[O Francisco tem 19 anos, estuda nos Países Baixos e está em viagem com um passe de Interrail que o vai levar por esta Europa fora e este é o seu diário de viagem publicado no SAPO24]
Dia 13 (21 de julho) Dica #15 para futuros viajantes (já vai em tantas?): ter dinheiro no cartão, mas também na carteira. Parece muito mais prático andar apenas com o cartão multibanco, mas, da mesma maneira que em alguns locais só aceitam cartão (certos hostéis ou restaurantes, por exemplo), noutros é obrigatório pagar em espécie (feiras da ladra ou em algumas lojas).
É a nossa última manhã em Berlim, infelizmente. O grupo parece não querer acordar. Tomamos o pequeno-almoço (os sacrifícios que temos de fazer…!) e, finalmente, experimento as mini-panquecas, depois de esperar que um miúdo alemão se sirva de... seis. Fico-me pelas duas, até porque o almoço não tarda, e sirvo-me também de um pão, ovos mexidos e uma fatia de fiambre.
O workshop dá-nos a conhecer todas as oportunidades que existem além do DiscoverEU para jovens dos 13 aos 30 anos de idade. E é tanta, mas tanta coisa…
À história repete-se, estão todos atrasados para o último workshop. Não posso dizer que não os compreendo. A grupeta do meu quarto chegou ontem do casino bem depois da meia-noite, (quase) toda muito alegre. Wenjiu perdeu os vinte euros que apostou, mas Pavel ganhou vinte e cinco euros. Os italianos também chegaram tarde, embora tenham ficado a rondar os bares perto do hostel, depois de não terem chegado a acordo sobre que discoteca visitar (Amelia, no quarto das italianas, lembra-se de acordar com um rapaz qualquer que uma delas resolveu levar para dormir).
Desta vez o workshop dá-nos a conhecer todas as oportunidades que existem além do DiscoverEU para jovens dos 13 aos 30 anos de idade. E é tanta, mas tanta coisa…Para começar, programas de intercâmbio, do secundário a estágios de trabalho, sem esquecer o típico semestre de Erasmus. Está tudo nos websites das agências nacionais Erasmus - e são 26 mil milhões (!!!) para estes projetos entre 2021 e 2027 -, cabe a cada um de nós procurar a informação certa e utilizar esse dinheiro em seu benefício.
Fico a saber que há uma coisa que se chama Corpo de Solidariedade Europeu, do qual nunca tinha ouvido falar, e que é uma ótima forma de ganhar experiência através de voluntariado de curto/médio prazo, onde quer que seja na União Europeia, com benefício também para as comunidades locais. Qualquer um pode juntar-se e até criar o seu próprio projeto e obter financiamento da UE, desde que consiga justificar o que o liga aos valores da União.
Vale a pena ficar a saber mais sobre o que é possível fazer com o apoio da UE. A sério, há uma data de dinheiro à espera de ser gasto
Finalmente, a Eurodesk, uma associação internacional sem fins lucrativos criada em 1990, que funciona como rede europeia de centros de informação europeus, nacionais e locais para jovens. Um poço de oportunidades. Vale a pena visitar o site e ficar a saber mais sobre o que é possível fazer com o apoio da UE. A sério, há uma data de dinheiro à espera de ser gasto.
O workshop, o último evento do meet-up, acaba de forma querida, com a oportunidade de todos escreverem cartas uns aos outros, mas também a si mesmos. Amelia e eu (escrevi cinco por falta de tempo para mais) saímos do encontro com um envelope cheio delas!
O almoço no hostel é fusilli à bolonhesa. Nada mau. A realidade bate à porta quando vejo alguns membros do grupo a sair do hostel já com a trouxa às costas. Não tarda é a minha vez. Antes, tempo para fazer alguns planos: o Sonntags-Karaoke no Mauerpark acontece aos domingos, como o nome indica, mesmo a tempo de passarmos por lá antes de apanhar o comboio para Amesterdão, que parte pouco depois das 16:00.
Tenho logo a intuição que, por este andar, vale mais a pena ir ver a feira do que esperar pelo karaoke
Chegamos a tempo de ver um artista fazer alguns truques no pequeno anfiteatro: fogo, balanço, a cena toda. Dá uma nota de cinco a uma rapariga da assistência e diz aos pais que agora devem retribuir-lhe o gesto com uma nota de vinte. Risos por todo o lado. O karaoke começa às três, esperamos mais um pouco.
No máximo, temos de sair do Mauerpark pelas três e meia. Com companhia de última hora, já que Zet, Ines e Laura se juntam a nós. Ficamos a saber que há uma feira da ladra mesmo ao lado - e "das boas", garante Ines. Tenho logo a intuição que, por este andar, vale mais a pena ir ver a feira do que esperar pelo karaoke. Assim é. A feira é, em geral, um tanto carota, mas ótimas oportunidades. Faço várias compras, entre elas uns óculos de sol novos, giríssimos, por 15€.
Regressamos ao karaoke e são já 15:20. Música, nada. Vê-se um ou outro amplificador, mas nenhuma indicação de que a coisa está para breve. Decidimos dizer auf wiedersehen [adeus] aos amigos que fizemos e a Berlim e retomar mais uma etapa da viagem.
Na estação principal, desesperamos à procura de um local onde seja possível encher as nossas garrafas de água. Sem casas de banho à vista e com um supermercado apinhado, a decisão passa por pedir ajuda numa loja de donuts. Funciona. Arre, já me estava a sentir seco como um bacalhau.
Meio-acordados, vemos a paisagem holandesa, plana e chuvosa - que bom saber que os meus novos óculos de sol vão ter bom uso em Amesterdão
Andar pelos corredores estreitos da carruagem com toda a bagagem também é um desafio. Atrás de mim, Amelia tenta segurar pontas da mochila para esta não bater em quem está ao lado. Passamos sem exagero quinze a vinte minutos nesta dança antes de encontrar a carruagem certa e os nosso lugares - que comboio longo!
A viagem corre bem. O comboio parece estar um pouco atrasado, mas recupera o tempo perdido nos Países Baixos e chega ao destino antes da hora prevista. Meio-acordados, vemos a paisagem holandesa, plana e chuvosa - que bom saber que os meus novos óculos de sol vão ter bom uso em Amesterdão, onde chegamos perto das dez e meia da noite - e temos ainda uma pequena viagem num “sprinter” (comboio urbano) até Breukelen, mais perto da casa da Paula e do Harry, em Vinkeveen, onde vamos ficar.
Cinco estrelas é muito pouco para esta receção de boas-vindas
Paula é portuguesa e vive nos Países Baixos há quase 30 anos. Harry é holandês. São amigos da minha mãe, incansáveis e queridíssimos, e ficam todos contentes assim que nos veem sãos e salvos. Estas crónicas são uma das primeiras coisas que Paula menciona (olá, Paula, um beijo muito grande!) enquanto carregamos as malas e sacos no porta-bagagens do seu carro.
Querem saber tudo sobre a nossa viagem, mas eles próprios chegaram há pouco de Inglaterra, da Cornualha, e têm muito para pôr em dia, de arranjos na casa a consultas médicas. Mas recebem-nos como príncipes (até nos pedem a roupa suja para lavar e secar) e até o cão, Teun, parece ter alguma inveja. Cinco estrelas é muito pouco para esta receção de boas-vindas. Amelia diz que agora percebe a minha reação quando, em Cracóvia, a sua tia-avó nos preparava belos manjares sempre que regressávamos a casa. Estes mimos não têm preço.
Aconchegados, vamos dormir. Sem colegas de quarto surpresa pela manhã, sem horários a seguir. Uma delícia.
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