“O que nós mais encontramos na Ilha Deserta, que não foi nenhuma surpresa, são aves paralisadas, é o que nós chamamos síndrome parético”, adiantou Maria Casero, frisando que se trata de uma síndrome paralisante motivada por “uma intoxicação alimentar que afeta as duas espécies mais comuns de gaivotas, a gaivota de patas amarelas e a gaivota de asa escura”.
A veterinária é a responsável clínica pelo tratamento das espécies recolhidas pelo RIAS para recuperação e eventual libertação na natureza, entidade sediada no Parque Natural da Ria Formosa, em Olhão, e que é parceira do projeto Life Ilhas Barreira, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
Questionada sobre o que está a causar a parálise nessas aves, Maria Casero respondeu que se trata, “em princípio, de uma intoxicação alimentar”, por as “gaivotas estarem a comer ou a beber algo em algum sítio onde há uma toxina”, mas sublinhou que a fonte “ainda não está identificada”.
A responsável destacou que, no âmbito do projeto Life Ilhas Barreira, no que respeita à reabilitação de aves, foi possível melhorar as instalações para aves marinhas, nomeadamente piscinas, e desenvolver protocolos para uma melhor recuperação das aves marinhas, “que costumam ter umas taxas de sucesso mais baixinhas que o resto das aves”.
A diretora clínica do RIAS frisou que outra das contribuições do centro para o projeto passou por avaliar as principais ameaças e causas de morte, através da recuperação de animais e da realização de necrópsias que permitissem perceber quais eram as principais ameaças das aves marinhas na área da Ria Formosa.
“Eu listei as causas todas, da mais frequente à menos frequente, e quais eram as espécies mais afetadas por cada causa de ingresso”, afirmou, frisando que os dados trabalhados são relativos às causas de ingresso de aves da Deserta e da Culatra, duas das principais ilhas barreira da Ria Formosa.
Segundo a veterinária, como a Ilha Deserta não tem praticamente circulação de pessoas, muitos animais mortos chegam já decompostos ao RIAS e os técnicos do centro não conseguem saber a causa de morte exata de todas, embora possam identificar se “têm algum fio ou alguma fratura” para eliminar possíveis causas.
“Dessas aves muito decompostas, só algumas conseguimos saber a causa de morte, outras são desconhecidas”, esclareceu.
A diretora clínica do RIAS disse que os dados estão disponíveis nos relatórios anuais de atividades do centro, que listam todas as espécies, mas frisou que o RIAS tem uma área de atuação muito maior, porque “recebe animais do Sul do país” e que os dados relativos ao projeto incidem mais sobre a Deserta “porque a Culatra tem muito menos animais”, devido à presença humana.
Por isso, Maria Casero destacou a importância de projetos como o Life Ilhas Barreira, que permitem ao RIAS obter financiamento para estudos científicos, recursos que disse não serem fáceis de obter e que muitas vezes ficam condicionados, pois a prioridade do centro é a recuperação das aves e dos animais que acolhe.
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