Apresentando-se como alguém que nasceu no Serviço Nacional de Saúde, estudou na escola pública e não pertence a “uma geração ingrata”, Joana Mortágua olhou para a Europa como um projeto que falhou.

“Falhou porque submeteu a democracia aos mercados financeiros, falhou porque perdeu contacto com os direitos sociais e económicos dos povos, espalhou pobreza e desemprego”, disse a deputada bloquista na sessão solene evocativa do 25 de Abril, no parlamento, em Lisboa.

E alertou que “a propaganda de que todos os protestos são populistas, acabará por servir à absolvição de forças odiosas”.

O que há a fazer é não esperar, porque “a espera é a derrota e o confronto com as imposições europeias, que é o mais difícil, ainda está por fazer”, disse ainda Joana Mortágua, sem fazer qualquer referência direta ao executivo que os bloquistas apoiam.

A alternativa aos “projetos reacionários não é a moderação do situacionismo, com a sua defesa empenhada do sistema que salva bancos”, mas que “condena gerações a pagar dívidas e o défice de uma velha elite”.

A deputada bloquista recordou Eric Hobsbawm que, há 20 anos, avisou para o perigo da xenofobia como “grande ideologia de massas dos nossos tempos”.

Joana Mortágua advertiu para os problemas numa Europa em que “movimentos reacionários e ultranacionalistas” se alimentam “dos destroços da austeridade imposta aos povos”.

Porque, disse, não pertence a “uma geração ingrata”, Joana Mortágua agradeceu aos capitães de Abril, que derrubaram o regime, dizendo: “A Grândola também nos corre no peito à desfilada e, por isso, obrigada capitães. (…) Obrigado a todos e todas os combatentes desse amor inventado chamado liberdade”.

No final, a deputada lembrou Miguel Portas, dirigente do Bloco de Esquerda, que morreu em 2012, para falar do sonho de continuar a lutar por “um projeto de esperança”: “Sonhamos? Não sonhamos nada, somos mesmo os únicos realistas deste filme”.