Muitos são jovens, a maior parte a estudar em Portugal, alguns, idosos, fazem parte da lista de eleitores inscritos em Portugal e todos chegam com calma e orgulho à Embaixada da República Democrática de Timor-Leste, em Lisboa, para votar nas eleições legislativas do país que consideram seu, mesmo quando têm dupla nacionalidade.

Esperam numa fila, que, entre as 12:00 e 13:00, não era extensa, conversam em voz baixa, seguindo o conselho de alguns cartazes.

Na entrada de uma sala, dois jovens, com a camisola amarela ou azul do processo eleitoral, verificam os cartões de eleitor.

Na última parte da espera, os eleitores podem sentar-se. O passo seguinte é o espaço amplo onde estão dez funcionários eleitorais e é apresentado o cartão, recebido o boletim de voto, de dimensão equivalente a uma folha A3, e feita a escolha entre as 21 hipóteses.

Para encerrar o processo, os timorenses molham o dedo indicador em tinta roxa, um procedimento igual àquele seguido em Timor-Leste, e que aí fará mais sentido que em Portugal, para evitar votação repetida.

O presidente do centro de votação, o diplomata Joaquim Fernandes, disse à agência Lusa que, em Portugal, estão registados 584 eleitores e, cerca das 12:30, já tinham votado mais de 200, "a maior parte vinda de fora - são estudantes no Porto, Aveiro, Évora ou Coimbra, o resto é de Lisboa".

Para acompanhar o processo, na capital portuguesa, está uma equipa a que se juntam elementos vindos de Timor.

"A embaixada e o Governo português têm uma boa coordenação e facilitam todo o processo de recenseamento", disse o responsável, acrescentando que, desde as 07:00 e até ao final da manhã, "tudo esteve calmo e correu muito bem".

Joaquim Fernandes referiu a expectativa de conseguir uma "adesão maior [que nas eleições presidenciais], pelo menos 80%", até ao encerramento da votação, que foi às 15:00, o mesmo horário seguido em Timor-Leste, mas com a diferença de oito horas.

Lino Borges, 32 anos, vive em Santarém há dois meses e meio, estuda língua e cultura portuguesas, e depois irá para Castelo Branco para fazer um mestrado em horticultura.

Descreveu para a Lusa as eleições como um momento em que, como cidadão, pode exercer o seu direito de escolher o que quer para o seu país. Neste caso, o objetivo é que o governo legislativo "possa levar Timor a um futuro melhor".

Questionado sobre as prioridades para Timor-Leste, Lino Borges salientou que o país tem petróleo, mas "um dia vai acabar", por isso, espera que o governo dê importância à agricultura, o segundo maior setor, para dar aos agricultores "uma vida melhor".

Como nos países desenvolvidos, em Timor-Leste também "há problemas de corrupção e, como 'geração anticorrupção', espero que o próximo governo resolva" o problema, apontou o estudante.

Dirce Mouzinho, de 55 anos, saiu com 13 de Timor, esteve na Austrália e em Lisboa antes de, há 27 anos, ir para Madrid. Veio a Portugal "com muito orgulho, para votar" pelo seu país, pela primeira vez.

"O meu pai foi morto na guerra e é um sinal de respeito, uma homenagem", este voto, referiu Dirce Mouzinho à Lusa, acrescentando que pretende contribuir para mudanças, principalmente na educação e na saúde pública, pois "o que se passa agora é que as pessoas que têm dinheiro podem sair para se tratar, e o povo não tem essa possibilidade".

A educação e a saúde também são as prioridades apontadas para o futuro de Timor, por Tiago Cardoso, o presidente da Associação Uma Timor Salurik, a viver em Portugal desde 1975.

"Nós timorenses que estamos no exterior não nos sentimos excluídos e somos ativos na participação da vida política timorense", um país recente que "está a aprender a viver com a democracia, com a construção de lideranças, e todos os problemas decorrem desta situação", segundo Tiago Cardoso.

A comunidade timorense em Portugal já foi "muito mais forte", descreve, mas uma parte foi para Austrália, com a independência alguns regressaram a Timor, outros foram para a Irlanda, por exemplo.

Para Vanessa Sereno, de 27 anos, que trabalha em Lisboa e tem dupla nacionalidade, é importante, através do voto, dar a sua voz e contribuir para escolher quem vai dirigir o seu país, mas também como mulher, quer "ser um exemplo", pois as mulhres "têm de ter uma voz e uma posição na política".

Esta votação, de onde sairão os 65 membros do Parlamento Nacional, que terá depois o poder para formar o VII Governo constitucional, é o segundo ato eleitoral, depois das presidenciais de 20 de março passado, organizado pelas autoridades timorenses, sem assistência das Nações Unidas.

Em jogo estão os 65 lugares no Parlamento que atualmente é composto por 30 deputados do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), que, em 2012, obteve 36,68% dos votos, 25 da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que obteve 29,89%, oito do Partido Democrático, que obteve 10,30%, e dois da Frente Mudança, que obteve 3,11%.

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