O biólogo David Carrier, autor principal do estudo publicado na revista digital Biology Open, sustenta que manter os calcanhares no chão permite ter mais força de balanço, uma vantagem, diz, em caso de confronto, sugerindo que os comportamentos agressivos podem ter desempenhado, em parte, um papel importante na definição da postura dos humanos.

Carrier tem estudado como os animais se movimentam e o que a mecânica do movimento indicia sobre o curso da evolução de uma espécie.

O investigador admite que a agressão física não será o único traço de comportamento que terá influenciado a evolução dos pés humanos, mas entende que os resultados dos testes que fez com voluntários são consistentes com a hipótese de que a necessidade de lutar teve um papel fundamental na anatomia.

David Carrier e outro cientista, Christopher Cunningham, da Universidade da Geórgia, também nos Estados Unidos, conduziram uma experiência para avaliar a força de rotação exercida pelos pés.

Para isso, usaram uma placa para registar a força imprimida no chão por pessoas quando batiam e empurravam um pêndulo grande e pesado. Mediram também a velocidade que os participantes transmitiram ao pêndulo, juntamente com a resistência do pêndulo à aceleração.

Doze voluntários bateram e empurraram o pêndulo com os calcanhares fixos no chão e levantados, seja com um pé ou com os dois.

Os comportamentos associados à luta que foram estudados incluíram o bater e o empurrar em várias direções.

Numa fase seguinte, as pessoas foram convidadas a empurrar o pêndulo com os pés sobre uma folha de 'teflon' (material não-aderente utilizado em utensílios de cozinha) e de meias calçadas. O resultado foi que simplesmente giraram no sítio porque ficaram sem capacidade para exercer uma força de rotação no chão.

Em ambas as situações, a força aplicada foi maior na postura plantígrada (em que os voluntários apoiavam toda a planta dos pés ao pisar o chão) do que na digitígrada (em que apoiavam apenas os dedos dos pés no chão), o que confirma, segundo os cientistas, a hipótese de que ter 'os pés bem assentes na terra' permite aos humanos, mas também aos grandes símios e aos ursos, por exemplo, exercerem mais força e energia sobre o solo, uma vantagem na luta.

"A forma dos nossos pés é uma de uma série de traços anatómicos distintivos, desde o rosto aos calcanhares, que aumenta o desempenho na luta", defendeu David Carrier.