Com curadoria do diretor do Museu, João Ribas, do seu adjunto Ricardo Nicolau e de Paula Fernandes, a exposição estará patente até 09 de setembro deste ano, e inclui obras da Coleção, de artistas nacionais e internacionais, passando por nomes de várias áreas artísticas, de Ana Jotta, Albuquerque Mendes ou Paula Rego, a Rui Chafes, Manoel de Oliveira e Richard Hamilton, entre muitos outros.
O objetivo é "apresentar gestos de irreverência ou desobediência na Coleção de Serralves, quer dirigidos a instituições, como a escola ou o museu, ou formas de repressão ou controlo". "Da ironia e do subterfúgio ao desrespeito pelas regras do bom gosto e do comportamento adequado, a exposição explora o potencial de agir contra a norma", pode ler-se na apresentação.
A mostra, explicou João Ribas à Lusa, parte de uma perspetiva pessoal “do que é um museu e uma coleção, esta em particular”, e a forma como as instituições “levam a comportamentos que são de certa forma condicionados”, abordando conceitos de transgressão, rebeldia e desobediência.
“Há uma forma de nos comportarmos num museu, o que é preciso contrariar e trabalhar, bem como a ideia de uma coleção, como a nossa, que tenho acompanhado e investigado. Percebi que havia uma espécie de arquivo de gestos de irreverência e desobediência, quase um fio condutor do incorrigível e ingovernável, que queria abordar”, disse.
O trabalho de curadoria assentou sobre um pensamento “não só sobre a questão do comportamento em termos estéticos, mas também do museu e da curadoria, de como é que o museu e a coleção manifestavam uma série de atitudes reprimidas e que estavam lá manifestadas” e que pretenderam apresentar, até pelas “relações com condições atuais, não só estéticas como políticas”.
Outra das intenções é a de “relembrar o papel fundamental dos artistas em abrir caminhos” e a sua transgressão, até de alguns mais conceituados, como Paula Rego, destacou o diretor.
Entre as obras destacadas por João Ribas está “um dos guiões originais de ‘Aniki Bobó’ [de Manoel de Oliveira], com carimbo da censura, até por ser uma obra que também fala do mau comportamento”, trabalhos do francês Raymond Hains ou ainda uma instalação de João Louro que evoca um acidente de carro, “uma alegoria para o colapso da vida contemporânea, que vive um pós-‘crash’”.
A própria organização física e estrutural da exposição, o “projeto expositivo” que o visitante atravessa, proporciona “uma experiência diferente”, até por poder ver a parte de trás das obras, algo que remete “para as reservas do museu”, e reflete sobre “as arquiteturas do controle e uma tensão entre liberdade de expressão e controlo espacial”.
“A exposição até começa na bilheteira, com uma performance diária que não vou dizer o que é”, atestou o curador, que remete para a vontade de trazer também a “dimensão performativa” para uma exposição que inclui trabalhos de sete décadas, nas áreas de pintura, escultura, fotografia, obra gráfica, cinema, desenho, som e instalação.
Para João Ribas, o museu é a “frente de batalha” de destaque das obras de arte como ferramenta para novas leituras e “formas de expressar e reafirmar a vida pública da imaginação”, algo que deve ser feito “com espírito crítico” do próprio comportamento de programadores.
“Será que o museu, enquanto estrutura, não merece um 0, pela sua relação com a atualidade e com o público?”, referiu o diretor, olhando para “as instituições com olhar crítico”, da qual sai uma possível resposta, a de encarar uma coleção “como uma coisa viva, e um museu como um espaço vivo, em que a dimensão crítica é importante”.
Dentro das obras dos mais de 70 artistas, “muitas das coisas estão a ser mostradas pela primeira vez, que estão nas reservas e nunca tiveram oportunidade”, com a mostra a ter já recebido uma reação das primeiras pessoas a vê-la, que foi “completamente diferente” do normal.
“As pessoas riem, e há outros momentos de relação, sobretudo a sensação de que estamos num espaço diferente, e isso agrada-me imenso”, acrescentou João Ribas, que afirmou ainda ter sentido o mesmo “respeito pelas obras, uma coisa fundamental”, mas outra vitalidade na relação entre arte e público.
A inauguração da mostra teve hoje lugar com uma performance de João Onofre, intitulada “Box sized DIE”, que consiste na criação de um cubo no ‘hall’, dentro do qual “há um espaço acústico” onde atuaram os Holocausto Canibal, banda de ‘death metal’.
A atuação, com o cubo fechado com a banda e o público no interior, remete para a ideia dos limites físicos e constrangimentos ao comportamento, uma vez que a banda “toca até acabar o ar” no interior.
“Zero em comportamento”, nome retirado do título do filme “Zéro de conduite” (1933), do francês Jean Vigo - também esta uma afirmação sobre a desobediência, no caso, no seio do sistema de ensino francês de então -, reúne mais de uma centena de obras da Coleção de Serralves e fica patente até 09 de setembro, no Porto.
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