Começa logo pela data e pela efeméride; Jesus Cristo não nasceu em 25 de Dezembro, nem há provas que tenha sido numa manjedoira.

A data foi escolhida porque no princípio do cristianismo a Igreja tinha dificuldade em impor as suas efemérides e usava o método de se apropriar das festas muito populares entre os romanos, absorvendo-as. No Império comemorava-se o Equinócio do Inverno (22/23 de Dezembro) com grande pompa e circunstância, portanto toca de aproveitar a alegria geral para comemorar a data fundadora da nova religião.

Ao que parece, segundo estudos feitos a partir da passagem do cometa que orientou os Reis Magos, corroborados por um documento encontrado em 243 a.C., Jesus Cristo teria nascido em 28 de Março. E também não foi no ano zero; dizem as escrituras que Maria e José foram a Belém para se inscrever no recenseamento ordenado por Herodes; ora esse tiranete da Palestina ao serviço dos romanos morreu em 4 a.C.

O mais provável, dizem os historiadores, é que José e Maria, muito grávida, tenham ficado em casa de parentes. Não há nos Evangelhos originais (que terão sido escritos 50 anos depois da morte de Cristo) qualquer menção a estalagens. E a manjedoira, caso tenha existido, foi porque o quarto de hóspedes não tinha uma cama a mais. E toda a gente dormia em cima de palha naqueles tempos. Não era sinal de miséria ou falta de abrigo. Só os muito ricos dormiam em colchões de penas.

Quanto aos presentes, todos sabemos que são uma alegoria do ouro, mirra e incenso que os Reis Magos teriam trazido ao Cristo recém-nascido. Mas a tradição de dar presentes no dia de Natal só existe em alguns países. Noutros, como na vizinha Espanha, as trocas de lembranças são feitas a 6 de Janeiro, o “dia de Reis”. O porquê desta data, perdeu-se nos tempos. É completamente aleatória. Aliás os “reis”, segundo a Bíblia, eram “magos”, isto é, académicos. Conheciam a profecia de que quando aparecesse um cometa nasceria o Salvador. E encontraram-no quando ele foi levado ao templo, em Jerusalém, como era tradição levar os recém-nascidos. Numa data posterior, evidentemente. O povo da Palestina nunca aceitou esta versão, como sabemos. Até hoje os judeus continuam à espera do seu Salvador, que só surgirá quando o Estado de Israel for instaurado e o Templo de Salomão reconstruído. Se falta muito ou pouco, perguntem aos muçulmanos...

Ultimamente, quer dizer, desde meados do século XIX, o Presépio começou a ser lentamente substituído pela árvore de Natal – em Portugal ainda se fazem os dois. Ora, o pinheiro decorado com bolinhas e estrelinhas é uma tradição popular alemã, do século XVI, trazida da Dinamarca pagã. Foi levada para a Grã Bretanha pela princesa alemã Charlotte, quando se casou com George III, em 1800, e era só erigida pelas classes superiores. Foi o Príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória, que a tornou popular entre a classe média, por volta de 1840. Os pobres nessa época limitavam-se a ir à igreja no Natal. E em casa dormiam em palha, o ano inteiro. Na América do Norte a tradição também foi instituída por soldados alemães estacionados no Quebeque, em 1790.

Mas o grande concorrente do Menino Jesus tem sido, evidentemente, o Pai Natal.

Em alguns países é conhecido como São Nicolau, que foi bispo de Myra, agora na Turquia, em 270 a.C. Era muito bom e gostava particularmente de dar presentes às crianças – diz-se, porque a documentação da época é mais mítica do que histórica. Mas também foram os alemães e os ingleses que o foram buscar para o folclore natalício, no século XIX.

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E foi já no final desse século que surgiu o Pai Natal nas lojas – nas grandes lojas de departamentos norte-americanas – a receber os pedidos das criancinhas. Aliás, os correios de todos os países têm um serviço no Natal para tratar das cartas que lhe são enviadas!

Porque é que o Pai Natal se sobrepõe cada vez mais ao Menino Jesus como símbolo natalício? É uma boa pergunta. Por um lado, porque há uma dessacralização da sociedade; por outro, porque é mais fácil colocar um velhote simpático vestido de vermelho a anunciar produtos e a apaparicar as crianças do que um recém-nascido. E as crianças sentem mais empatia por um velhote generoso, colorido e bem disposto, ao lado de uma árvore brilhante de cor e luz, do que por um estábulo com um burro e uma vaca...

Há países onde o Natal não existe, evidentemente. Não é feriado, nem festa religiosa ou ocasião de presentear, mas a sua simbologia muito forte chega mesmo às paragens mais inusitadas. Nos países árabes, por exemplo, as pessoas – só homens, pois claro – reúnem-se nos cafés a bebericar e trocar larachas (mas isso eles já fazem o ano inteiro...) No Brasil, e no hemisfério Sul em geral, outro exemplo exótico, as decorações de Natal são feitas com neve, trenós e renas, apesar de se estar em pleno Verão e de ninguém ter visto uma rena na vida.

Mas estas incongruências não interessam. O que interessa é que o Natal, mesmo afastado da sua ideia original e transformado numa grande oportunidade comercial, é uma altura de festa e de reunião das famílias. Não será mais religioso, mas tem uma aura de magia. Todos os males deste mundo ficam de parte e celebra-se a felicidade. Esses valores são certamente muito positivos e, espera-se, têm um futuro promissor.

Portanto havemos de desejar sempre: Feliz Natal e muitos presentes no sapatinho!