O recital, “Homenagem a Liszt — A transcrição como forma de transcendência musical”, no grande auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), realiza-se no âmbito dos 150 anos do nascimento de José Vianna da Motta, e é a recriação da evocação dos 14 anos da morte Franz Liszt (1811-1886), promovida por Busoni e Vianna da Motta em Weimar, na Alemanha, em 1900.
O recital no CCB é comentado pelo docente do Conservatório da Metropolitana, Bruno Caseirão, doutorando em Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e investigador do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Segundo informação do CCB, Caseirão está a preparar um volume dedicado a José Vianna da Motta (1q868-1948) para a coleção “Essencial”, da Imprensa Nacional.
O programa do recital, tal como o realizado há 118 anos em Weimar, abre com “Eine Faust Symphonie nach Goethe”, de Franz Liszt, segundo transcrição para dois pianos do compositor, que o CCB aponta como “obra tutelar da cultura ocidental”.
A segunda parte é constituída pelas obras de Liszt “Variações sobre um tema de Bach: Weinen, Klagen, Sorgen, Zagen”, por António Rosado, e Fantasia e Fuga sobre o Coral “Ad nos, Ad salutarem undam”, segundo transcrição por Ferruccio Busoni, interpretado por Artur Pizarro. Estas são “duas monumentais transcrições para piano solo”, sentencia o CCB.
Finalmente, a terceira parte é preenchida pela Sinfonia n.º 9 em ré menor, de Ludwig van Beethoven, segundo transcrição para dois pianos por Franz Liszt, uma “versão muito admirada e mais conseguida do que aquela que realizou para piano solo, quer pela sua capacidade de evocar o ambiente sinfónico original, quer pela recriação de texturas, dinâmicas, cores, inclusive do equilíbrio entre a parte coral e orquestral”.
Sobre o recital de 1900, afirma o CCB que Ferruccio Busoni(1866-1924) “era como que o alter-ego de Vianna da Motta, um verdadeiro titã do piano e compositor inovador de génio”, tendo ambos realizado “em conjunto múltiplos projetos, mas nenhum deles com a dimensão monumental e pantagruélica” deste recital em Weimar.
Vianna da Motta era “considerado, no seio dos alunos de Liszt, a par de Eugen d’Albert (1864-1932), como o melhor de entre estes”.
Artur Pizarro, nascido há 50 anos em Lisboa, tocou pela primeira vez em público aos três anos e apresentou-se na televisão portuguesa aos quatro. Foi a sua avó, a pianista Berta da Nóbrega, quem lhe despertou o gosto pelo piano.
Com atuações regulares no estrangeiro, é o único pianista português que venceu o Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, o que aconteceu em 1987, tendo sido discípulo, durante 17 anos, do pianista José Sequeira Costa, atualmente com 89 anos.
Sequeira Costa, em declarações à agência Lusa, em julho de 2007, afirmou que, “além das bases que tem, Pizarro é um inovador ao procurar sempre novas formas de interpretação, quando a maioria segue modelos pré-estabelecidos e não tem imaginação”.
Quanto a António Rosado, a diretora artística do Festival de Sintra, Gabriela Canavilhas, definiu-o como “o maior pianista português da atualidade”.
Rosado, no passado dia 07, tocou em Madrid com a Orquestra Sinfónica Metropolitana de Lisboa, com o mesmo programa que apresentou, no passado domingo no CCB.
O pianista estreou em Portugal, entre outras peças, as Sonatas de Enescu e Paráfrases de Liszt, tendo sido o primeiro pianista português a realizar as integrais dos Prelúdios e também dos Estudos de Claude Debussy. Rosado fez igualmente a integral das sonatas de Mozart.
A sua estreia em palco aconteceu aos quatro anos. Iniciou os estudos musicais com seu pai, e prosseguiu-os no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, onde terminou o Curso Superior de Piano, com 20 valores.
Em 1980, estreou-se em concerto com a Orchestre National de Toulouse, sob a direção de Michel Plasson.
Sobre António Rosado, a revista francesa Diapason afirmou que é um “intérprete que domina o que faz” e “tem tanto de emoção e de poesia, como de cor e de bom gosto”.
O pianista tem atuado regularmente, tanto em salas nacionais, como além-fronteiras.
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