“Vitor Ramos: uma trajetória no exílio” é o tema da exposição que se inaugura no dia 12 de dezembro e que estará patente até 17 de fevereiro de 2023, na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa.
Com curadoria de Guiomar Ramos, investigadora e filha de Vitor Ramos, a mostra inclui uma mesa redonda no dia da inauguração, que contará com a participação de Luiz Bigotte Chorão, Heloisa Paula, Sérgio Campos Mattos, Julia Coutinho, Guiomar Ramos, Fernão Ramos e Fábio Ruela (‘online’) Jaelson e Joaquim de Carvalho, nome ainda a confirmar (‘online’).
Todas as terças-feiras, será transmitido o filme “Por Parte de Pai”, um documentário que conta a trajetória do professor e militante português, revisitada pelo olhar da sua filha.
Através de cartas e fotografias, e de uma viagem aos países onde o seu pai viveu, Guiomar Ramos procura compreender as circunstâncias da sua morte, poucos dias após a Revolução dos Cravos, sem que conseguisse regressar ao seu país natal, depois de vinte anos afastado, indica a BNP no seu ‘site’.
No dia 25 de Abril de 1974, que foi também o dia do seu 54.º e último aniversário, comentou que “a revolução foi o melhor presente que poderia ter recebido”.
Alguns dias depois, numa reunião em sua casa, com a família e amigos exilados, quando comemoravam e discutiam o regresso à pátria, Vitor Ramos sofreu um aneurisma fulminante que o deixou em coma profundo.
Morreu no dia seguinte, 03 de maio de 1974, “de emoção e alegria, porém sem retornar a sua terra natal agora livre”, lê-se na página da BNP.
Nascido em Ervedal da Beira em 25 de abril de 1920, Vitor de Almeida Ramos envolveu-se desde cedo na luta antifascista contra a ditadura de Salazar, tendo militado no MUD Juvenil e no PCP.
Nos anos 1940, formou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e iniciou a sua carreira jornalística como correspondente da agência France-Press.
Alguns anos mais tarde, autoexilou-se em Paris, onde estabeleceu residência e iniciou estudos em Literatura Francesa, na Sorbonne.
É desse período o seu relacionamento com figuras do meio cultural como Casais Monteiro, Jorge de Sena e Barradas de Carvalho que, posteriormente, o acompanharam no Brasil.
Em 1953, durante uma viagem para o Festival da Juventude em Bucareste, conheceu uma jovem brasileira, estudante de História, Dulce Helena Álvares Pessoa, por quem se apaixonou, com quem casou, em 1955, no Brasil, e de quem teve três filhos.
Oriunda de uma família tradicional de esquerda, Dulce foi companheira de Vitor Ramos, na vida e nas atividades profissionais e políticas, no exílio brasileiro, que se estendeu até à sua morte, em 1974.
Durante os dois anos que estiveram separados, antes do casamento, trocaram correspondência e, numa das tantas cartas enviadas, Vitor Ramos perguntou-lhe se ela teria começado a interessar-se por ele, se “fosse fascista, um indivíduo para quem o mundo e os seus problemas fossem indiferentes”.
No desterro, esteve vigiado pela PIDE que, em 1962, decretou a sua prisão, devido à sua militância política contra a ditadura, a que sempre deu continuidade.
Um dos atos mais simbólicos da sua ação aconteceu em 1956, quando fundou em São Paulo, com Manuel F. Moura, o jornal Portugal Democrático, que se tornou uma bandeira da luta da diáspora portuguesa, denunciando a opressão salazarista.
Essa importante publicação de quase duas décadas – a sua última edição data de 04 de março de 1975 – foi o meio que deu substância à resistência dos exilados no Brasil.
Além de Vitor Ramos dela fizeram parte os portugueses Miguel Urbano, Jorge de Sena, Casais Monteiro, Fernando Lemos e Barradas de Carvalho, além de conhecidos nomes da cultura e da política brasileira.
Vitor Ramos iniciou a sua carreira académica em 1959, como professor de literatura francesa no interior de São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas de Assis.
Em 1964, mudou para a Universidade de São Paulo e defendeu uma tese de livre-docência, tornando-se professor titular.
Nesse período, aprofundou pesquisas e o estudo de literatura francesa do século XVII, publicando “Cyrano auteur tragique”, “Rotrou: um universo equívoco” e “Estudos em Três Planos”.
No âmbito da literatura portuguesa, publicou ensaios sobre Cavaleiro de Oliveira, Camilo Castelo Branco e sobre a autoria de Cartas de uma religiosa portuguesa (as cartas de Soror Mariana). Editou ainda uma ampla edição comentada de “Os Lusíadas”.
Em 1969, foi convidado a lecionar literatura francesa na Universidade da Califórnia, para onde se transferiu com a família, ali permanecendo por mais de dois anos.
Por duas vezes foi distinguido com prémios do Ministério da Educação por serviços prestados à cultura francesa, em 1968 e em 1973.
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