O tradutor e ensaísta português recebeu com surpresa a noticia da atribuição do prémio, mesmo tendo sido contactado há cerca de uma semana por um dos membros do júri, a pedir informação detalhada sobre o seu currículo, sobretudo na área da tradução, contou à agência Lusa.

João Barrento mandou-lhe toda a informação pedida, mas não estava “à espera de receber um prémio como o Prémio Camões, que normalmente tem sido concedido a grandes escritores de ficção ou de poesia”.

“Talvez faça algum sentido pensar num prémio como este, não apenas para os grandes géneros literários, como o romance ou a poesia, mas também como o ensaio ou mesmo a tradução, porque é um trabalho sobre a língua, a língua de Camões, está no nome do prémio, que exige uma criatividade que, no meu caso, considero-a quase equivalente à da escrita original”, disse.

Sobre o impacto que o prémio possa vir a ter na sua vida ou na sua escrita, João Barrento disse que não altera em nada o seu modo de estar e de relação com a escrita, até porque recebeu “praticamente todos os prémios portugueses de tradução e ensaio”.

“A mim sempre me interessou descobrir novos horizontes e descubro-os constantemente, para escrever para divulgar novos autores e isso nunca derivou do facto de ter recebido algum prémio. Foi sempre decisão minha, inclusive, os autores mais importantes que eu tenho traduzido cá não foram sugestão dos editores, não foram encomenda, foram quase sempre sugestões minhas”, acrescentou.

O também critico literário reconhece que o que tem feito “é imenso” e quando olha para trás diz não ver “ninguém neste país com uma obra de tradução literária e filosófica” como a dele.

De acordo com a ata do júri, João Barrento foi reconhecido como “autor de uma obra relevante e singular em que avultam o ensaio e a tradução literária. Em particular, as suas traduções de literatura de língua alemã, que vão da idade média à época contemporânea, e em todos os géneros literários, formam o mais consistente corpo de traduções literárias do nosso património cultural e constituem indubitavelmente um meio de enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial”.

Também cronista e professor, João Barrento nasceu a 26 de abril de 1940 em Alter do Chão.

Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo elaborado uma dissertação sobre a obra do dramaturgo inglês Harold Pinter (“Entre a Palavra e o Gesto. Interpretação do Teatro de Harold Pinter”), tendo publicado, desde então, diversos livros de ensaio, crítica literária e crónica.

De 1965 a 1968, foi leitor de Português na Universidade de Hamburgo e, mais tarde, leitor de Alemão na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se tornado tradutor literário de língua alemã.

De 1986 até se jubilar, foi professor de Literatura Alemã e Comparada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Traduz literatura e filosofia de língua alemã, tendo transporto para língua portuguea e prefaciado dezenas de autores de língua alemã, particularmente de poesia, da expressão mais antiga à mais moderna e contemporânea, além de obras de ficção, filosofia e teatro.

Ao longo da vida foi distinguido com vários prémios, nomeadamente o Calouste Gulbenkian da Academia das Ciências de Lisboa para a Tradução de Poesia, o Grande Prémio de Tradução do PEN Clube Português/Associação Portuguesa de Tradutores (pela obra de Goethe e pela tradução integral de “Fausto”), o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho, o Prémio D. Diniz, da Fundação da Casa de Mateus, e o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores (APE), com o livro “A Escala do Meu Mundo”.

Em 2022, recebeu o prémio Vida Literária Vitor Aguiar e Silva da APE.