“A ideia é mostrar que qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa sozinha. Sinto nostalgia por quando as pessoas costuravam as suas próprias roupas. Não acredito na ideia de novidade na moda. Esta conceção é errada. A moda já não pode trazer nada de novo, esse é um falhanço da indústria. Não precisamos de roupas novas. Precisamos de fazer roupas. Isso é diferente de fazer moda”, explicou, em entrevista à agência Lusa, o autor que vai apresentar o trabalho na sexta-feira e no sábado.
Nesta primeira coprodução internacional do Teatro Municipal do Porto, o Palácio da Bolsa vai receber um desfile “das mais efémeras roupas que podem existir” porque, no palco, quatro ex-modelos internacionais celebrizadas nos anos 1980 vão transformar em roupa pedaços de tecido, sem botões ou costuras, e assim passar em revista a história da moda.
“Pedi à minha assistente para contar todos os desfiles de moda em Paris, Milão, Roma, Nova Iorque e Milão. Em cada coleção, ou seja, duas vezes num ano, existem 400 desfiles de moda. Isto corresponde a mais de 14 mil peças de roupa. Não acredito que precisemos deste número de roupas em cada estação”, notou Olivier Saillard.
O convite para o autor de “Models Never Talk” levar ao Porto uma das suas 'performances' partiu de Tiago Guedes, diretor do Teatro Municipal do Porto, e Olivier Saillard fez questão de preparar um trabalho novo, porque a sua não é uma “companhia de teatro normal”.
Na 'performance', as intérpretes Christine Bergstrom, Axelle Doué, Claudia Huidobro e Anne Rohart vão encher-se de cor, ao contrário do que acontecia em "Models Never Talk", em que estavam vestidas de preto.
“Elas tentam improvisar para procurar formas e roupas, mas não temos botões, fechos, pontos ou costura. São as roupas mais efémeras que podemos encontrar no mais efémero desfile de moda”, descreve Saillard.
A intenção, descreve o criador, é também viajar até ao tempo em que “o verdadeiro início de um desfile se centrava nos tecidos”.
“Estamos num mundo muito estranho. Estamos sempre a falar de moda, de criadores, etiquetas e marcas, mas nunca falamos dos tecidos, das cores. Para os mais importantes designers, esse é o verdadeiro início do trabalho”.
A 'performance' é, também, um “manifesto pela beleza natural”. A idade das modelos não interessa, “não é uma questão”, porque elas são “bonitas independentemente da idade”, explica o autor. “São naturais”, destaca.
O Porto é um “sítio interessante” para lançar este “SOS ao mundo da moda”: “Não é cidade de que se fale por causa da moda. Isso é tranquilo, fresco, calmo. Gosto da ideia de não estarmos demasiado dentro do império da moda”.
"Couture Essentielle" é apresentado no salão árabe do Palácio da Bolsa, hoje às 21:30 e no sábado às 19:00.
A sessão de hoje inclui uma conversa pós-espetáculo entre Saillard e a diretora do Museu do Design e da Moda, Bárbara Coutinho.
Comentários