A derradeira temporada de "The Crown" vai ter dez episódios e chega em duas levas distintas: os primeiros quatro ficaram disponíveis no dia 16 de novembro e os seis restantes serão lançados no dia 14 de dezembro. A primeira parte, a que já vimos e da qual falamos neste podcast, retrata os acontecimentos dos anos 90 que correram o mundo, nomeadamente o romance vivido entre a Princesa Diana e o empresário egípcio Dodi Fayed, e a trágica morte de ambos, num acidente de viação, em Paris.
Sobre os novos episódios, diga-se que a crítica não ficou encantada — de todo. Se há quem elogie a maneira sóbria como a série lidou com o aparatoso acidente, a maioria das opiniões, especialmente as de origem britânica, são bastante mordazes e com todas as letras escrevem que "The Crown" já não é o que em tempos foi — uma boa e equilibrada combinação de drama de ficção e eventos históricos.
Do que se lê, o consenso é que se a primeira e segunda temporada impressionavam pelos elevados valores de produção - fotografia, cenário, guarda-roupa, montagem, som - e a escrita era empolgante e cativante, pois os diálogos eram inteligentes e a narrativa alinhava os factos históricos com os dramas pessoais de uma maneira interessante e que prendia a atenção do espetador, a partir daí descambou. Como nota Lucy Mangan, jornalista do The Guardian, "The Crown" começou "a balançar na terceira temporada, perdeu totalmente o equilíbrio nas duas seguintes e agora está a cair no abismo".
Relativamente às críticas e ao estado de "The Crown", João Dinis é da opinião que a série perdeu "algum fulgor" por duas razões: a morte da Rainha Isabel II e a proximidade temporal dos eventos. No caso desta última, porque "a proximidade dá-te mais argumentos para tentares escrutinar a forma como a história está a ser contada", explicando que nas temporadas anteriores "como as coisas aconteceram nos anos 50 e 60 até achas giro", mas alguém com 80 ou 90 anos e que viveu naquela época pode muito bem dizer "que as coisas não se passaram nada assim". Ou seja, à medida que a história avançou e entrou nos anos 80 e 90, o arquivo em vídeo e fotográfico está bem vivo na memória de várias gerações — e fica complicado não fazer comparações ou julgar a dramatização de algo que se sabe como aconteceu.
Aproveitando o mote, Miguel Magalhães acrescenta uma terceira razão: "Acho que há também um desafio que quem acompanha a série tem de fazer, com a mudança do elenco principal de duas em duas temporadas", diz, destacando o "impacto" da primeira ronda de atores, referindo-se especificamente ao trabalho de Claire Foy (Rainha Isabel II), Matt Smith (Filipe, o Duque de Edimburgo e que atualmente dá vida a Daemon Targaryen em "House of the Dragon") ou de Vanessa Kirby (Princesa Margarida). E se na terceira e quarta temporada ainda mantiveram "alguma da aura" com atores do calibre de Olivia Colman (Rainha Isabel II), a partir daí foi "difícil" dar o mesmo salto. Não é que o elenco não seja de excelência também, mas fica complicado acompanhar emocionalmente uma terceira mudança de caras.
Quanto aos novos episódios, João Dinis, apesar de elogiar bastante o trabalho dos atores - se bem que com alguma irritação pela personagem de Dodi Fayed, pois tem "muitas dúvidas que fosse assim tão banana como é representado na série" - e de achar que a atriz Elizabeth Debicki "é e está igual" à Princesa Diana, admite que se desligou e que o "perderam" com duas "aparições" no quarto episódio (não dizemos quais para não estragar nada a quem ainda não tenha visto). No entanto, admite que há uma frase que o "marcou muito" e que acha que é "muito forte" pelo momento que representa e que simboliza. A linha em questão é dita durante a cena no funeral da Princesa Diana, quando Guilherme, o filho mais de Diana, pergunta ao avô porque é que "as pessoas estão a chorar por alguém que nem sequer conheceram" — ao que o Duque de Edimburgo responde "elas não estão a chorar por ela, estão por ti".
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- Nos Créditos Finais, falámos sobre a morte de Sara Tavares, O Encantador de Ricos (podcast do Observador), Brawn: The Impossible Formula 1 Story (Disney+), Escapar à Twin Flames (Netflix), Vai Correr Tudo Bem(série de Guilherme Geirinhas) e Monarch: Legacy of Monsters (Apple TV+).
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