Em quase sessenta anos de banda — 1969 quando tudo começou — muitas histórias ficam por contar. Zé Couto, teclista dos um dos elementos mais antigos da banda (de sete músicos), recorda uma. A da primeira passagem por Portugal, corria o ano de 1981, na Festa do Avante — que ainda não tinha atravessado o rio e acontecia no Alto da Ajuda — em pleno boom do rock português (Rui Veloso ou os Salada de Frutas, destacavam-se no cartaz).

"Uma banda que veio de um país com uma população de trezentos e cinquenta mil pessoas, na altura, e atuou para uma plateia de trezentos mil", conta. Exagero dos números, talvez. Que a memória guarda a emoção, com menor ou maior precisão de cabeças. "Só por isso foi um estrondo dentro dos nossos sentidos. Quando todo o mundo gritava, sentimos que estávamos nos píncaros do mundo", recorda.

Quase quarenta anos depois, as emoções repetiram-se. Desta vez já no centro de Lisboa, na sala do Teatro São Jorge. "Todo o mundo pôs-se a dançar, tivemos uma reação como se estivéssemos sempre nos palcos de Lisboa", recorda. "É a música que mexe com as pessoas", resume. Mas era também o regresso aos palcos, com o nervosismo da primeira vez. "Toda a malta quis tocar sentada, não se aguentava nas pernas", brinca.

Evento esse, em 2015, comemorativo dos quarenta anos da independência das colónias portuguesas. Período que ditou a banda como "A" voz da independência cabo-verdiana, em 1975. Por essa altura, já não eram apenas o grupo de jovens que anos antes se tinha juntado em torno de um piano Yamaha que veio entre motas importadas do Japão.

A longevidade não é um segredo, é uma "matriz" de coerência em torno de um perfil que a banda estabeleceu. Um padrão que faz com que "quando você ouve, percebe: são Os Tubarões". "Não é uma imposição, é uma forma de estar", que atravessa gerações mesmo dentro da própria banda. Para além disso, contam, nunca aceitaram "fazer da música algo estanque". "Cada dia é um dia. A sociedade está diferente e a música é o reflexo dela".

A música cabo-verdiana espelha isso, "apesar de ter tido algumas mutações em termos de visibilidade", conta Albertino Évora. O vocalista destaca uma juventude "com muita qualidade" e a ajuda que a Internet tem dado. No entanto, a opção pelas carreiras a solo e detrimento das formações coletivas é algo apontado pelo músico como uma mudança no panorama atual.

O grupo "suspendeu atividade" em 1994, quando já tinha oito discos editados. "Suspendeu até uma nova fase", frisa Zé Couto. Por "razões várias, mas justificadas". Uma delas associada a questões financeiras, porque "suportar um grupo destes não custa pouco dinheiro". Mesmo considerando que os elementos do grupo, cada um com a sua profissão, não dependiam monetariamente das atividades da banda. Outra das razões parte daí: os compromissos profissionais individuais levavam a que, por vezes, alguns elementos ficassem impedidos de viajar para a atuar.

No período da "suspensão de 20 anos", a banda viu partir alguns dos elementos, uma das figuras mais emblemáticas, "o front office", d'Os Tubarões. Ildo Afonso, que já tinha abraçado uma carreira a solo durante essa fase, faleceu em 2004. A memória do músico está sempre presente em cada concerto, como está a de todos os elementos que pela banda passaram, frisam os dois Tubarões. "Quando subimos a palco, subimos com a responsabilidade d'Os Tubarões". "Fazer parte deste grupo é defender todo o acervo da sua história", remata Albertino Évora.

Sobre o concerto de hoje, prometem uma "atuação memorável e com muita energia" numa noite que irá revisitar as quase seis décadas de carreira da banda e terá direito a convidado muito especial, Djodje (filho de um ex-guitarrista do coletivo). Acontecendo numa sala de lugares sentados, difícil vai ser resistir ao chamamento da dança e por isso fica o convite para tomar de assalto a dianteira do palco.

Os bilhetes, à venda na ticketline e locais habituais, variam entre os preços 12€ e os 25€.