Numa decisão unânime, os juízes do STF confirmaram uma medida cautelar que já havia sido concedida em janeiro último pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli, e que autorizou a plataforma Netflix a exibir o filme de forma provisória até à decisão final do tribunal.
A exibição do filme foi proibida em dezembro de 2019 por um juiz do Rio de Janeiro, que considerou cabíveis as denúncias de grupos religiosos que acusaram a produção de ofender a fé cristã e de promover o discurso de ódio contra a religião.
Contudo, os magistrados concordaram hoje com Dias Toffoli, indicando que a medida proibitiva constitui uma violação à liberdade de expressão, garantida pela Constituição, e que a exibição do filme não pode ser vedada.
Segundo o juiz Gilmar Mendes, instrutor do processo no STF, a prioridade da Justiça deve ser a garantia da liberdade de expressão em detrimento da liberdade religiosa.
“Por mais questionável que possa chegar a ser a qualidade da produção artística”, a censura não é a medida adequada, defendeu Mendes, tendo sido apoiado por todos os seus colegas.
O magistrado disse ainda que o filme não incita à violência contra grupos religiosos e que se limita a "uma mera crítica, por meio da sátira, aos elementos apreciados pelo cristianismo".
“A censura com a definição de quais conteúdos podem ou não ser divulgados deve limitar-se a situações excecionais, para que seja evitada, inclusive, uma verdadeira imposição de uma determinada visão de mundo”, disse.
Em causa está o filme especial de Natal "A Primeira Tentação de Cristo", que o grupo humorístico brasileiro Porta dos Fundos lançou na Netflix em dezembro do ano passado.
A produção narra em 46 minutos as aventuras de um Jesus homossexual para apresentar o seu namorado à "Sagrada Família".
A transmissão do polémico especial de Natal teve consequências, como o ataque com coquetéis molotov à sede da produtora do grupo humorístico, no Rio de Janeiro, causando danos materiais na entrada e receção do prédio.
O autor do ataque foi detido no mês passado na Rússia, país que estuda agora o pedido de extradição feito pelo Brasil.
A exibição do filme também provocou inúmeras críticas por parte de grupos evangélicos e até do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que qualificou a produção de "lixo" e os seus criadores de "pessoas que não representam a sociedade brasileira".
O grupo Porta dos Fundos é conhecido em todo o país pela sua sátira e crítica a temas delicados da sociedade moderna.
O Porta dos Fundos foi distinguido em novembro de 2019 com o prémio de melhor comédia na 47º edição dos Emmy Internacional, pelo seu programa especial de Natal 2018, que conta a história de doze apóstolos afetados por uma noite de álcool em busca de Jesus Cristo.
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