Oficialmente, o último dia de trabalho de Margrethe II será a 14 de janeiro, tal como anunciado na mensagem de Ano Novo da monarca.

No discurso, a rainha referiu a cirurgia a que foi sujeita, afirmando que esta "naturalmente levantou a questão de pensar no futuro e se era tempo de deixar a responsabilidade para a próxima geração. Assim, decidi que é tempo. No dia 14 de janeiro de 2024, após 52 anos da minha sucessão do meu amado pai, abdicarei de ser Rainha da Dinamarca. Deixarei o trono para o meu filho, o Príncipe Herdeiro Frederik".

Margrethe II tem atualmente 83 anos e assumiu o trono em 1972, sendo hoje em dia a monarca com mais tempo no poder na Europa, depois da morte de Isabel II de Inglaterra, em setembro de 2022.

Com a abdicação da mãe, como sempre em questões reais, surge um grande tema. Afinal quem é Frederik, o próximo Rei da Dinamarca?

Conhecido como o “party prince” (ou "príncipe das festas", em tradução livre), frequentou a Universidade de Aarhus e tirou um mestrado em ciências políticas em 1995.

Durante os seus estudos, passou um período em Harvard, nos Estados Unidos, onde se matriculou sob o pseudónimo de Frederik Henriksen, por oposição ao apelido da família Glücksburg, uma homenagem ao pai, o diplomata francês Henri de Monpezat, que se tornou príncipe consorte Henrik quando se casou com Margrethe, em 1967.

Mais tarde, serviu a marinha dinamarquesa, onde era conhecido como “Pingo” – um nome que, segundo o The Mail, foi conquistado depois de um fato de mergulho se encher de água durante um curso de mergulho e ter tido de ser movimentar como um pinguim.

Apaixonado pelo ambiente, tal como Carlos III do Reino Unido, o príncipe herdeiro impôs-se discretamente à sombra da mãe extremamente popular, defendendo a Dinamarca e o seu esforço para encontrar soluções para a crise climática.

“Quando chegar a hora, guiarei o navio”, disse ele num discurso comemorativo dos 50 anos no trono da mãe em 2022.

“Vou segui-la como seguiu o seu pai” na liderança da instituição de 1.000 anos, acrescentou o Príncipe Frederik na altura, algo que está prestes a acontecer nas próximas semanas.

Casamento real Dinamarca
Casamento real Dinamarca créditos: AFP

A sua mulher, a australiana princesa Mary, futura rainha, cresceu na ilha da Tasmânia e trabalhava como advogada quando os dois se conheceram em 2000, num bar em Sydney, durante os Jogos Olímpicos.

Casaram a 14 de maio de 2004 na Catedral de Copenhaga e têm quatro filhos: Christian, de 18 anos, Isabella, de 16, e os gémeos Vincent e Josephine, com 12 anos.

Sempre preocupados em dar aos filhos uma educação tão normal quanto possível, todos estudam em escolas públicas.

Familia Real Dinamarca
Familia Real Dinamarca créditos: AFP

Frederik tem atualmente 55 anos, fala inglês, francês e alemão e no ano 2000, participou numa expedição de esqui de quatro meses e 3.500 km (2.175 milhas) pela Gronelândia. Este lado mais aventureiro acabou por o levar ao hospital após acidentes de trenó e scooter, mas a sua popularidade disparou, impulsionada pela Royal Run, as corridas anuais pela Dinamarca que começou em 2018 e hoje são uma tradição no país.

“Ele não era propriamente um rebelde, mas quando criança e jovem, sentia-se muito desconfortável com a atenção dos média e com o conhecimento de que seria Rei”, disse Gitte Redder, especialista na família real dinamarquesa, citada pela AFP.

Ele só “ganhou confiança aos 20 e poucos anos”, acrescentou.

Segundo o canal britânico BBC, ao contrário da tradição real britânica, não haverá cerimónia formal de coroação para o príncipe herdeiro Frederik. Em vez disso, a sua ascenção ao trono será anunciada pela primeira-ministra, Mette Frederiksen, no próprio dia, no Palácio de Christiansborg, em Copenhaga.

Depois deste anúncio formal, o novo monarca dos dinamarqueses passa a ser Rei da Dinamarca e chefe de estado no país, bem como da Gronelândia e das Ilhas Faroe.

Ao contrário de outras casas reais da Europa que muitas vezes sofrem crises de popularidade, a casa real da Dinamarca é maioritariamente consensual, sendo que numa sondagem de 2022, realizada pelo jornal Jyllands-Posten, 72% dos dinamarqueses afirmaram apoiar a monarquia. O mesmo acontece num inquérito de 2023 da televisão TV2, onde 78% afirmaram esperar que a Dinamarca ainda tivesse uma monarquia dentro de 50 anos, acima dos 67% numa sondagem de 2015.

Esta é uma estatística bastante mais animadora quando comparada com os 62% dos britânicos que apoiam a manutenção da monarquia, de acordo com uma sondagem recente do YouGov.

Com a abdicação de Margrethe II não será apenas o filho mais velho a ter uma alteração de título, segundo anunciado pela Casa Real, na tarde de terça-feira, dia 2 de janeiro.

"No domingo, 14 de janeiro de 2024, Sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro assume o trono dinamarquês como Sua Majestade o Rei Frederik X. Ao mesmo tempo, Sua Alteza Real a Princesa Herdeira passará a ser conhecida como Sua Majestade a Rainha Mary. O casal real será conhecido daqui em diante pelos título de Rei e Rainha da Dinamarca. Sua Alteza Real o Príncipe Christian torna-se herdeiro do trono e será daqui em diante referido como Sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro Christian. Depois da sucessão ao trono, Sua Majestade a Rainha continuará a ser Majestade e a usar o título de Sua Majestade a Rainha Margrethe", referem em comunicado.

Recorde-se que Frederik tem um irmão, o príncipe Joachim, um ano mais novo. Em 2022, a rainha retirou os títulos reais dos quatro filhos do príncipe, afirmando na altura que esta era "uma prova necessária da monarquia para o futuro".

A mudança não afetou os filhos do príncipe herdeiro, que mantêm todos os seus títulos, nem afetou a linha de sucessão.