Vemos filmes e lemos livros e, em muitos casos, dizemos: já vi ou li algo semelhante - mas não é possível estabelecer o porquê, em muitos desses casos. Mas "os avanços na capacidade de computação, processamento de linguagem natural e digitalização de texto tornam agora possível estudar a evolução de uma cultura através dos seus textos usando uma lente de 'big data'", ou análise de grandes quantidades de dados, explicam Andrew Reagan, Lewis Mitchell, Dilan Kiley, Christopher Danforth e Peter Dodds, no texto "The emotional arcs of stories are dominated by six basic shapes".

Os investigadores das universidades norte-americana de Vermont e da australiana de Adelaide referem que os "arcos emocionais" analisados a partir de 1.737 obras de ficção em inglês, disponibilizadas no repositório gratuito de livros Project Gutenberg, mostram um conjunto de "seis trajectórias nucleares que formam os blocos fundadores de narrativas complexas". Os investigadores detectaram que certos "arcos emocionais têm um maior sucesso, medido pelos 'downloads'". E alertam que tendemos "a preferir histórias que se encaixam em modelos que [nos] são familiares e a rejeitar narrativas que não se alinham com as nossas experiências".

Lembram a teoria da narrativa em três actos de Aristóteles (o conflito emerge no acto um, surgem pontos de viragem nos actos seguintes, para se encerrar com "a resolução final"), mas salientam que o lado emocional não segue esse modelo, embora "exista como parte dessa narrativa toda", através da identificação dos motivos na história. Os investigadores registam a existência de várias elaborações anteriores sobre "padrões básicos" das narrativas para terminar uma ficção. Em 1959, Foster-Harris defendeu a existência de apenas três, a partir de uma situação de conflito (final feliz, final infeliz e tragédia).

Há ainda o modelo das sete possíveis histórias/narrativas em que um indivíduo se confronta com ele próprio, com a natureza, com outro indivíduo, com o ambiente, com a tecnologia, com o sobrenatural ou com um poder mais elevado. Para Christopher Booker, no livro "The Seven Basic Plots: Why We Tell Stories" (2005), estas estruturas narrativas são igualmente sete (ganhar ao monstro, gozar com os ricos, a demanda/busca, a viagem, comédia, tragédia e o renascimento). Na apresentação do seu livro, aponta-se que existe "apenas um pequeno número de 'narrativas básicas'", considerando exemplos desde os antigos mitos e histórias do folclore até às novelas da "grande literatura" ou filmes e telenovelas actuais.

Um outro autor, Ronald Tobias, considera que podem existir "20 Master Plots", incluindo a metamorfose, a ascensão ou a "descensão", e Georges Polti chega mesmo às 36, abordando variações como a rivalidade, o sacrifício por paixão ou os crimes de amor.

Porque é importante a emoção?

Numa análise a "Understanding The Seven Basic Plots", considera-se que este tipo de "aproximações reducionistas" apontam para uma "mensagem de que um escritor quase não terá esperança em criar um enredo original. Isso não é uma perspectiva particularmente útil para um escritor que está a tentar desenvolver uma nova e excitante ideia de história".

Contrapondo essa crítica à de "Dramatica: A Theory of Story", considera-se que esta última teoria "não limita as possibilidades" e podem mesmo existir mais de 32 mil variações de histórias. Mas este tipo de pensamento abre caminho para outros sectores o adaptarem à sua área de trabalho. Foi o caso da publicidade.

Num texto de Outubro de 2012, "7 Basic Types of Stories: Which One Is Your Brand Telling?", a revista do sector AdWeek questionava a originalidade dos criadores publicitários para afirmar que o "desafio" perante apenas sete formas de contar uma história passava por escolher a que melhor se ajustava à marca que estavam a vender.

Para cada um dos modelos narrativos de Booker, a revista escolheu vários exemplos:

1) ganhar ao monstro: Apple;

2) confronto com os ricos: Johnnie Walker;

3) demanda/busca: o filme "Senhor dos Anéis";

4) viagem e regresso: Corona;

5) comédia: Old Spice (apostou nesta estratégia há anos e lançou recentemente um novo vídeo);

6) renascimento: Gatorade;

7) tragédia: são casos difíceis e raramente a publicidade pode ser tentada a aproveitá-la, pelos resultados negativos que daí podem advir.

Para os investigadores que consideram existir seis "arcos emocionais", a sua existência "é importante para o sucesso" de uma narrativa mas também para o desenvolvimento de tecnologias emergentes e noutras abordagens geográficas. "Os arcos emocionais das histórias podem ser úteis para ajudar a desenvolver argumentos e a ensinar senso comum aos sistemas de inteligência artificial", dizem, para concluir que "de profundo interesse científico será o grau em que poderemos eventualmente perceber a paisagem completa das histórias humanas, e as aproximações geradas pelos dados terão um papel crucial".

Noutra direcção, e por analisarem apenas as obras em inglês, os investigadores abriram caminho a outros interessados para fazerem o mesmo nas suas línguas. "Será interessante ver como os arcos emocionais variam de acordo com a língua ou cultura, como têm variado ao longo do tempo e também como os livros factuais se comparam", sintetizava a revista Technology Review.