Em entrevista à agência Lusa, a soprano realçou a “riqueza dramática e lírica” do papel, que aponta como um “dos mais difíceis do ‘bel canto’, porque exige todos os recursos e técnicas vocais”.
“Trata-se de um papel para soprano de coloratura, de uma exigência muito grande em termos de extensão vocal, muito além da tessitura, e fisicamente desgastante”, afirmou Elena Mosuc, acrescentando que o convite do TNSC “surgiu na altura certa”.
A ópera de Donizetti regressa à sala lírica lisboeta 33 anos depois da sua última representação, em 1984, na altura protagonizada pela soprano italiana Mara Zampieri.
O elenco desta produção, que se estreia no sábado, é constituído, além de Elena Mosuc, por Burak Bilgili, Jennifer Holloway, Leonardo Cortellazzi, Lilly Jørstad, Luís Rodrigues e Marco Alves dos Santos, sendo a direção musical do maestro Giampaolo Bisanti.
A soprano referiu-se ao papel de “Anna Bolena”, como dos mais difíceis do ‘bel canto’ italiano, tipicamente de uma “absoluta ‘prima donna'”, porque, “vocalmente, é uma paleta de cores, exigindo uma grande ornamentação vocal, com variações rápidas das notas baixas para as mais agudas”, além de ser “um papel muito longo”.
“É um papel [vocalmente] muito acrobático, exigindo a utilização de todos os registos”, afirmou a soprano, que realçou ainda que também “exige muito da orquestra”.
A cantora lírica deu como exemplo a conhecida ‘cabaletta’ do segundo ato, a ária “Coppia iniqua”, na cena em que a rainha condenada à morte jura vingança de seu marido, o rei Henrique VIII, reafirmando cada frase.
Dado a grande exigência do papel, Elena Mosuc afirmou: “É necessário saber-se dosear a voz ao longo da ópera”, referindo que se vai “de um registo calmo, num suave ‘legato’, em que Anna Bolena lembra o seu primeiro amor, até um final que é muito forte, furioso, e com raiva”, perante a iminência da morte.
“A cena mais difícil desta ópera é precisamente a última, tal como [Donizetti] fez na sua ópera ‘Lucia di Lammermoor’, mas em ‘Anna Bolena’ é ainda mais difícil”, disse Elena Mosuc, acrescentando à Lusa que considera o papel “Anna Bolena” “o mais difícil de interpretar, mais ainda do que o de ‘Norma'”, de Vincenzo Bellini, que já cantou.
“Para interpretar Anna Bolena exige-se vivência e experiência de vida, é um papel de maturidade”, sublinhou.
Elena Mosuc interpretou o papel de “Anna Bolena”, numa versão de concerto, na Konzerthaus, em Viena.
A ópera faz parte da chamada trilogia das rainhas britânicas, do compositor, a par de “Maria Stuarda” e “Roberto Devereux”.
O TNSC, na apresentação desta encenação, diz que a cantora “tem vindo a estabelecer-se como uma das mais versáteis e expressivas sopranos da atualidade”.
Relativamente à produção que sobe à cena no teatro de Lisboa, a soprano qualificou-a como “moderna e muito simbólica”, desenvolvendo-se a trama operática “entre o leito e o trono”, e referiu-se aos figurinos como “lindíssimos, apesar de um pouco pesados, e exigirem uma marcação [precisa] em palco”.
A cantora lírica conhece Lisboa, onde se desloca com regularidade, apesar de ser a primeira vez que canta no TNSC, que considera “um palco com uma acústica seca, mas uma sala em que se sente muito bem”.
De Portugal, conhece bem o fadista Gonçalo Salgueiro, com quem criou o espetáculo “OperFado” que gostava de apresentar no S. Carlos e, segundo disse, fez já essa proposta ao diretor artístico, Patrick Dickie.
“A ópera e o fado têm muito de comum, a melancolia, o tom amoroso, a nostalgia, o lirismo”, disse a soprano, que referiu “o sucesso muito grande” que teve em 2014 com Salgueiro, durante uma digressão na Roménia.
Ao intérprete não poupa elogios ao português, apontando-o como “talentoso” e senhor “de um canto elegante”, e revelou que, “em privado, canta árias muito bem”.
A soprano irá participar, a 17 de novembro deste ano, em Lisboa, num espetáculo de Gonçalo Salgueiro, que tem um novo álbum previsto para março.
As récitas de “Ana Bolena” estendem-se aos próximos dias 06, 09 e 14, às 20:00, e também ao dia 12, às 16:00.
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