SÁBADO, 14 DE OUTUBRO

PRÓLOGO

As ampolas de vidro transparente estavam no armário trancado ao lado das seringas descartáveis e dos respetivos contentores — morfina e OxyContin para as dores fortes, propafenona para as arritmias cardíacas e o anticoagulante Pradaxa, selado com segurança em pequenas caixas e envolvido em plástico transparente: medicação convencional no departamento de Cardiologia do Hospital Nacional de Copenhaga, caminhos para o alívio e para uma melhor qualidade de vida, às vezes até mesmo para uma cura.

A enfermeira lançou um rápido olhar sobre os medicamentos e fez contas de cabeça. Quanto pesaria ele? O peso do paciente estava indicado no quadro branco na cabeceira da cama, mas ela estava demasiado exausta para o ir verificar.

A noite tinha-se arrastado por uma eternidade. Pouco antes de o turno terminar, no dia anterior, alguém ligara a dizer que estava doente e ela acabou por ter de fazer um turno duplo. Em vez de passar uma noite em casa com a família, trabalhou durante quase dezasseis horas. O seu cérebro ecoava sinais de alarme, solicitações e perguntas de pacientes ansiosos. Os pés doíam-lhe nos sapatos ergonómicos e o seu pescoço estava rígido.

Bocejou, esfregou os olhos e observou o seu reflexo na porta de metal brilhante do armário de medicamentos. Nenhuma mulher de 32 anos deveria ter olheiras crónicas. Este trabalho estava a esgotá-la.

Faltava apenas uma hora para o fim do seu turno e ela poderia ir para casa dormir, enquanto as crianças se levantavam e comiam Coco Pops em frente à televisão.

Selecionou três ampolas, colocou-as no bolso da bata e trancou o armário atrás dela. Três ampolas de 10 ml de ajmalina, de 50 mg/ml, bastariam. O paciente não pesaria mais de 68 quilos, mais ou menos, o que significava que 30 ml do medicamento antiarritmias seria o dobro da dose máxima recomendada. O suficiente para lhe causar uma paragem cardíaca imediata e libertá-lo do seu sofrimento. E de todos nós, pensou ela, saindo pelo corredor vazio pela manhã em direção ao quarto número oito. O velhote era exigente. Era mal-educado e rude, e queixava-se de quase tudo, desde o café fraco do hospital até à arrogância dos médicos. Toda a enfermaria estava cansada da sua rabugice.

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia e por Elisa Baltazar, co-fundadora do projeto de escrita "O Primeiro Capítulo”.

Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar à leitura e à discussão à volta dos livros. Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

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Ela sempre fora do tipo de dizer o que pensa e agir perante qualquer situação, nada que a tornasse popular, mas que mais poderia fazer? Ficar de braços cruzados e queixar-se dos rácios de pessoal e da escassez de camas como os seus colegas? De forma alguma! Não se tornara enfermeira apenas para servir café e fazer curativos. Ela queria fazer a diferença.

Uma empregada de limpeza, de lenço na cabeça e expressão abatida, empurrava o carrinho pelo corredor sem levantar os olhos do piso de linóleo. A enfermeira passou por ela com as ampolas escondidas no bolso. O seu ritmo cardíaco acelerou. Em breve, atuaria, utilizaria toda a sua competência e tentaria salvar uma vida. A antecipação começou a palpitar nela, como se tivesse pulsação própria, uma vida para contrabalançar o vazio que normalmente a preenchia. Nesse momento, seria indispensável. As expectativas seriam altas, muito dependia de si. Nesse momento, ela seria Deus.

Trancou a porta da casa de banho dos funcionários, limpou rapidamente as mãos e a bancada ao lado do lavatório com álcool e colocou as ampolas de ajmalina cuidadosamente lado a lado.

Com dedos experientes, removeu a seringa descartável da sua embalagem e puxou o êmbolo para retirar o remédio, sacudindo-o por instinto, para se certificar de que não continha bolhas de ar. Amassou a embalagem numa bolinha e enfiou-a no fundo do caixote do lixo. Depois, com a seringa escondida no bolso da bata, abriu a porta.

Diante da sala oito, lançou um olhar discreto para o corredor; não havia sinal de colegas ou pacientes em direção à casa de banho. Empurrou a porta e entrou na escuridão. Um ronco baixo vindo da cama informou-a de que o paciente estava a dormir. Poderia trabalhar em paz.

Aproximou-se da cama, olhando para o velhote, deitado de costas com a boca ligeiramente aberta. Grisalho, ossudo e seco, com uma pequena bolha de saliva no canto da boca, um leve tremor involuntário nas pálpebras. Existe algo, pensou, mais supérfluo neste mundo do que velhos rabugentos?

Abriu a tampa do cateter venoso que adornava as costas da mão dele e tirou a seringa do bolso. Acesso direto ao sangue que flui para o coração, porta aberta para a ponta do dedo estendido de Deus.

O bom da ajmalina é que age rapidamente; a paragem cardíaca ocorreria quase instantaneamente. Ligou a seringa ao cateter, sabendo que apenas teria tempo de a esconder antes de que o alarme do monitor fosse ativado.

O paciente mexeu-se um pouco durante o sono. Ela acariciou-lhe suavemente a mão. Depois, empurrou o êmbolo completamente.

SEGUNDA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO

CINCO DIAS ANTES

CAPÍTULO 1

— Ugh, que porcaria!

Frederik limpou a água da testa e voltou a colocar o boné na cabeça. Puxou o capuz da capa de chuva, certificou-se de que o saco debaixo do assento estava fechado e partiu na bicicleta. Sair da cama era sempre difícil quando o alarme tocava às cinco e quinze da manhã, mas algumas manhãs eram piores do que outras. Esta manhã, a chuva torrencial tornava difícil lembrar por que motivo concordara com esta rota de entrega de jornais. Seis dias por semana, quinze prédios no centro de Copenhaga, 620 lances de escada para subir e descer. Infelizmente, era a única maneira de ganhar dinheiro para a sua viagem de estudo do segundo ano. E ele não ia ficar de fora.

O ponto de distribuição desapareceu na escuridão, atrás dele, enquanto galgava sobre os paralelepípedos. O telemóvel no bolso bombava música nos seus ouvidos e reenergizava-o: I got my black shirt on, I got my black gloves on. Mesmo à chuva, sabia bem ter a rua comercial de pedestres mais movimentada da cidade só para ele. Ergueu-se nos pedais e deslizou ao longo da Strøget até à velha praça do mercado, Gammeltorv, e a nova praça do mercado, Nytorv, que se abria dos seus dois lados. O bairro estava cheio de edifícios de apartamentos revestidos a estuque com janelas de vidro, pinázios e calhas em cobre, no momento a transbordar com a chuva de outono, árvores transplantadas e bancos icónicos de Copenhaga com lixo enfiado entre as suas ripas verde-escuras. As colunas cor de areia do tribunal municipal da cidade pareciam brilhar na escuridão da madrugada, uma justaposição moral aos antigos pubs de cave do outro lado da praça. Durante o dia, as duas praças serviam de centro para estafetas de bicicletas, turistas e pessoas que vendiam joias de níquel baratas. A esta hora, estavam completamente desertas.

Frederik saltou da bicicleta e encostou-a à fonte no meio da praça. Retirou os auriculares e apalpou o bolso do casaco para ter a certeza de que tinha moedas suficientes para um pãozinho de canela quente. Ao passar pela fonte, lançou um rápido olhar para a superfície da água, ondulante com as gotas de chuva na escuridão.

Havia alguma coisa na água.

Com frequência, havia alguma coisa dentro da água. Todos os dias, os funcionários da cidade pescavam latas de cerveja, sacos de plástico e sapatos curiosamente solitários.

Mas isto não era um sapato.

Frederik cambaleou. A três metros dele, na fonte mais antiga de Copenhaga, uma pessoa flutuava de bruços e braços abertos. As gotas de chuva atingiam as costas nuas dessa pessoa com um ruído inocente, salpicando no ar como centenas de pequenas fontes privadas.

Por um segundo, Frederik não se conseguiu mover. Estava paralisado, como naqueles pesadelos dos quais às vezes acordava triste por ser já demasiado crescido para ser consolado pela mãe.

— Socorro! Olá? — gritou roucamente e de forma incoerente. — Está alguém dentro da água!

Sabia que devia saltar para a fonte e virar o corpo, aplicar os primeiros socorros, fazer alguma coisa, mas a urina quente que lhe escorria pelas pernas acentuava a sua impotência. Frederik olhou para o corpo dentro da fonte. Desta vez, percebeu realmente o que estava a observar. Nunca tinha visto uma pessoa morta.

Com as pernas a tremer, correu para a loja de conveniência aberta vinte e quatro horas. As portas automáticas abriram-se, o cheiro de canela e manteiga atingiu-o no momento em que avistou a empregada loura a cantarolar. A água caía-lhe nos olhos pela viseira do boné, e ele limpou-a, água fresca e salgada.

— Socorro, raios! Chame a polícia!

A empregada olhou para ele com os olhos arregalados. Depois, largou a bandeja de pãezinhos de canela e pegou no telefone.

*

Chovia a cântaros em Copenhaga, distorcendo os contornos dos telhados e as fachadas em reboco. O céu descarregava cascatas de uma água quente extemporânea e certeira sobre os guarda-chuvas e paralelepípedos da Praça do Mercado Velho.

O investigador Jeppe Kørner semicerrou os olhos e decidiu arriscar uma olhadela rápida para o cimo. Nem um único pedaço reconfortante de céu claro no horizonte. Talvez o mundo realmente estivesse a dissolver-se, os oceanos a reivindicar as últimas massas de terra remanescentes. Enxugou o rosto com a mão molhada, conteve um bocejo e baixou-se para passar sob a fita que barricava o local do crime. A água perpassou pelas costuras para o interior dos seus ténis, que agora faziam ruído a cada passo.

Através de lençóis de chuva, viu silhuetas miseráveis envoltas em plástico a erguer as coberturas do pavilhão ao redor da fonte, do género das que as pessoas alugam para festas de jardim na esperança de não precisarem delas. Jeppe apressou-se a entrar no pavilhão mais próximo em busca de abrigo e olhou para o relógio. Já passava um pouco das sete e o Sol nascia algures atrás das nuvens de chuva, não que isso fizesse muita diferença. Hoje, a luz do dia não passaria de vários tons de cinzento.

Um corpo nu flutuava na fonte à sua frente, refletindo a iluminação de trabalho colocada no local do crime. Jeppe observou a cena enquanto vestia um fato de proteção por cima das roupas molhadas. O corpo estava deitado de bruços, como um mergulhador no Mar Vermelho. O corpo de uma mulher, pelo que ele conseguia perceber, pela largura dos ombros e a curvatura das costas. Nua, de meia-idade, cabelo escuro com alguns fios grisalhos, o couro cabeludo apenas visível entre as mechas molhadas.

— O nome da fonte é Caritas, sabias disso?

Jeppe virou-se e ficou cara a cara com o técnico de cena do crime J. H. Clausen. O capuz do seu fato de proteção azul delineava um rosto enrugado, fazendo-o parecer um gnomo de jardim molhado dentro de um fato espacial enorme.

— Vais gostar de saber que a resposta é não, Clausen. Eu não sabia disso.

— Caritas significa «caridade» em latim — explicou Clausen, enxugando as sobrancelhas espessas e sacudindo a água das mãos. — É por isso que a figura em cima é uma mulher grávida. O símbolo do altruísmo, é isso.

— Estou mais interessado em saber por que razão há um corpo dentro na fonte — Jeppe apontou com a cabeça em direção à fonte. — Que temos aqui?

Clausen olhou em redor e encontrou um guarda-chuva encostado numa das pernas do pavilhão. Abriu-o e deu um passo para o céu aberto de modo hesitante.

— Maldito tempo, condições de trabalho impossíveis — murmurou. — Anda!

Jeppe, sendo alto, tinha de andar inclinado para ficar sob o guarda-chuva de Clausen. Na borda de pedra da fonte, pararam para observar o corpo. Gotículas escorriam-lhe pela pele branca, fazendo com que parecesse uma estátua de mármore. Um fotógrafo da polícia tentava encontrar ângulos viáveis enquanto protegia a câmara da chuva.

— O médico legista precisará, obviamente, de retirá-la da fonte para fazer uma autópsia antes de podermos dizer algo sobre ela — começou Clausen. — Mas é uma mulher, branca, de estatura média. Acho que tem cerca de 50 anos.

Uma rajada de vento empurrou suavemente o corpo, depois pairou sobre eles para o outro lado da fonte.

— Foi encontrada por um distribuidor de jornais às cinco e quarenta da manhã — continuou Clausen. — A chamada para os serviços de emergência foi feita da loja de conveniência da esquina dois minutos depois. Os socorristas que apareceram arrastaram-na para a beira da fonte e tentaram reanimá-la de acordo com o protocolo. Não sei por que razão o corpo ainda não foi retirado da água. O distribuidor de jornais e a funcionária da loja estão sentados dentro da loja com um oficial, à espera de serem entrevistados. A funcionária chegou às cinco da manhã e tem a certeza de que não havia nada dentro da fonte naquela altura, por isso o crime deve ter ocorrido entre as cinco e as cinco e quarenta desta manhã.

— Estás a dizer que esta é a cena do crime? — Jeppe puxou o capuz para trás para ter uma melhor visão da grande praça pública. — Ela foi morta no meio da Strøget?

Clausen virou-se para Jeppe, o que fez com que o guarda-chuva que ele segurava muito acima das suas cabeças se inclinasse. A chuva caiu sobre os dois. O cabelo de Jeppe ficou imediatamente encharcado.

— Oh, desculpa, Kørner, pelo amor de Deus! Molhaste-te? Bem, estou a ser impreciso. Ela dificilmente poderia ter sido morta aqui, por uma série de razões.

— Eu acho que seria muito arriscado…

Jeppe tentou ignorar as gotas de chuva a escorrerem-lhe pela nuca e para o interior da sua capa de chuva.

— Sim, o risco de alguém passar seria muito grande. O simples facto de alguém ter ousado atirar um corpo para a fonte da Praça do Mercado Velho é… bem, está além da minha compreensão — Clausen abanou a cabeça, perplexo. — Mas essa não é a única razão. Consegues ver aquelas pequenas incisões na pele à frente dos braços? Estão voltadas para a água, por isso são difíceis de ver.

Jeppe semicerrou os olhos para ver melhor através da chuva. A balançar na superfície da água, um padrão simétrico de peque- nos cortes paralelos era visível nos pulsos, cortes abertos de carne esbranquiçada. A imagem de uma baleia a apodrecer na praia passou pela mente de Jeppe e ele dissimulou o seu desconforto.

— Não há sangue na água?

— Exatamente! — Clausen assentiu com a cabeça. — Deve ter sangrado muito, mas não há sinal de sangue, nem na fonte nem ao redor dela. Teríamos encontrado algum se ela tivesse morrido aqui, apesar da chuva. Ela morreu noutro lugar.

— Há muitas câmaras de vigilância de onde podemos recuperar gravações — Jeppe olhou para as fachadas das velhas casas. — Se o assassino se livrou do corpo, deve haver imagens disso.

— Se? — Clausen parecia indignado. — Ela não se cortou e depois saltou nua para dentro da fonte, isso posso garantir-te.

— Com que é que foram feitos os cortes?

— Ainda não sei dizer. Nyboe precisa de colocá-la na marquesa primeiro — exclamou Clausen, referindo-se ao professor Nyboe, o médico patologista forense, que geralmente acompanhava as autópsias em casos de homicídios graves. — Mas independentemente disso, a arma do crime não está aqui na praça. Os cães estão à procura há meia hora e não encontraram nada. Além disso, não há sinal das suas roupas.

Algo zumbiu no bolso de Jeppe. Limpou a mão na parte de trás das calças e tirou com cuidado o telemóvel. Vendo mãe no ecrã, recusou a ligação. Que queria ela agora?

— Por outras palavras — perguntou ele —, alguém trouxe um corpo nu para o meio de Strøget e o atirou para a fonte esta manhã?

— Parece que sim — respondeu Clausen, com uma expressão de pesar, como se fosse parcialmente responsável pelo cenário absurdo.

— Quem diabos faz isso? — Jeppe esfregou os olhos inflamados. Dormia pouco e, nas poucas horas que dormira, tinha andado às voltas na cama. Lidar com uma mulher morta numa fonte não era exatamente o modo como tinha imaginado passar o dia.

A letra desconexa da irritante canção sobre a chuva dos Supertramp passou pela sua cabeça: Oh no it’s raining again. Too bad I’m losing a friend. Se ao menos Jeppe pudesse escolher a música que o seu cérebro cansado tinha para atormentá-lo. Normalmente, trechos de música pop ultracomercial passavam num loop contínuo sob os seus pensamentos quando estava stressado. It’s raining again. Oh no, my love’s at an end. Jeppe puxou o capuz de volta para cima e caminhou até à loja de conveniência, onde o distribuidor de jornais estava à espera.

*

O choro era insuportável. Um lamento persistente e indefeso na mesma frequência de gritos de terror ou de uma broca de dentista. O pior som do mundo.

A detetive Anette Werner virou-se e fechou os olhos com força. Svend estava com a bebé; esta era a sua oportunidade de recuperar um pouco do sono que não tinha conseguido dormir na noite anterior. Colocou uma almofada sobre a cabeça para bloquear o barulho. Tentou pensar em algo de que não desistiria por uma noite de sono ininterrupto, mas não lhe ocorreu nada.

O choro misturou-se com a voz tranquilizante de Svend na divisão ao lado. Se ao menos ele fechasse a porta… Talvez ela devesse levantar-se para a fechar? De qualquer maneira, precisava de fazer chichi. Antes do dia 1 de agosto teria ignorado a bexiga cheia e dormido, mas agora já não podia contar que o seu corpo, massacrado pelos seus 44 anos, fizesse a sua parte.

Anette sentou-se com dificuldade e passou as pernas pela beira da cama. Quando é que esta ressaca permanente, este estado de jet lag, terminaria?

Levantou-se lentamente, cada articulação do seu corpo resignando-se, aos poucos, ao peso daqueles ossos, que já não eram sustentados por músculos fortes. Os seios doíam-lhe. Olhou para baixo e notou que, mais uma vez, se tinha esquecido de tirar os sapatos na noite anterior. Depois, arrastou-se como um zombie pelo piso alcatifado, passando pelo quarto da bebé no caminho para a casa de banho. Como é que Svend conseguia estar tão calmo e otimista? Trancou a porta e olhou-se ao espelho.

Pareço uma morta-viva, pensou, sentando-se na sanita. Quem me dera estar morta.

Isto foi mais ou menos o que tinha pensado há um ano, quando descobriu que estava grávida.

Não iriam ter filhos, acordaram isso havia muito tempo. Simplesmente, não era para eles. Em vez disso, iam concentrar-se em ser os pais dos cães mais adoráveis do mundo.

Por volta do seu quadragésimo aniversário pararam de falar sobre crianças. Ironicamente, pode ter sido por isso que se tornaram descuidados com o controlo da natalidade; a ideia de que o sexo poderia levar à paternidade escapara de alguma forma das suas cabeças. Durante muito tempo, Anette pensou que estava doente, que tinha herdado o coração fraco do pai e que a sua pulsação acelerada corria em direção a uma operação de bypass ou um pacemaker. Os resultados dos exames de sangue pedidos pelo médico foram um alívio. E um choque.

Quem me dera estar morta.

Tirando isso, as coisas tinham corrido bem a partir daí. Inesperadamente, Svend ficou muito feliz com a notícia e nunca questionou a perspetiva da paternidade. A gravidez passou sem contratempos. A ecografia do primeiro trimestre parecia ótima, o parto, em si, foi rápido e descomplicado. Anette desafiou todas as probabilidades de tudo correr mal e bateu todos os recordes concebíveis para primeiras gravidezes de mães com mais de 40 anos. Mas quando a sua pequena bebé lhe foi colocada nos braços, arranjada e limpa, e imediatamente começou a mamar, Anette não sentiu nada. A vinculação, que deveria ocorrer instintivamente, teve de ser forçada, e o amor era, de alguma forma, difícil de sentir. Para ela, pelo menos.

Para Svend, foi diferente.

Nos últimos dois meses e meio, o seu amor pelo novo e minúsculo ser humano tinha-se tornado cada vez mais forte. A expressão no seu rosto quando pegava nela ao colo! Os olhos a brilhar de orgulho.

Svend nadou como um peixe na vida familiar e já era mais pai do que qualquer outra coisa. Anette estava a tentar; estava mesmo. Se ao menos não estivesse tão exausta o tempo todo... Amparou os cotovelos nas coxas, inclinou-se para a frente e apoiou as mãos na testa.

— Querida, estás a dormir?

Anette ergueu a cabeça com um puxão, o pescoço tão tenso, que imediatamente sentiu ali uma dor a chegar. A voz de Svend vinha do corredor. Devia estar parado do lado de fora.

— Estou a fazer chichi — respondeu. — Não podes esperar, tipo dois minutos?

Ela percebeu a irritação na sua própria voz; o mesmo ressentimento que frequentemente testemunhara noutras mulheres, mas raramente se manifestava nela. Agora, era como se não conseguisse livrar-se disso. Levantou-se, lavou as mãos e abriu a porta.

— Ela está com fome. É por isso que não se acalma. Vê, está a torcer-se!

Svend levantou gentilmente a filha e beijou-a na testa antes de a passar a Anette. Ela estendeu os braços e sentiu o espasmo de medo já familiar de deixar cair uma vida delicada ao chão. As pessoas que comparam ter cães a ter filhos não sabem nada, pensou, embora tivesse sido uma delas até há dois meses e meio.

Olhou para a bebé a chorar nos seus braços.

— Estou com saudade dos meninos — disse ela. — Quando vamos buscá-los?

— Os cães vão ficar bem na casa da minha mãe durante mais algumas semanas — disse Svend, olhando-a com preocupação. — Fazem passeios na floresta três vezes por dia. Precisamos de nos concentrar na pequena Gudrun agora.

— Para de a chamar assim! Ainda não decidimos um nome.

Anette passou pelo marido com uma brusquidão que o forçou contra a parede do corredor estreito do lado de fora da casa de banho.

— Eu pensei que querias que o nome dela fosse Gudrun.

— Vou sentar-me no carro para a amamentar — disse Anette, dirigindo-se para a porta da frente. — E, por favor, não digas nada. Apenas prefiro estar lá fora.

Bateu a porta atrás de si, o mais forte que pôde, com a bebê nos braços, correu à chuva até ao carro e abriu a porta. A bebé parou de chorar, talvez por causa da sensação inesperada da água da chuva a bater-lhe no rosto.

O carro tinha um cheiro familiar e seguro, a trabalho e a cães. Anette pôs-se à vontade, puxou a blusa e colocou a filha num seio inchado. A bebé pegou e começou a sugar imediatamente, acomodando-se. Anette expirou profundamente e tentou livrar-se da sensação persistente de stresse no corpo. Limpou carinhosamente uma gota de chuva da testa da bebé e acariciou-lhe o couro cabeludo macio. Quando ela ficava assim, quieta e em paz, a parentalidade era boa. O choro e as batalhas noturnas é que eram difíceis de suportar. E a licença de maternidade. Anette sentia falta do trabalho.

Olhou para a casa. Svend, provavelmente, estaria a aspirar ou a limpar. Com um empurrão rápido, abriu o porta-luvas e tirou o rádio da polícia. Na verdade, deveria estar no posto de carregamento da sede da polícia, mas Anette ainda não tinha conseguido ir lá deixá-lo. Seria apenas uma questão de tempo até que alguém percebesse que o rádio estava em falta e o desativasse, mas, enquanto não dessem conta, aproveitá-lo-ia. Verificou se o volume estava baixo, para não assustar a bebé, e ligou-o. O familiar som estático causou-lhe uma onda de emoção na boca do estômago.

A Casa das Borboletas
créditos: Minotauro

Livro: “A Casa das Borboletas"

Autor:Katrine Engberg

Editora: Minotauro

Data de lançamento: 21 de outubro

Preço: €16,61

E precisamos de uma escolta para a defunta na Praça do Mercado Velho em Copenhaga. Vamos transportar a vítima, de onde ela foi encontrada, para o centro de traumatologia, para fazer a autópsia. Manteremos barreiras em Frederiksberggade e ao redor da Praça do Mercado Velho, até que os técnicos do local do crime da NKC Este terminem de recolher as provas e os resultados…

Um homicídio na Praça do Mercado Velho? Os seus colegas da sede da polícia devem estar a investigar isso. Anette estremeceu, sentindo-se dorida. Por que motivo algo tão natural como amamentar tinha de doer tanto?

Precisamos de obter imagens de vigilância de todas as câmaras da área. Uma equipa de investigação liderada pelo Investigador Kørner será responsável por isso…

Investigador Jeppe Kørner, que trabalhava na unidade de crimes contra pessoas, secção 1, mais conhecida como Homicídios. O parceiro dela.

Kørner e Werner, agora sem Werner. Werner, agora sem trabalho. Anette desligou o rádio.

*

— Alguém sabe o porquê da demora de Saidani? — perguntou Jeppe de forma casual, mexendo nos cabos do computador, de costas para os colegas.

Por norma, era ele quem tinha mais probabilidade de saber onde estava a detetive Sara Saidani, já que passara a maior parte da noite na sua cama, mas — tinham concordado —, por enquanto, esse detalhe não dizia respeito ao resto da equipa de Homicídios.

— Talvez tenha uma filha doente, como de costume? — supôs o detetive Thomas Larsen. — Rubéola? Peste? Aquelas crianças estão constantemente a inventar algo que a impede de vir trabalhar.

Num arco perfeito, atirou para o lixo o copo de papel de onde acabara de esvaziar o dispendioso café de takeaway. Larsen não tinha filhos nem desejava ter — uma posição que não hesitou em partilhar com os seus colegas.

Jeppe olhou para o relógio por cima da porta. Eram 10h05.

— Teremos de começar sem ela — afirmou.

Certificou-se de que o computador estava ligado e ajustou o brilho da imagem que piscava diante dele no ecrã plano da sala de reuniões. Depois, virou-se e fez sinal com a cabeça para os seus doze colegas que estavam à espera, de cadernos no colo e olhos alertas. Uma mulher mutilada encontrada numa fonte em Strøget não era uma ocorrência comum.

— Muito bem! — começou Jeppe. — A chamada entrou na Central às cinco e quarenta e dois da manhã e o primeiro carro-patrulha chegou ao local seis minutos depois. O médico que acompanhou os primeiros socorristas declarou a vítima morta às seis e quinze da manhã — cruzou os braços sobre o peito. — Lima Eleven determinou imediatamente que a morte era suspeita e chamou-nos.

A porta da sala de reuniões abriu-se discretamente e Sara Saidani esgueirou-se e sentou-se numa cadeira. Os seus caracóis escuros brilhavam com a água da chuva, e os olhos cintilavam. Jeppe experimentava uma onda familiar de bem-estar quando ela estava por perto. Sara Saidani, colega da Unidade de Investigação, mãe de duas meninas, divorciada, de etnia tunisina, olhos castanhos e pele cor de mel.

— Bem-vinda, Saidani! — Jeppe olhou para o bloco de notas à sua frente, embora soubesse muito bem o que estava lá escrito. — A falecida foi identificada preliminarmente como sendo a auxiliar de saúde Bettina Holte, 54 anos, residente em Husum. Foi dada como desaparecida ontem, por isso a sua foto está no POLSAS, mas a identificação ainda não foi confirmada.

O POLSAS era o sistema de registo interno de denúncias da polícia, onde todas as informações sobre casos abertos e encerrados eram armazenadas. Parecia sofisticado e eficiente. Não era.

— A família dela foi convocada para uma identificação, por isso teremos uma resposta em breve. O corpo estava nu, deitado de bruços, como se pode ver nesta foto.

Jeppe apontou para a imagem granulada, carregou num botão e fez zoom do corpo branco na água escura.

— De acordo com a declaração de uma testemunha — disse Jeppe —, o corpo não estava na fonte às cinco da manhã, por isso estamos a partir do pressuposto de que ela foi trazida para ali entre as cinco e as cinco e quarenta. Estamos a trabalhar para obter as imagens de todas as câmaras de vigilância…

— Kørner?

— Sim, Saidani?

— Tomei a liberdade de reunir as filmagens das câmaras da cidade naquela área e examiná-las. Foi por isso que me atrasei — Sara Saidani segurava uma pen USB entre dois dedos. — A filmagem da câmara por cima da loja de conveniência é boa. Avança para as cinco e dezassete da manhã.

Jeppe recebeu a pen com um sinal de apreço, abriu o disco e fez fast forward. O ecrã mostrava uma versão acelerada de uma praça pública vazia e escura, sem qualquer movimento além de uma bicicleta a tombar com o vento. Às cinco e dezasseis, Jeppe diminuiu a velocidade da reprodução para a velocidade normal e, após um minuto, uma sombra apareceu no topo da imagem.

— Ele está a vir da Studiestræde, em direção à fonte — disse Larsen com entusiasmo. — O que é que ele está a conduzir?

— Ele ou ela está a guiar uma bicicleta de carga. Prestem atenção! — Sara estalou os dedos com irritação e apontou para o ecrã.

O vulto aproximou-se da fonte e dos postes de iluminação sobre Frederiksberggade. Com certeza, a pessoa montava uma bicicleta de carga e estava coberta com uma capa de chuva de cor escura com o capuz sobre a cabeça. Era impossível saber se era um homem ou uma mulher, ou mesmo um ser humano. A bicicleta estacou junto à fonte e a pessoa desmontou com facilidade, como se o movimento fosse tarefa habitual.

— Desmonta como um homem, balançando a perna atrás do assento disse Larsen; levantou-se e demonstrou o que queria dizer.

Sara referiu rapidamente:

— É assim que eu desço da minha bicicleta também. Isso não significa nada. Agora observa a carga…

A figura com a capa de chuva puxou um pano escuro ou uma capa de plástico da longa plataforma do que parecia ser uma bicicleta de carga. A pele brilhante de um cadáver iluminou-se no escuro. A figura, rapidamente e sem esforço, ergueu-o sobre a borda da fonte. Uma vez que o corpo permanecia na água, a figura manteve-se ali.

Jeppe contou dois segundos, cinco.

— O que está ele a fazer? — perguntou.

— A olhar fixamente — sugeriu Larsen. — A despedir-se.

Após sete longos segundos, a figura escura subiu para a bicicleta de carga e pedalou para longe da fonte, pela mesma direção de onde tinha vindo.

Jeppe esperou um segundo para ter certeza de que não havia mais nada para ver, depois interrompeu a repetição da formalidade. Um assassino numa bicicleta de carga, apenas na Dinamarca! Suspirou.

— Saidani, podias, por favor, enviar a filmagem para os nossos amigos forenses da NKC e pedir-lhes que procurem outras câmaras de vigilância na área para podermos localizar de onde veio o ciclista? Devíamos poder seguir a sua rota pela maior parte da cidade.

Os olhos de Sara pousaram nele a partir da segunda fila de cadeiras. Ela parecia feliz, o rosto a brilhar de entusiasmo. Amor, talvez? Jeppe rapidamente desviou o olhar antes que fizesse um sorriso inapropriado.

— Como sempre, estamos a trabalhar com um como, um porquê e um quem — disse ele. — Falck e eu seremos parceiros; Saidani, ficas com Larsen.

Larsen ergueu os dois braços numa pose de vitória, e Jeppe sentiu uma pontada de irritação por o idiota ter ficado com Sara. Mas não havia maneira de contornar isso. Eles não podiam arriscar que as pessoas comentassem.

— Falck e eu vamos ver a autópsia e depois vamos falar com os familiares próximos de Bettina Holte, supondo, é claro, que seja ela. Saidani, verifica o correio, o telemóvel e as redes sociais como de costume.

Sara assentiu com a cabeça e perguntou:

— Todos os pertences dela desapareceram: carteira, telefone, as roupas que estava a usar?

— Ainda não apareceu nada.

— Pede aos familiares dela que nos entreguem o seu computador e nos deem o seu número de telemóvel, para que eu possa obter o histórico de chamadas. Talvez ela tenha comunicado com o assassino — disse Sara.

— Vou fazer isso — disse Jeppe. — Larsen, trata das testemunhas e fala com os colegas, vizinhos e quem mais possa haver para questionar.

Jeppe olhou ao redor da sala — a sua própria equipa de investigação, acrescida de reforços, prontos para as primeiras vinte e quatro horas de trabalho intensivo para reunir provas.

— Precisamos de fazer uma visita de porta em porta ao redor da Praça do Mercado Velho e questionar quaisquer potenciais testemunhas que encontrarmos em conexão com o crime. Talvez haja um vizinho com insónias que tenha espreitado pela janela às cinco e quinze desta manhã.

Um dos agentes ergueu uma mão gigantesca no ar e assentiu com a cabeça, a luz a refletir-se-lhe na careca. Jeppe reconheceu-o como sendo Morten ou Martin, um dos jovens recentemente contratados.

— Eu vou de porta em porta — ofereceu-se.

— Excelente — exclamou Jeppe. — Vais reportar diretamente ao detetive Larsen. Obrigado.

O calvo Morten, ou Martin, assentiu com a cabeça novamente.

— Precisamos de analisar a bicicleta da filmagem de vigilância. Podemos identificar a marca? Quem a vende? É uma bicicleta semelhante às roubadas nos últimos meses? E por aí fora.

Larsen voluntariou-se, impetuoso e ambicioso como sempre. Jeppe fez sinal com a cabeça para ele e depois olhou para a superintendente sentada na primeira fila.

— Supe, presumo que vai informar a imprensa?

Os seus olhos sombrios encontraram os dele. Supe, como era chamada, vinha ameaçando reformar-se há um longo tempo, mas, pelo que Jeppe sabia, ela estava mais perspicaz e astuta do que nunca. E ele previa que ela iria continuar assim durante mais alguns anos. Supe fez-lhe sinal com o polegar para cima. Considerava as conferências de imprensa apenas um pouco perturbadoras, ao passo que, para Jeppe, eram obstáculos quase intransponíveis.

Ele sorriu para ela com gratidão.

— Alguma pergunta? — questionou ele, olhando ao redor da sala. Os seus olhos pousaram no detetive Falck, que olhava para a mesa à sua frente, como se se esperasse algo dele que não fosse capaz de fazer. Tinha acabado de regressar de uma licença por invalidez relativamente longa devido ao stresse e não parecia estar totalmente em forma.

Falck era um veterano, cujo bigode competia com as sobrancelhas pelo prémio do mais farfalhudo e grisalho. A sua barriga era geralmente controlada por um par de suspensórios coloridos, e o seu ritmo geral de trabalho variava entre o moderado e o passo de caracol.

Jeppe bateu com a mão na mesa e declarou:

— Vamos lá!

Todos se levantaram e caminharam em direção à porta, segurando blocos de notas e copos de café vazios, enquanto conversavam e organizavam os pormenores. Sara Saidani e Thomas Larsen deixaram a sala juntos, Larsen com a mão casualmente pousada no ombro dela. Jeppe passou a língua sobre uma bolha que tinha no interior da bochecha e mordeu-a. Um minuto depois, apenas ele e a superintendente permaneciam ainda na sala de reuniões.

Ela olhou-o com sobriedade:

— Kørner, preciso que me diga que consegue conduzir esta investigação, que está à altura.

— Que quer dizer? Foi você que me escolheu.

— Não estou a questionar a sua competência — afirmou a superintendente, erguendo as sobrancelhas e com elas as suas pálpebras pesadas.

— Então, porque está a perguntar?

— Tenha calma! Só tenho um mau pressentimento acerca deste caso. Não vai ser fácil de lidar ou resolver, e o Jeppe está sem a sua parceira…

Então, essa era a preocupação dela! Que ele não estivesse preparado para liderar uma grande investigação sem Anette Werner ao seu lado. Jeppe sorriu para ela de forma tranquilizadora.

— Pergunto-me se este caso não será resolvido mais rapidamente agora que não tenho a Werner a atrasar-me.

A superintendente deu-lhe uma palmadinha no ombro e saiu da sala. Não parecia estar convencida.