A série “Septologia”, ‘magnum opus’ de Jon Fosse, está organizada em sete partes, distribuídas por três livros, o primeiro dos quais é “O outro nome”, contendo a primeira e segunda partes.
Neste livro, editado pela Cavalo de Ferro e traduzido do norueguês por Liliete Martins, acompanha-se dois dias consecutivos na vida do seu narrador, um velho pintor viúvo e solitário, de nome Asle.
O ano está a acabar, é final de outono, perto do Advento, e Asle está parado defronte da sua última tela. Interroga-se se estará pronta, se gosta dela ou se a levará juntamente com as outras treze obras que preparou para a sua próxima exposição em Bjørgvin.
É o início de uma longa meditação sobre o seu passado de jovem pintor sem dinheiro, a relação com Ales, a sua falecida mulher, e a conversão tardia ao catolicismo.
Mas em Bjørgvin vive outro Asle, tão real quanto aquele, também ele pintor, também ele solitário, mas dependente do álcool.
São duas histórias de vida que se cruzam – luz e sombra, fé e desespero – com divergências e convergências, que o autor vai encaminhando para um encontro decisivo.
Os dois homens são uma espécie de sósias, duas versões da mesma pessoa, em caminhos diferentes.
Este é apenas um dos “pares” a marcar esta narrativa, que está estruturada em duas partes, cada uma das quais a começar da mesma maneira – com o protagonista a refletir como terminar a sua pintura - e a terminar também da mesma maneira – a meio de uma oração em latim.
A história é narrada num fluxo de consciência, como uma única frase sem interrupções, deslocando-se entre a primeira e a terceira pessoa, jogando com a subjetividade e a noção do eu.
Segundo a crítica, esta obra constitui um dos pontos cimeiros da carreira de Jon Fosse, dramaturgo, poeta, ensaísta, autor infantil e romancista, que ganhou quase todos os prémios na Noruega.
Nascido em 1959, em Strandebarm, no oeste da Noruega, é principalmente conhecido pelas peças de teatro que tem escrito ao longo da vida e que lhe granjearam já comparações a nomes como Ibsen, pelos elementos de severidade na escrita, e Beckett, pelo uso de repetição insistente.
Considerado um dos mais importantes e celebrados autores vivos, Jon Fosse é um autor de culto na Noruega e tem direito a viver numa residência honorária nas propriedades do Palácio Real de Oslo, chamada “Grotten”, uma espécie de distinção pela grandeza do seu trabalho.
Estreou-se em 1983 com o romance “Raudt, svart” (“Vermelho, preto”) e, entre os vários prémios que recebeu ao longo da sua carreira, contam-se o Prémio Internacional Ibsen, o Prémio Europeu de Literatura e o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico.
A sua extensa obra encontra-se traduzida em mais de quarenta línguas, estando atualmente a ser editada em Portugal pela Cavalo de Ferro, que já publicou anteriormente “Manhã e Noite” e “Trilogia”.
Sob outras chancelas, foram também publicados em Portugal "A Noite canta os Seus Cantos", "Inverno", "Lilás", "Conferência de Imprensa e Outras Aldrabices", "Sou o Vento", "Sono" e "O Homem da Guitarra", nos Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos, o romance "É a Aless", nos Livros Cotovia, e, num só volume, "Sonho de Outono" e "O Nome", pela Campo das Letras.
“O outro nome” foi nomeado para o prémio Booker Internacional 2020, e Jon Fosse é recorrentemente apontado como um dos candidatos ao Prémio Nobel da Literatura.
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