerou “grande controvérsia no seu país [da escritora], sobretudo por parte dos setores mais conservadores da sociedade”, explica a editora.
“Sob a forma de ‘thriller’ psicológico e efabulação macabra, este é um romance irónico e apaixonado sobre os direitos dos animais, a responsabilidade do homem sobre a natureza, assim como uma exploração da ténue fronteira entre sanidade e loucura, justiça, tradição e fé religiosa”, acrescenta.
A história passa-se numa remota aldeia polaca, onde a excêntrica Janina Duszejko, professora reformada, divide os seus dias a traduzir a poesia de William Blake e a observar os sinais da astrologia, fazendo por manter-se afastada das pessoas e próxima dos animais, cuja companhia prefere.
No entanto, a pacatez dos seus dias vê-se interrompida quando começam a aparecer mortos vários membros do clube de caça local.
Certa de encontrar respostas, Janina decide lançar-se na investigação do caso, chegando a uma estranha teoria que espalhará o terror pela comunidade.
Na primeira declaração oficial da autora, depois de ter tido conhecimento de que ganhara o prémio Nobel, Olga Tokarczuk falou de algumas das questões que a preocupam no mundo atual e nos desafios que se colocam aos escritores.
“Muitas vezes questiono se é sequer possível descrever o mundo, ou se já somos demasiado impotentes perante a sua forma cada vez mais fluída, a dissolução de pontos fixos e o desaparecimento de valores”, afirmou.
Olga Tokarczuk é autora de obras assentes no passado do seu país e tem sido duramente criticada pela direita, na Polónia, tendo já sido ameaçada de morte e obrigada a ter proteção de guarda-costas, contratado pela sua editora local.
Aquela que, para a Academia Sueca, responsável pela atribuição do Prémio Nobel da Literatura, é a “grande obra” da escritora até ao momento é o “impressionante” romance histórico “Os Livros de Jacob”, publicado em 2014 e ainda sem edição em português.
Em Portugal encontram-se apenas publicados “Viagens” e “Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos”.
Nascida na cidade polaca de Sulechów, em 1962, filha de dois professores, Olga Tokarczuk formou-se em psicologia e publicou o seu primeiro livro em 1989, uma coletânea de poesia.
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