O Teatro da Trindade foi um projeto do empresário teatral, dramaturgo e poeta Francisco Palha (1826-1890), que abriu portas em 1867, "quase paredes-meias com o Teatro do Ginásio, criando um interessante triângulo na zona do Chiado, complementado com o Teatro de S. Carlos", e que recebeu "louvores à sua elegância, modernidade e inovação", afirma Paula Gomes Magalhães, na obra "Teatro da Trindade - 150 anos. O Palco da Diversidade".
O teatro foi, na sua abertura, "o mais moderno e afrancesado" da capital, tendo como alvo o público da "burguesia endinheirada, cuja afirmação passava também por encontrar um espaço que a definisse enquanto classe em ascensão".
Em 1867, entre as inovações que apresentava, refira-se um sistema de ventilação, que "renovava o ar a todo o momento", a colocação de publicidade no pano de boca e frisas que ocultavam quem estava lá dentro, apesar de todos ficarem depois à porta a ver quem saía.
Estas frisas "com reixas de madeira dourada" serviam especialmente as famílias enlutadas ou que por "outras conveniências sociais" não podiam ir ao teatro, que se tornava cada vez mais um hábito de lazer e convívio social.
O teatro foi edificado segundo traço de Miguel Evaristo, mas ao longo de 150 anos foi tendo alterações, nomeadamente o espaço autónomo que foi o Salão Trindade, onde Eça de Queiroz localiza uma das cenas - a da gala - do seu romance "Os Maias" (1888), e que entre outras atividades acolheu as conferências de Serpa Pinto, em 1879, no mesmo ano em que foi apresentado o fonógrafo de Thomas Edison.
A autora realça a "inteligente relação deste espaço com a sala de teatro propriamente dita", que funcionavam de forma autónoma, mas se complementavam.
Atualmente, "a animação da sala [do Trindade] volta a fazer lembrar os dias de reinado das operetas e revistas, a diversidade que sempre caracterizou o espaço assume uma matriz assente no equilíbrio entre o teatro, a ópera e a música, de modo a chegar a todas as pessoas e ser ao mesmo tempo espaço de experimentação e criação", escreve a Paula Gomes Magalhães, investigadora do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutoranda em Estudos de Teatro na mesma faculdade.
O Teatro da Trindade, ao longo das décadas, recebeu distintas companhias, nomeadamente a Velasco, Bataclan, Robles Monteiro-Rey Colaço, a de Lucília Simões, a de Palmira Bastos, Os Comediantes de Lisboa, Teatro Nacional Popular, A Cornucópia, a Companhia Portuguesa de Ópera, além de bailados, e de espetáculos de nomes como Josephine Baker e as muitas atividades da ex-Federação Nacional da Alegria no Trabalho (FNAT) à qual deu lugar a atual Fundação Inatel.
No prefácio, a atriz Inês de Medeiros, antiga diretora do teatro, afirma que "o sonho de Francisco Palha foi sempre sendo cumprido e permanece intacto", sublinhando "a proximidade com o público, todos os públicos".
"A diversidade da sua programação, a promoção da criação nacional e a sua capacidade de inovação fazem com que este palco mantenha uma relação profundamente afetiva, de confiança e fidelidade com todos os portugueses ", refere.
O livro é publicado pela Fundação Inatel, proprietária do teatro, e pela Guerra e Paz.
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