"Estamos todos juntos", lembrou hoje a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas. "Não é apenas o sistema de saúde que se tem de organizar para dar resposta a esta epidemia".  Por isso, afirmou, é necessário cada um apostar na prevenção, "ou seja, antes de aparecerem casos positivos."

"As medidas preventivas são quase todas exteriores ao sistema de saúde: começam nos cidadãos, nos nossos hábitos do dia a dia, no nosso isolamento ou distanciamento social, nas nossas medidas; mas também nos nossos  parceiros da sociedade, sejam públicos, sejam privados, sejam do setor social. A sociedade tem de se organizar para evitar o contacto entre pessoas", sublinhou  Graça Freitas.

Momentos antes, António Lacerda Sales disse aos jornalistas que 89% dos casos infetados são de pessoas a recuperar no domicílio. O secretário de Estado da Saúde falava também aos jornalistas na apresentação do relatório de situação da pandemia da covid-19 em Portugal, na sede da Direção-Geral da Saúde (DGS), em Lisboa.

"Importa concentrar os esforços em respostas diferenciadas. Temos de garantir que quem cuida tem condições de segurança — importa intensificar a testagem, não só de profissionais de saúde como forças de segurança, profissionais que trabalhem em lares e outras populações de risco", afirmou esta sexta-feira em Lisboa.

O secretário de Estado da Saúde diz que esse trabalho "já está a ser feito" e disse que "vai continuar a ser feito e a intensificar-se".

Ao mesmo tempo, lembrou, é importante olhar para "os mais vulneráveis", estando o governo a trabalhar com "as associações da sociedade civil, com as autarquias, com as IPSS — para as populações sem-abrigo, para os reclusos, para os doentes crónicos, para as vítimas de violência doméstica".

"Infelizmente, a covid-19 não protege estas vítimas: muitas vezes, aliás, torna-as até mais expostas", disse António Lacerda Sales.  Sendo, por isso, necessárias respostas sociais, ao mesmo tempo que se previne o aumento dos casos. Assim, será aumentado o rastreio às pessoas antes de entrarem em abrigos.

Já nas cadeias, o secretário de Estado lembra a "suspensão precoce das visitas", compensadas por chamadas diárias de cinco minutos. Para além disso, foram suspensas as transferências dos reclusos, estando os novos presos isolados da restante população da cadeia, havendo ainda enfermarias de prevenção.

Idosos: "A população mais exposta à letalidade deste vírus"

Graça Freitas disse que, como medida preventiva, alguns lares podem ter de desdobrar a distribuição dos utentes em duas instituições, "uma delas será provisória e extraordinária".

O objetivo passa por reduzir a densidade de pessoas, permitindo "um maior distanciamento social", explicou a diretora-geral da saúde. Graça Freitas apela também a que "haja contenção das equipas, dos profissionais, dos cuidadores".

Estas respostas preventivas, disse, não são tarefa da saúde, mas uma responsabilidade das comunidades, das organizações.

O secretário de Estado da Saúde lembrou também o risco que a covid-19 representa para os idosos: "os números são bastante claros — temos neste momento uma taxa de mortalidade de 1,7% em Portugal; mais de 80% dos óbitos ocorre em pessoas com mais de 70 anos".

Por isso, é importante "diminuir os focos de infeção", lembrou Lacerda Sales. "A nossa maior arma continua a ser efetivamente o isolamento social. Este não é tempo de complacência — é o tempo de resistência, de não nos deixarmos vencer pela ansiedade e pelo medo", concluiu.

Segundo os dados da DGS, dos 76 mortos registados, 61 têm 70 anos ou mais (80,2%). A distribuição por faixa etária indica 43 óbitos acima dos 80 anos (23 homens e 20 mulheres) e 18 entre os 70 e 79 anos (14 homens e quatro mulheres).

Achatamento da curva empurra o pico e transforma-o num planalto

"Apesar de tudo, há uma tendência para termos retardado um bocadinho a velocidade com que a curva está a subir", disse Graça Freitas. Isto significa "que à medida que retardamos a aceleração da curva, o pico vai diferindo no tempo, para mais adiante". Assim, as previsões agora apontam que o "período será diferido para mais tarde, nunca antes, provavelmente, do mês de maio".

“São previsões, vale o que vale”, sublinhou.

A diretora-geral da saúde explicou ainda que, com base naquilo que dizem os matemáticos, os académicos que a DGS ouve, que "o pico não será um momento instantâneo no tempo —  nem é isso que nós queremos —, será um planalto".

"Quando chegarmos ao máximo dos casos da curva, andaremos ali alguns dias, provavelmente algumas semanas. Já sabemos que esta doença dura muito tempo".

1.500 médicos e  4,6 milhões de máscaras

O secretário de Estado da Saúde disse também que chegaram a Portugal milhares de equipamentos de proteção que "chegarão rapidamente aos nossos profissionais de saúde".

Antes, a mesma informação tinha sido partilhada pelo primeiro-ministro. António Costa anunciou a chegada ao Porto, num avião da Ethiopian Airlines, de milhares de equipamentos de proteção individual, designadamente máscaras, fatos e cobre botas, para o combate ao surto da covid-19.

"Há coincidências felizes. Ao aterrar hoje no Porto, deu-se a coincidência de ter apanhado o momento exato da descarga de milhares de equipamentos de proteção individual, fatos de proteção e máscaras", escreveu António Costa na sua conta pessoal da rede social Twitter.

Na mesma mensagem, o primeiro-ministro afirma que Portugal está a "reforçar as compras e a receber mais donativos". "Em breve, todos estes equipamentos, tão necessários, estarão a ser distribuídos onde fazem mais falta", acrescenta.

Fonte do Governo adiantou à agência Lusa que chegaram hoje a Portugal 4,6 milhões de máscaras tipo 2, 56 mil fatos e 20 mil cobre botas.

Para além dos equipamentos, António Lacerda Sales disse também que 1.500 médicos responderam ao apelo do ministério da Saúde para reforçar o SNS durante a pandemia. Estes profissionais de saúde, "muitos vindos do conforto das suas  reformas" vão permitir um "melhor equilíbrio entre os períodos de trabalho e  de descanso".

Separação nos serviços de urgência para pessoas não infetadas

Graça Freitas afirmou ainda que as urgências hospitalares e dos centros de saúde garantem a separação de doentes com covid-19 de outras situações, apelando a que ninguém deixe de recorrer a elas se precisar.

“Os circuitos estão separados. Há uma área dedicada para covid-19 e uma para pessoas que não tenham a infeção”, disse.

Graça Freitas salientou que, além de situações de urgência, “as grávidas devem continuar a vigiar a gravidez, as crianças devem continuar a vacinar-se e o teste do pezinho deve continuar a fazer-se”.

“Há aqui muitas coisas que temos que continuar a fazer, sob pena de ainda ficarmos pior sem ter covid-19”, referiu, apelando a “muito bom senso” por parte dos utentes.

“O que estamos a pedir às pessoas, e isso tem sido muito bem correspondido, é que, se não tiverem uma necessidade imperiosa de recorrer a um serviço de urgência, que não recorram”, salientou.

No entanto, às pessoas que precisem de ir aos hospitais e centros de saúde e tenham medo de o fazer por poderem ser contagiadas, apelou: “vão e vão com tranquilidade”.

Novo método de recolha dos números

O número de pessoas internadas com covid-19 passou a ser apurado diretamente junto dos hospitais e não das administrações regionais de saúde, afirmou hoje a diretora-geral da Saúde.

“Estávamos a calcular os internados, os internados intensivos e todos esses números através das ARS. Chegámos à conclusão que havia uma discrepância e estamos a afinar esse método. Desde as 00:00 de ontem (quinta-feira) estamos a fazer a colheita dessa informação diretamente junto dos hospitais”, afirmou Graça Freitas em conferência de imprensa no Ministério da Saúde.

A intenção é ter números tão aproximados quanto possível da realidade, realçou, admitindo que usar qualquer ARS “não seria a melhor” fonte de informação sobre o número de internados “por razões óbvias, de agregação regional, de mais dificuldade em colher”.

“Tomámos a decisão, alinhados com o Ministério da Saúde, de passarmos a colher essa informação diretamente nas instituições”, que passarão a dizer quantos doentes estão internados, “se estão em enfermaria, em cuidados intensivos ou se estão ventilados”.

Das 4.268 pessoas infetadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) em Portugal, a grande maioria (3.914) está a recuperar em casa e 354 estão internados, 71 dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos, de acordo com o boletim epidemiológico de hoje da DGS.

Portugal regista hoje 76 mortes associadas à covid-19, mais 16 do que na quinta-feira, e o número de infetados subiu para 4.268, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde.

O relatório da situação epidemiológica em Portugal, com dados atualizados até às 24:00 de quarta-feira, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (33), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (24), da região Centro (18) e do Algarve (1). Relativamente a quinta-feira, em que se registaram 60 mortes, hoje observou-se um aumento de 26,6%.

Segundo estes dados, há 4.268 casos confirmados, mais 724 (um aumento de 20,4%) face a quinta-feira.

(Artigo atualizado às 15:45)