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Agora, Luganov tinha a atenção plena.

Toda a gente emitiu sons de aprovação. No entanto, à medida que Luganov ia explicando o plano, Oleg viu muitas expressões a mudarem, embora discretamente.

O presidente propunha a ocupação da Estónia, Letónia e Lituânia, seguidas pela anexação formal de cada um desses países. Imediatamente a seguir, realizar-se-iam eleições, nas quais os habitantes dos Estados bálticos votariam a favor de uma reintegração na Federação Russa – voluntariamente, insistia Luganov – de modo a poderem «desfrutar de todos os direitos e privilégios de serem cidadãos russos de pleno direito».

É Desta Que Leio Isto: Em janeiro recebemos Dulce Garcia

Anote na sua agenda. O É Desta Que Leio Isto já tem a primeira sessão de 2023 marcada. Dulce Garcia é a convidada do próximo encontro do nosso clube de leitura, a ocorrer no dia 19 de janeiro, pelas 21h.

Nascida em 1970, Dulce Garcia foi jornalista entre 1991 e 2017, escrevendo no Diário Económico e, acima de tudo, na Sábado, publicação de que foi fundadora e subdiretora. Assinou também colaborações nas revistas Elle, GQ, Vogue e Máxima. Hoje, é assessora de imprensa na área da política, trabalhando com o Ministério da Justiça.

A sua experiência na literatura bifurca-se nos dois lados da mesma moeda: foi editora de ficção portuguesa do grupo editorial Planeta e começou a publicar ficção com “Quando Perdes Tudo Não Tens Pressa de Ir a Lado Nenhum”, estreia editada na Guerra & paz em 2017.

Olho da Rua” — o seu segundo romance e uma das recomendações do ano do SAPO24 — trata-se de uma sátira do panorama laboral do século XXI, fazendo do escritório uma selva onde impera a lei do mais forte.

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Luganov explicou que pretendia desencadear a sua blitzkrieg utilizando vinte e sete batalhões – mais ou menos 21 mil soldados – para ocupar a Estónia e a Letónia. Com base nos seus cálculos, acreditava que poderia chegar às capitais Tallinn e Riga e capturá-las em apenas sessenta horas. Disse também que seriam necessários outros quinze batalhões – quase doze mil soldados – para assumir o controlo da Lituânia. Propôs que o ataque fosse lançado através da Bielorrússia e a partir do território russo de Kaliningrado, a ocidente da Lituânia e ao norte da Polónia. Acreditava que precisariam de mais dois dias para tomar e controlar adequadamente a capital lituana, Vilnius.

Chegado a este momento, o presidente abriu uma pasta de cabedal e entregou cópias de um plano de guerra em dez páginas, que ele próprio redigira. Orientou a equipa na leitura do documento. As primeiras páginas definiam objetivos táticos específicos, tais como estradas, centrais elétricas e cidades que precisavam de ser ocupadas, os batalhões que deviam fazê-lo e as datas e horas específicas para tal. Estabelecia também um calendário que quase deixou Oleg de boca aberta. O presidente queria desencadear o ataque o mais tardar até finais de outubro. Ou seja, daí a quatro meses.

As páginas seguintes incluíam mapas e sugeriam rotas de ataque. As últimas duas páginas colocavam perguntas, para as quais o presidente disse esperar respostas pormenorizadas na reunião marcada para o dia seguinte. Luganov perguntava ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros se ele acreditava que o presidente da Bielorrússia concordaria com a realização de manobras militares conjuntas imediatas no território bielorrusso e que tipo de compensações seriam necessárias para obter a adesão de Minsk ao seu plano. Queria saber de quanto tempo necessitaria o ministro da Defesa para organizar manobras militares conjuntas com cem mil ou mais homens na fronteira com a Ucrânia, a fim de desviar as atenções e fazer pensar que ele se preparava, não para uma invasão total dos países bálticos, mas sim da Ucrânia, na esperança de conquistar Kiev, que ele recente e publicamente designara como «a mãe de todas as cidades russas».

Ao chefe da força aérea perguntou quantas esquadrilhas de bombardeiros e de caças poderia deslocar em segurança da Região Militar Oriental, junto à fronteira com a China, para a Região Militar Ocidental sem criar uma vulnerabilidade significativa na frente oriental. Quis também saber quanto tempo seria necessário para efetuar rapidamente aquela movimentação e se poderia ser feita de forma discreta, para não chamar a atenção do Pentágono. Ao diretor do FSB perguntou qual o avanço conseguido no fornecimento sub-reptício de armas automáticas, munições e explosivos aos lealistas russos em cada uma das repúblicas bálticas e se eles dispunham do equipamento de comunicações adequado para serem mobilizados no momento oportuno.

Durante vários minutos, a sala ficou em silêncio e, do ponto de vista de Oleg, bastante tensa, enquanto os homens assimilavam o plano e estudavam as implicações para a nação e para eles próprios. O chefe do exército foi o primeiro a levantar a mão e o presidente pareceu agradado com a pergunta do general.

– Senhor presidente, só para ter a certeza de que entendi bem: está a pedir-nos que ocupemos Tallinn e Riga no espaço de sessenta horas?

A pergunta mostrou que o mais qualificado e experiente comandante do exército ouvia falar do plano pela primeira vez.

– Sim – confirmou Luganov. – E Vilnius em mais quarenta e oito horas.

– Está a pedir-nos que conquistemos e ocupemos três capitais da NATO?

– E que defendam a sua anexação, para que possam ser devidamente reintegradas na Mãe Rússia – acrescentou o presidente.

– Mas não Kiev?

– Não, por enquanto.

– Não seria do nosso interesse capturar antes toda a Ucrânia? – perguntou o general. – Os ucranianos são muito patriotas e combatentes valentes, mas não são membros da NATO. Washington e Bruxelas vão bufar de irritação, mas não farão nada se conquistarmos a Ucrânia. Já fiz exercícios militares em torno desta possibilidade com o meu pessoal. Estou convencido de que poderemos alcançar esse objetivo no espaço de um mês a seis semanas.

A Conspiração do Kremlin
A Conspiração do Kremlin créditos: Clube do Autor

Livro: "A Conspiração do Kremlin"

Autor: Joel C. Rosenberg

Editora: Clube do Autor

Publicação: 11 de janeiro

Preço: €19,50

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– Mas podemos ocupar os países bálticos em quatro dias – respondeu Luganov, com um sorriso raro, mas eloquente.

A sala voltou a ficar em silêncio. Depois, o chefe do estado-maior do exército insistiu.

– Como pode ser do interesse da Rússia, se me é permitido perguntar, provocar um tal confronto com a NATO quando a Ucrânia está ali pronta a ser ocupada e sem risco de infringir o artigo 5?

Oleg viu o sorriso desaparecer instantaneamente do rosto do presidente. O general referia-se ao pacto de defesa mútua que constituía o âmago da carta da Organização do Tratado do Atlântico Norte. O artigo 5 afirmava que os membros da NATO considerariam qualquer ataque contra um Estado-membro um atentado contra todos eles. Qualquer ação hostil contra um membro seu obrigaria, por isso, a Aliança a utilizar o poderio conjunto político, económico e militar para repelir esse ataque. Nenhum Estado repeliria sozinho o Urso russo. Eram um por todos e todos por um. Oleg sabia que, durante a época soviética, tinha sido esta Aliança que impedira os líderes russos de invadirem qualquer parte da Europa, menos ainda desencadear uma guerra com o Ocidente que poderia tornar-se num conflito nuclear. Agora, Luganov propunha-se invadir três países da NATO em simultâneo.

– General, tem medo da NATO? – irritou-se Luganov, o rosto cada vez mais vermelho, ao mesmo tempo que se inclinava para a frente na cadeira. – Eu não tenho. É precisamente o contrário. Acredito que me temem, e com razão. São gordos e preguiçosos. São fracos e estão divididos. Acabou-se o tempo deles. Chegou o nosso. Somos fortes e estamos cada vez mais fortalecidos. Modernizámos as forças estratégicas. Reconstruímos as forças convencionais, enquanto eles reduziram as deles. Por isso, vamos atacar os países bálticos com uma tal velocidade e força que os líderes na Casa Branca e no quartel-general do SHAPE e em todo o globo vão tremer de medo. Nem chegarão a perceber o que lhes caiu em cima. Não se atreverão a ameaçar-nos com uma guerra nuclear, porque sabem que estou disposto a usar o nosso poderio contra eles. E quando esta simples verdade se abater sobre eles, a de que sou um homem de ação e eles são uns cobardes, entregarão os países bálticos sem luta, e isso, meus senhores, será o fim da NATO. Se não acionarem o artigo 5, e garanto-vos que não o farão, terei conseguido uma grande vitória para o nosso povo. Seremos a única superpotência mundial, a única nação do mundo que tem um grande poderio militar e a coragem de o usar. Sozinho, terei poder para impor os termos políticos e económicos ao Ocidente, e nós desfrutaremos de uma riqueza e glória sem paralelo desde a época dos czares.