Com texto de Mário Botequilha, autor de “Al Pantalone”, que recebeu o prémio do público do Festival de Almada, em 2014, e prémio nacional da crítica da Associação Nacional de Críticos de Teatro, no mesmo ano, “Feira dell´Arte” é um texto que fala de um consumista nato, Pantalone, dos seus criados Columbina e Zanni, da sua filha Isabel e do seu apaixonado Octávio.

Com o nome original “Delírios dell’Arte”, este projeto do Meridional estreou-se em 2001, depois de, no ano anterior, ter cortado a ligação com a companhia homónima espanhola e decidido dar novo impulso à ‘commedia dell’arte’, explicou aos jornalistas Miguel Seabra, encenador da peça e que, com Natália Luiza, dirige a companhia com sede na rua do Açúcar, em Lisboa.

Entre a rouloute das farturas, a barraca da louça de barro e a tenda de roupa, os atores vão “vestindo” uma série de personagens numa comédia em que o riso surge de piadas subtis e, muitas vezes, subliminares.

Columbina e Zanni são os criados de Pantalone, homem que, de moeda em moeda, fez fortuna sem deixar de ser um consumista nato.

Os jovens namoram há dez anos e, para Columbina, chegou a hora de se casarem.

Zanni, porém, não parece ter sentido ainda o apelo do casamento, pelo que vai sempre adiando, para um amanhã que não chega, o dia de ‘dar o nó’ com Columbina.

Enquanto isso, Isabela, filha de Pantalone, apaixona-se por Octávio, filho de uma família rival de Pantalone.

E quando as personagens parecem ter encontrado a felicidade para logo a perderem, eis que a peça se encaminha para um final próprio de ‘commedia dell’arte’.

Com esta peça, o Teatro Meridional inicia o 26.º ano de vida “a falar de temas sérios a brincar, mas com muita ironia”, disse Miguel Seabra.

“Feira dell’arte” tem, contudo, aliterações evidentes de encenação, elenco, desenho de luz, espaço cénico e figurinos, face à primeira versão, sendo ainda marcado por um cunho de contemporaneidade política, disse Miguel Seabra.

Nesta versão da companhia com sede no Beco da Mitra, é inevitável não comparar Pantalone com aqueles que definem o jogo da economia neoliberal.

“Entendemos que a ‘commedia dell’arte’, com o seu humor estonteante e a sua corrosiva acutilância política, continua a ser determinante no nosso processo de trabalho enquanto companhia, e este texto especificamente – que releva um jogo de teatro dentro do teatro -, mais um gesto que une inteligência com o mais puro prazer da fruição artística, num espetáculo cuja diversidade de códigos, textual e gestual, e a energia que lhe subjaz, permite ter um conjunto alargado de segmentos de público, capazes de o fruir a vários níveis”, refere o diretor da companhia.

Miguel Seabra assina também o desenho de luz da peça e o espaço cénico, este em parceria com Vítor Alves da Silva, igualmente responsável pelos figurinos. A interpretação é de Emanuel Arada e Rosinda Costa.

A música original e o espaço sonoro são de Rui Rebelo.

No Meridional, a peça estará em cartaz a partir de quarta-feira, até 03 de junho, com espetáculos de quarta-feira a sábado, às 21:30, e, ao domingo, às 17:00.