O novo Papa, o norte-americano Robert Francis Prevost, adotou o nome Leão XIV, um dos nomes mais escolhido entre os líderes da Igreja Católica.

Leão I destacou-se por afirmar com firmeza a autoridade do Papa sobre toda a Igreja, baseando-se na sucessão apostólica de São Pedro. Esta visão teve grande impacto na consolidação do papado como instituição central do Cristianismo ocidental.

Um dos seus contributos mais significativos foi na área da doutrina cristã. Teve um papel determinante no Concílio de Calcedónia, realizado em 451, onde defendeu com clareza a doutrina da dupla natureza de Cristo – plenamente humano e plenamente divino –, uma formulação que se tornaria fundamental na teologia cristã.

Leão I usou a sua posição como papa para se tornar um ator político decisivo numa altura em que as instituições tradicionais ruíam. A sua liderança ajudou a transformar o papado não apenas numa referência espiritual, mas também numa força política autónoma e influente, moldando o papel futuro da Igreja na Europa medieval.

Um dos episódios usado para confirmar esta afirmação aconteceu em 452, quando se encontrou com Átila, o Huno, nos arredores de Roma, e, segundo a tradição, conseguiu persuadi-lo a não invadir a cidade. Este gesto reforçou ainda mais o prestígio do papado, tanto espiritual como politicamente.

É-lhe ainda atribuido outro episódio importante foi a resistência à autoridade de Constantinopla. Leão I afirmou com vigor que tinha primazia sobre todos os outros patriarcas, com base na sucessão de Pedro. Esta posição contrariava a crescente influência da Igreja de Constantinopla no Oriente e teve implicações políticas profundas, já que disputava a centralização do poder religioso no Ocidente, numa época em que o Império estava dividido entre Roma e Bizâncio.

Além disso, soube aproveitar o vazio de poder deixado pelo enfraquecimento do imperador. Em vários momentos, assumiu funções quase civis e diplomáticas, negociando com chefes bárbaros, mediando conflitos internos e afirmando a posição da Igreja como pilar de ordem e autoridade.

Reconhecido pela sua inteligência, diplomacia e fé, Leão I foi declarado Doutor da Igreja e é um dos poucos papas a quem foi atribuído o título de “o Grande”. A Igreja celebra a sua memória litúrgica no dia 10 de novembro.

Um dos nomes mais escolhidos

O nome “Leão” foi escolhido por vários papas — 13 no total — a liderança firme em tempos de crise, tanto no plano teológico como político, tornou Leão I um modelo para os seus sucessores. Escolher o nome “Leão” é, portanto, uma forma de evocar essa herança de autoridade, coragem e defesa da fé. Além disso, o simbolismo do leão — associado à força, à vigilância e até a Cristo, como “leão de Judá” — reforça essa escolha como expressão de poder espiritual.

A repetição deste nome também segue a tradição papal de recuperar nomes de figuras históricas marcantes, sinalizando continuidade com certos valores e épocas do papado. Por fim, “Leão” era um nome com peso na cultura romana, algo significativo numa altura em que a Igreja herdava parte do prestígio do antigo Império Romano do Ocidente.

Os nomes mais escolhidos pelos Papas ao longo da história da Igreja Católica foram João, por 23 vezes, Bento e Gregório ambos por 16, seguidos pelos nomes Clemente e também por Leão, agora com 14.

Entre os nomes mais escolhidos estão também Inocêncio, com 12, Bonifácio com nove e Urbano com oito.

Os cardeais reunidos na Capela Sistina elegeram o 267.º bispo de Roma e também líder da Igreja Católica no segundo dia do conclave.

Robert Francis Prevost, de 69 anos, é o primeiro norte-americano a ser eleito Papa.

Expectativa sobre atenção a questões sociais

Este nome foi usado pela última vez por Leão XIII, pontífice mais conhecido como o autor da encíclica social Rerum Novarum.

Leão XIII, Vincenzo Gioacchino Pecci, nasceu em Carpineto (Itália) em 1810 e morreu em Roma em 1903, tendo sido eleito Papa em 1878.

Foi considerado um pontífice “das encíclicas”, pois publicou dezenas delas, embora a Rerum Novarum, de 1891, se destaque como a primeira grande encíclica social, que analisava a situação das classes trabalhadoras.

Se, como é habitual dizer-se, o nome de um Papa encerra todo um programa, o nome de Leão XIV assumido pelo Papa hoje eleito, pode indicar que as questões sociais, nomeadamente as que respeitam ao mundo do trabalho, estarão entre as preocupações do seu pontificado.

Na introdução da Rerum Novarum, Leão XIII lembrava que, “a sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social”.

“Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos de um pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito”, escrevia o Papa Vincenzo Pecci naquela encíclica datada de 15 de maio de 1891.

Em pleno período pós-Revolução Industrial, Leão XIII assegurava ter-lhe parecido oportuno falar da “Condição dos Operários”, a fim de “pôr em evidência os princípios de uma solução, conforme à justiça e à equidade”.

“O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. E difícil, efetivamente, precisar com exatidão os direitos e os deveres que devem ao mesmo tempo reger a riqueza e o proletariado, o capital e o trabalho. Por outro lado, o problema não é sem perigos, porque não poucas vezes homens turbulentos e astuciosos procuram desvirtuar-lhe o sentido e aproveitam-no para excitar as multidões e fomentar desordens”, escrevia o Papa da transição do século XIX para o século XX.

Muitos consideram que esta encíclica, já com 134 anos, continua atual.

Aquando dos 130 anos, Manuel Pinto, no jornal 7Margens, recordava que “do ponto de vista dos problemas e preocupações enunciados pelo Papa”, alguns temas continuam a ter pertinência.

E como exemplos, apontava “a gravidade de descurar as condições dignas do trabalho operário”, a “importância de se instituir algum tipo de proteção social”, “a preocupação de que no valor do salário se tenha em conta também a família e a sua subsistência” ou “uma atenção especial às condições e exigências particulares do trabalho de crianças e das mulheres, considerando em especial, neste caso, o papel da maternidade”.

Os papas Leão ao longo do tempo

1. Leão I, o Grande (440–461)

  • Um dos papas mais importantes da história.

  • Defensor da primazia do papa sobre os restantes bispos.

  • Encontro com Átila, o Huno (452), evitando o saque de Roma.

  • Papel decisivo no Concílio de Calcedónia (451), afirmando a dupla natureza de Cristo.

2. Leão II (682–683)

  • Confirmou as decisões do Concílio de Constantinopla III, que condenou o monotelismo (heresia sobre a natureza de Cristo).

  • Conhecido por promover o canto litúrgico e a disciplina na Igreja.

3. Leão III (795–816)

  • Coroou Carlos Magno como imperador do Sacro Império Romano-Germânico em 800, restabelecendo a ideia de império cristão no Ocidente.

  • Teve conflitos políticos com nobres romanos, mas reforçou a aliança entre papado e império.

4. Leão IV (847–855)

  • Fortificou Roma para a proteger contra os ataques sarracenos.

  • Fundou a Cidade Leonina, um recinto fortificado em torno do Vaticano.

  • Continuou a reforma da liturgia e da moral do clero.

5. Leão V (903)

  • Pontificado muito breve e conturbado.

  • Foi deposto e preso por um rival (Cristóvão), cuja legitimidade também é disputada.

6. Leão VI (928)

  • Pontificado curto e pouco documentado.

  • Num período dominado pelas famílias nobres romanas.

7. Leão VII (936–939)

  • Teve apoio do imperador Otão I.

  • Promoveu reformas monásticas, especialmente a do mosteiro de Cluny.

  • Tentou mediar conflitos entre facções romanas.

8. Leão VIII (963–965)

  • A sua legitimidade foi muito contestada, pois foi imposto pelo imperador Otão I enquanto o Papa legítimo (João XII) ainda estava vivo.

  • Envolvido nas lutas entre poder secular e eclesiástico.

9. Leão IX (1049–1054)

  • Um dos precursores da Reforma Gregoriana.

  • Combateu a simonia (compra de cargos eclesiásticos) e o nicolaísmo (casamento de clérigos).

  • Envolvido no Cisma do Oriente (1054), que separou as Igrejas Católica e Ortodoxa.

10. Leão X (1513–1521)

  • Nasceu Giovanni de’ Medici, membro da poderosa família florentina.

  • Papa durante o início da Reforma Protestante: excomungou Martinho Lutero.

  • Patrocinou grandemente as artes (foi mecenas de Rafael e outros), mas o seu luxo é frequentemente criticado.

  • O seu pontificado representa o auge do Renascimento papal, mas também o início de grandes tensões religiosas.

11. Leão XI (1605)

  • Pontificado de apenas 27 dias.

  • Era sobrinho do Papa Leão X.

  • Morreu pouco depois da coroação, sem grandes feitos.

12. Leão XII (1823–1829)

  • Conservador, tentou restaurar o poder e a moral católica depois das guerras napoleónicas.

  • Reforçou o ensino religioso e condenou ideias modernas (como a liberdade de imprensa).

13. Leão XIII (1878–1903)

  • Um dos papas mais marcantes da era moderna.

  • Escreveu a encíclica Rerum Novarum (1891), defendendo os direitos dos trabalhadores e posicionando a Igreja sobre a questão social.

  • Procurou reconciliar a Igreja com a modernidade, defendendo o diálogo com a ciência e o pensamento filosófico.

  • Reforçou o ensino tomista (São Tomás de Aquino).

*Com Lusa