Shigetaka Kurita ainda não acredita: quando no final dos anos 90 rabiscou 176 símbolos rudimentares no papel, não imaginava que um dia os seus "emojis" iriam fazer parte do modo de comunicação digital de praticamente meio mundo.

"Criei aquilo que eu próprio queria ter: algo que acrescentasse sentimentos às curtas e frustrantes mensagens escritas", explica o criador japonês de 44 anos, que na época trabalhava na NTT DoCoMo.

Foram lançados inicialmente no mercado, em 1999, pela empresa de telecomunicações japonesa onde Kurita estava empregado e os primeiros emojis eram imagens bastante simples de 12x12 pixeis. E no pacote não estava disponível um variadíssimo leque de opções como agora se conhece: havia apenas um 'smile', um boneco de neve, corações e um telemóvel da época.

Kurita conta à AFP que se sente "honrado" por estar exposto no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) e que os emojis são "uma evolução dos Kanji (ideogramas), transformados em pictogramas coloridos na era digital".

Revelou ter-se inspirado na manga (banda desenhada japonesa) durante o processo criativo e que contendo os emojis "uma origem japonesa, não esperava que as pessoas no estrangeiro os adotassem".

Reafirmar o lado humano

Do coração ao guarda-chuva, da taça de Martini ao 'smile', "estas modestas obras de arte plantaram as sementes que permitiram o incrível desenvolvimento de uma linguagem visual", resume Paul Galloway, um dos responsáveis do MoMA.

Doze anos depois do seu nascimento no Japão, a febre emoji tomou conta do mundo quando a Apple os integrou à biblioteca de carateres do iPhone, em 2011.

Desde então, tem-se verificado um crescimento exponencial do número destes símbolos, que dão vida, alegria e emoção às conversas escritas. A título de exemplo, pode-se fazer referência ao caso de Andy Murray. O atual número 1 do ranking do ATP descreveu ao mundo o dia do seu casamento recorrendo apenas a emojis, na sua conta pessoal do Twitter.

Galloway considera que o recurso às imagens é algo necessário no meio digital porque permite "reafirmar o lado humano num universo profundamente impessoal e abstrato".

No entanto, não é o único a considerar que assim seja.

"Os emojis permitem que uma mensagem informal transmita emoções e sentimentos que são difíceis de transmitir pela escrita", confirma Marcel Danesi, professor de semiótica na Universidade de Toronto e autor de um livro (The Semiotics Of Emoji, 2016) sobre o tema.

"Também permitem comprimir a informação, ganhar espaço e, sobretudo, acrescentam um tom não conflituoso à mensagem", como se "apaziguasse as relações, acabando por não dar oportunidade para que sejam criadas potenciais tensões".

Para a posteridade 

"Um 'smile' no início e no final de uma mensagem garante que ela será lida num estado de ânimo positivo, quer seja utilizado um tom de ironia ou de acusação", elucida Shigetaka Kurita. Depois, pergunta: "Como é que uma mensagem pode ser negativa se tiver um coração"?

Danesi adverte para a existência de uma "certa ambiguidade" em alguns casos. Nem sempre é fácil comunicar com imagens porque a conotação de cada símbolo pode variar, por exemplo, de cultura para cultura.

Mas será esta uma forma de linguagem a utilizar para todo sempre? O semiólogo não está totalmente certo de que "os emojis, tal e qual como os conhecemos hoje, durem para toda a eternidade". Porém, admite que o nascimento de "uma escrita híbrida" que mistura signos clássicos e símbolos visuais é um "marco" que vai ficar para a história.

Quem não acredita na extinção dos emojis é o homem que lhes deu vida e que atualmente ocupa um alto cargo na empresa japonesa de serviços on-line Dwango. 

"Pergunto-me como é que vão ser daqui a 50 ou 100 anos. Mas não acredito que desapareçam".