O democrata regista uma média de 42,5% de aprovação e 52,1% de desaprovação, de acordo com os dados agregados da plataforma especializada FiveThirtyEight. Apenas Donald Trump era ainda mais impopular no final do primeiro ano de mandato, com 40,2%.

“Esta impopularidade dele neste momento deve-se sobretudo à perceção de que a vida não se tornou mais fácil para os americanos”, disse à Lusa a cientista política Daniela Melo, professora na Universidade de Boston, Massachusetts.

“Biden chegou à presidência a prometer um virar de página”, afirmou a especialista, referindo as promessas de que o sucessor de Donald Trump traria mais estabilidade política, um retorno à normalidade, uma economia mais forte e justa e uma América mais respeitada no plano internacional.

“Estas promessas esbarraram com uma realidade em que há uma disrupção total do quotidiano dos americanos, a polarização continua, Trump continua a ser a voz mais persistente e impactante dentro do partido republicano”, enquanto “a nível internacional houve uma certa incapacidade da administração de prever a reação negativa a certas decisões”, referiu Melo.

Foi o caso da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, em agosto de 2021, que coincidiu com a escalada da inflação e o pico das infeções pela variante Delta do coronavírus. A taxa de aprovação de Biden caiu a pique e a desaprovação passou a ser mais elevada, levando a popularidade para território negativo apenas sete meses depois da posse.

“Ele prometeu estabilidade, mas não tem ao seu dispor as ferramentas necessárias para realmente estar no controlo dos fatores que trarão essa estabilidade”, analisou Daniela Melo.

A politóloga sublinhou que as promessas do presidente dificilmente se poderiam cumprir com uma maioria tão curta no Senado: 50-50, com a vice-presidente Kamala Harris a desempatar para os democratas, e dois senadores democratas que votam frequentemente ao lado dos republicanos, Joe Manchin e Kyrsten Sinema.

“É mais o momento que o homem. Qualquer outro presidente na posição de Biden não teria conseguido muitas vitórias além daquelas que ele conseguiu”, frisou Melo, apontando como exemplo o pacote legislativo de infraestruturas. “Qualquer outro presidente estaria aqui entre a espada e a parede”.

Um índice de popularidade tão baixo nesta altura é mau sinal para o desempenho do partido nas eleições intercalares de 08 de novembro, que decidirão o controlo das duas câmaras do congresso.

“Este é definitivamente o ano decisivo da presidência Biden. A onda está negativa”, disse Daniela Melo.

No entanto, a especialista frisou que “ainda muito pode mudar” até ao final do verão e a evolução da pandemia e da economia serão determinantes para perceber de que forma o sentimento público se irá traduzir nas urnas.

Thomas Holyoke, professor de ciência política na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, também considerou que “ainda é muito cedo” para fazer previsões e que a evolução da pandemia será importante.

Com a variante Ómicron em rápida propagação, os Estados Unidos registam apenas 63% de vacinados com duas doses e o mandato de vacinação para as empresas imposto por Biden — algo de que muitos eleitores não gostaram — foi bloqueado pelo Tribunal Supremo.

“Desde os anos 70 que os americanos têm uma desconfiança crescente em relação aos seus governos”, disse Holyoke. “Nos anos 70 tivemos a guerra do Vietname e o escândalo de Richard Nixon, depois nos anos 80 Ronald Reagan disse às pessoas que o governo era o problema”, lembrou.

“Como consequência, uma grande porção dos americanos não confia no governo, independentemente de quem esteja no poder”, disse. “Isso torna mais difícil para o governo dos Estados Unidos agir perante algo como a covid. Há demasiadas vozes a lançarem contra-narrativas”.

O que o eleitorado norte-americano quer, disse Daniela Melo, é o retorno à normalidade e maior capacidade de poder de compra numa economia em expansão, que cresceu mais de 6% no último trimestre. ”O problema”, ressalvou, “é que vigora a perceção que a economia estagnou e isso vem acompanhado de uma grande frustração que os americanos sentem com a pandemia”.

Caracterizando como “contextual” a impopularidade do presidente, a cientista política considerou que a evolução da situação vai depender da pandemia, da inflação e da reação dos mercados às medidas que a Reserva Federal vai tomar a partir de março para conter a escalada de preços. No seu entender, a inflação é o fator que mais contribui para a perceção de que a economia não está bem.

“Estas grandes questões que abalam o dia-a-dia dos americanos continuam fora do controlo da presidência. E na verdade nunca estiveram”, afirmou. “Qualquer presidente, neste momento, teria um sério problema com a taxa de aprovação”.