INTRODUÇÃO

Espero que este seja o ano em que mudamos a nossa vida.

Não no sentido superficial. Não no sentido de mudarmos coisas de sítio à superfície e nos perguntarmos porque é que, por baixo, nada parece muito diferente. Não no sentido da conformidade. Não no sentido que nos aproxima o máximo possível de todos os emblemas tradicionais do êxito, aqueles que nos deixam a sorrir lado a lado com as nossas vitórias enquanto nos sentimos tão beliscados pela culpa e pelo arrependimento.  

Espero que este seja o ano em que mudamos a nossa vida da forma que secretamente sempre desejámos. O ano em que descobrimos que aqueles sonhos que permaneceram discreta- mente convosco durante tanto tempo são, na verdade, ecos de vidas paralelas, histórias irmãs a pedir-nos que as contemos, que demos um passo na sua direção, que as tivemos da mente para as colocarmos na realidade palpável e física.

Espero que este seja o ano em que mudamos a nossa vida da única forma como podemos, com o poder que cada um de nós tem. Não o posso fazer por cada um. As palavras não o podem fazer. Só nos podem encorajar e guiar como um velho amigo, uma mensagem que vem, simultaneamente, de muito longe

e de cá bem do fundo. Espero que cada um se concentre mais no que sente nas entrelinhas do que no que vê nas páginas. Espero que cada dia nos faça parar e contemplar se nos poderá ter escapado uma terceira porta invisível de possibilidade. Espero que não tenhamos medo de olhar para dentro, o espaço a partir do qual toda a nossa vida nasce.

Espero que este seja o ano em que paramos de dançar em redor do perímetro da pessoa que tencionávamos ser, daquilo que viemos cá fazer. Espero que este seja o ano em que aprendemos a desafiar o que é razoável e damos sentido a um mundo que nós próprios concebemos. Espero que este seja o ano em que descobrimos que o chão não se limita a sustentar-nos se permanecermos onde estamos: a cada passo que der- mos, e aonde quer que formos, irá amparar-nos, como sempre fez, como sempre faz.

Espero que este seja o ano em que percebemos que tudo — tudo até às mais pequenas coisas da vida — acontecerá com muito mais facilidade se estiver alinhado com a verdadeira intenção da nossa alma. Espero que este seja o ano em que começamos a desenterrar essas verdades de dentro de nós. Espero que este seja o ano em que encontramos o tipo de coragem mais arrojado e feroz. Espero que este seja o ano em que caminhamos sem medo para a vida que sempre nos esteve destinada.  

Dentro de nós vive uma grande visão para a nossa vida, silenciada ao longo do tempo pelo mundo.

É mais uma vez altura de ouvir. É mais uma vez altura de viver.

Brianna Wiest

Jaime Nogueira Pinto junta-se ao É Desta Que Leio Isto no próximo encontro, marcado para dia 28 de novembro, uma quinta-feirapelas 21h00. Consigo traz o seu romance "Novembro", editado pela D. Quixote.

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DIA 1

A coragem com que entramos neste dia tornar-se-á o destino que encontraremos amanhã. VOWOI C0Htinuar a reproduzir as memórias de ontem ou vamos ao encontro do momento e tiramos o melhor partido do que temos agora à nossa frente? Não para impormos a nossa vontade ao nosso destino, mas para chegamos em pleno a cada momento tal como nos é apresentado. Não para construirmos uma história perfeita e linear, mas para criarmos um mosaico de experiências: sempre em formação, sempre em evolução, sempre em desdobramento, à medida que o que está no interior se desenrola na realidade, revelando, por fim, o fragmento do universo que se deu a conhecer através de nós neste exato momento, neste exato local, nesta exata forma. Estamos exatamente onde precisamos de estar. Este é o dia perfeito para começarmos a nossa vida outra vez.

DIA 2

Existe imenso poder em não saber. Não saber o que vem a seguir, não saber o que decidir, não saber como vamos chegar aonde sabemos que queremos e precisamos de estar. Cada momento contém em si portas para oportunidades, e, quando escolhemos atravessar uma, fazemos com que realidades que outrora nos eram invisíveis passem a estar disponíveis para nós. Quando não sabemos o que vem a seguir, entramos no domínio do potencial infinito. Em vez de tentarmos planear a vida de forma tão segura e sucinta, podemos começar a planear para o momento, para a alegria, para o caminho. Em vez de vivermos em piloto automático, podemos aprender a ir incessantemente ao encontro do agora, sempre em mutação, sempre possível. Quando finalmente admitimos que não sabemos o que se segue, entramos no vórtice dourado: o espaço entre tudo aquilo que sabemos que nos está destinado e como tínhamos previamente imaginado que seria.

DIA 3

Um dia vamos compreender que a felicidade não é o aspeto da nossa casa, mas como amamos as pessoas dentro das suas paredes. A felicidade não é alcançar o sucesso até uma determinada altura, mas encontrar algo de que gostamos tanto que o próprio tempo parece desaparecer. A felicidade não é julgar que conquistámos a aprovação do mundo, mas acordar todos os dias tão em paz na nossa própria pele, a antecipar pacificamente o dia que teremos, sem nos preocuparmos com a forma como nos veem. A felicidade não é ter o melhor de tudo, mas a capacidade de retirar o melhor de tudo. A felicidade é saber que estamos a fazer o que podemos com o que nos foi dado. A felicidade não é algo que vem ter connosco quando todos os problemas estão resolvidos e tudo se encaixou no devido lugar, mas os males que vem por bem e que nos lembram de que a luz do dia está sempre lá, se abrandarmos o suficiente para separarmos nela.

DIA 4

A autoproteção é aprendemos a fazer uma pausa entre o que sentimos e como reagimos. Quando não há qualquer consciência entre aquilo que percecionamos e a forma como respondemos, qualquer coisa pode controlar-nos. Pratiquemos a passa. Alarguemos o espaço entre o que sentimos e o que fazemos em relação a isso. Decidamos o que vale a pena a nossa energia, porque aquilo com que nos envolvemos é aquilo a que damos poder.

DIA 5

Há sempre dois rios a correr dentro de nós, um que contém todas as vozes do mundo e outro, uma única voz a destacar-se sozinha: a voz do nosso guia interior. O primeiro rio é tão forte, regular e constante, com as suas instruções, orientações e premonições, que a maioria de nós vive sem pensar, sendo puxada para todas as metas, todas as coisas que nos disseram que tínhamos de agarrar, seguir, alcançar. Um dia, olhamos para baixo e percebemos que estamos de mãos a abanar. As nossas vidas ficaram entrelaçadas num enredo que não escrevemos. Quando perdemos de vista a nossa bússola interior, uma neblina cai-nos sobre a consciência do momento. Ficamos limitados pela confusão, indecisão e incerteza. Tornamo-nos incapazes de nos guiarmos a nós próprios porque os dois rios gritam por cima um do outro, a tentar-nos com virtudes e a repelir-nos com vícios. Com o tempo, somos consumidos pela rigidez de tentarmos ser o que nos dizem, e existimos assim em contraste com a verdade suave e efervescente que vive lá no fundo. Apesar de o primeiro rio conseguir tornar-se muito ruidoso, podemos sempre ouvir o chamamento tranquilo do segundo. As nossas vidas começam no dia em que decidimos seguir o nosso conhecimento interior, mesmo enquanto  ouvimos — e, às vezes, prestamos atenção — o conhecimento coletivo do primeiro. O primeiro passo para a sabedoria está em reconhecer que existe verdade fragmentada em todo o lado, e que separar os rios em «completamente born» e «completamente mau» é privarmo-nos da profundidade e da beleza que os nossos corações estão a tentar trazer ao de cima.  

O caminho não é abandonarmos um a favor do outro, mas sabermos quando é o momento de ouvir, de escutar e de seguir cada um deles.

DIA 6

Não podemos desejar o que já não contemos dentro de nós. O desejo é uma projeção exterior proporcional ao potencial interior. Existem tantas possibilidades neste mundo, tantas coisas por que ansiar e a que aspirar. Existem tantas coisas que podemos querer e, contudo, o que nos desperta por dentro é uma visão muito específica. Poucas coisas nos excitam de uma forma que nos deixa quase desconfortáveis com o desejo que sentimos por elas. O desejo é uma parte integral de quem somos, temo-lo em nós, mesmo que não estejamos conscientes dele... Mesmo quando o nosso ego escolhe escudar-nos da possibilidade de o reconhecermos. Só nos falta estarmos disponíveis para aceitar as montanhas que teremos de escalar por forma a desenterrarmos esses desejos das nossas partes mais profundas e os criarmos no mundo que já habitamos.

DIA 7

Talvez não precisemos de arranjar mais energia, talvez só precisemos de encontrar um sonho que nos de, de facto, vontade de nos levantarmos da cama de manhã. Talvez precisemos de encontrar algo que nos de mais do que nos retira. Talvez precisemos de deixar de tentar sermos bons nas cem coisas que não nos iluminam a alma e escolher, por fim, aquela que o faz a que nos pede que arrisquemos, que ponhamos o coração a nu, que tentemos outra vez, apesar de termos medo. Não fracassamos por não estarmos motivados. Não se espera que cheguemos longe num caminho que nunca nos coube percorrer.

Livro: "O Ano da Mudança"

Autor: Brianna Wiest

Editora: Presença

Data de Lançamento: 6 de novembro de 2024

Preço: € 19,90

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DIA

Podemos acreditar que viver a vida ao máximo é ver todos os países do mundo, despedirmo-nos do emprego por impulso e apaixonarmo-nos perdidamente, mas, na realidade, é só sabermos como estar onde os nossos pés estão. É aprendemos a tomar conta de nós, como fazermos da nossa própria pele um lar. É aprendemos a construir uma vida simples de que nos orgulhemos. Uma vida vivida ao máximo nem sempre é feita das coisas que nos despertar, mas daquelas que lentamente nos asseguram de que não faz mal abrandar. De que nem sempre temos de provar alguma coisa. De que não temos de lutar eternamente ou querer sempre mais. De que não faz mal as coisas permanecerem como são. Pouco a pouco, começaremos a ver que a vida só pode expandir-se na proporção da sua estabilidade interior — que, se a alegria não estiver nas pequenas coisas primeiro, as grandes não nos encontrarão em pleno.

DIA 9

Qualquer que seja a dor em que julgamos que estamos neste momento, esta não se pode comparar com a paz que um dia nos inundará. Não se pode comparar com a alegria que um dia conheceremos. Vamos apaixonar-nos pela vida outra vez, e vai ser melhor do que antes, porque nos tomaremos pessoas diferentes — pessoas mais capazes de apreciar o que importa, menos desgovernadas nas escolhas, pois já não seremos tão facilmente influenciados nem confiaremos tão cegamente. Exigiremos um novo nível de integridade na nossa vida, que se traduzirá em limites melhores e em alicerces mais estáveis. Ficaremos mais fortes das formas mais inesperadas, e, a partir daí, a nossa felicidade será ainda mais sincera, ainda mais aparente. Isto não acontecerá do dia para a noite, embora, em retrospetiva, nos vá parecer assim. Tal como a mudança da estação, tudo muda devagar até que, de repente, nos encontramos firmemente no depois, em tudo aquilo que receámos que nunca chegasse. Atravessámos a etapa, mas estamos diferentes porque algo também mudou dentro de nós e desimpediu o que nem sequer nos apercebemos de que estava no caminho.

DIA 10

O que importa no caminho não é como pousamos o que nos está a pesar, mas como aprendemos a deixar de lhe pegar. Não é quando decidimos parar, mas a força da resolução para não recomeçar — com os hábitos, as pessoas, os pensamentos, os comportamentos que sabemos que só podem levar à nossa destruição. É como libertamos a infelicidade familiar, como decidimos que já largámos as muletas emocionais que nos acalmaram, distraíram e seguraram quando mais precisámos. O caminho em frente será feito das coisas que tentarmos alcançar no seu lugar.