"Vai aqui minha saudação aos amigos portugueses pelo 25 de abril. Este ano, eu pretendia estar na festa porque os organizadores da entrega do prémio Camões me deram a honra de marcar a cerimónia para esta data", disse Chico Buarque numa mensagem publicada nas redes sociais da sua editora, a Companhia das Letras.
"Infelizmente, não estou aí. Não haverá entrega de prémios nem descerei com vocês a Avenida [da Liberdade], mas esta tarde deixarei cravos vermelhos na janela e cantarei, alto e bom som, a ‘Grândola, Vila Morena’, de Zeca Afonso", completou.
Chico Buarque deveria receber o Prémio Camões neste 25 de abril, em Lisboa, mas a cerimónia de entrega foi adiada devido à pandemia de Covid-19.
A data havia sido escolhida especialmente pelo cantor brasileiro, que compôs a música "Tanto Mar" em homenagem à Revolução dos Cravos.
A entrega deste Prémio Camões tem sido atribulada, pois já antes disto, em outubro do ano passado, cinco meses depois de ser conhecido o vencedor, o atual Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deixou claro que poderia não assinar o diploma de atribuição do prémio.
Na altura, Bolsonaro avisou, citado pelo jornal Folha de São Paulo, que não tinha essa assinatura entre as suas prioridades, atirando-a para o termo de um eventual segundo mandato, em 31 de dezembro de 2026: "Até 31 de dezembro de 2026, eu assino".
Em resposta, Chico Buarque publicou na sua conta no Instagram: "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prémio Camões".
Chico Buarque, que enfrentou a ditadura militar (1964-1985) e detém um percurso de mais de meio século nas letras e na música, é um apoiante do Partido dos Trabalhadores (PT), defensor do ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e crítico do governo de Jair Bolsonaro.
O valor total do prémio Camões é de 100 mil euros, divididos entre Brasil e Portugal. A parte financeira foi resolvida em junho, e a assinatura do diploma é apenas uma formalidade, mas o documento poderá chegar às mãos do músico sem a assinatura do presidente do Brasil.
Chico Buarque foi anunciado vencedor do Prémio Camões 2019 no dia 21 de maio do ano passado, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.
Para o júri do Prémio Camões, a maior distinção literária de língua portuguesa, a escolha de Chico Buarque deve-se à sua "contribuição para a formação cultural de diferentes gerações", e o "caráter multifacetado" do seu trabalho, da poesia, ao teatro e ao romance, estabelecendo-se como "referência fundamental da cultura do mundo contemporâneo".
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