A ministra da Cultura anunciou no início de fevereiro que a lotaria instantânea do Património, uma iniciativa do Governo inicialmente prevista para 2020, vai ser lançada a 18 de maio, no Dia Internacional dos Museus.
A data é indicativa, adiantou ao SAPO24 o Ministério da Cultura, sendo que muitos dos detalhes desta 'raspadinha' só serão conhecidos mais perto do lançamento. A novidade é que já tem preço: 1 euro. A expectativa, isso já se sabia, é de que contribua com cerca de 5 milhões de euros para o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural.
É a primeira vez que se faz uma iniciativa desta natureza em Portugal, disse fonte do ministério ao SAPO24, mas a ideia não é original. França já teve pelo menos duas edições de raspadinhas do Património, em 2018 e 2019. Na primeira edição, o "Super Loto Missão Património” francês rendeu 22 milhões de euros (com o custo de 15 euros por cada raspadinha e um prémio máximo de 1,5 milhões de euros).
Uma das críticas em torno desta raspadinha é financiar-se a reabilitação do património com recurso a um jogo de sorte.
O psicólogo Pedro Hubert, que trabalha há 20 anos com pessoas com problemas de adição, entre elas o jogo, explica ao SAPO24 que para existir dependência são necessárias três condições: "a primeira é a pre-disposição individual e temos à volta de 2% da população adulta com problemas de jogo em Portugal; depois é preciso que haja fatores situacionais, como aquele jogo estar na moda, a legislação ser permissiva, haver muito marketing à volta do jogo, pressão dos pares, etc; depois há fatores associados à substância aditiva e ao comportamento desta".
A título de exemplo, refere, em duas décadas de trabalho nunca acompanhou ninguém com vícios de lotaria ou de euromilhões, mas já teve pessoas com vício de raspadinha. O que ajuda a explicar isto é resposta rápida entre a aposta e o resultado.
"Numa raspadinha posso fazer uma jogada e passado cinco segundo fazer outra, e ter logo a resposta. É isto que vai fazer com que haja adição. No caso da lotaria ou Euromilhões a pessoa não tem logo ali a resposta", refere.
Quando lhe perguntamos se vê mérito numa iniciativa como a do Ministério da Cultura responde que "não é uma resposta fácil", mas enquanto psicólogo "talvez preferisse que não fosse assim".
Por um lado, "é obvio que para uma parte da população esta lotaria do património pode ser um risco", mas, por outro, "uma minoria não pode prejudicar uma maioria" — e a preservação do património é um objetivo do todo.
O fundamental, diz, "é que sejam cumpridas as regras de jogo responsável", como estarem bem definidas as regras do jogo e as probabilidades, garantir que os números de apoio são conhecidos, quando é possível, permitir a auto-exclusão e limitar o tempo e o valor que se gasta num determinado jogo.
Sobre colocar-se o ónus de financiar-se a recuperação do património sobre os mais frágeis do ponto de vista socio-económico, Pedro Hubert considera que o hábito do jogo se "democratizou" e se é verdade que "quanto mais barato, mais as pessoas jogam", por outro lado, "quanto mais baixa é a aposta, mais baixo é o retorno".
A Lotaria do Património Cultural, que chegou a ser anunciada para o ano passado, foi inscrita no Orçamento do Estado de 2021 para ajudar a responder a “necessidades de intervenção de salvaguarda e investimento”, em património classificado ou em vias de classificação, segundo as prioridades definidas pelo Governo para este ano.
Além de servir para angariar verbas que irão reforçar o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural, a Lotaria do Património Cultural tem também o objetivo de “envolver todos", disse Graça Freitas ao anunciar a data de lançamento.
“Para que cada cidadão se sinta parte da missão nacional de preservar o património. Fazer com que cada um de nós se sinta parte de algo que tem de ser de todos. 2021 será também o ano de envolvermos todos nesta missão nacional”, afirmou.
O jogo está a ser desenvolvido pela Santa Casa da Misericórdia, parceira do Governo nesta iniciativa.
Esta raspadinha, adiantou o ministério da Cultura ao SAPO24, vai estar "à venda em toda a rede de mediadores dos Jogos Santa Casa, em todo o país", mas são vários os detalhes que remete para "mais perto da data de lançamento".
Fica assim por saber quais os montantes dos prémios que esta raspadinha vai atribuir, se é possível apoiar um património particular, que lista de monumentos vão ser apoiados por esta iniciativa, se haverá raspadinhas temáticas e os detalhes de funcionamento do Fundo de Salvaguarda do Património Cultural.
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