Tal como na maioria das empresas que aderiram à experiência, o projeto arrancou em junho na creche da zona do Areeiro onde trabalham 23 pessoas que tratam de 85 crianças entre os quatro meses e os três anos de idade, mas a preparação começou logo em janeiro.

“A parte mais difícil da semana de quatro dias foi a organização, a logística, como é que ia ser, porque implica uma rotatividade”, já que “a creche está aberta cinco dias por semana, no horário de sempre”, conta a diretora do Centro Infantil Maria de Monserrate (CIMM), Francisca Carneiro.

“Como é que íamos fazer de maneira a responder com qualidade às necessidades do dia-a-dia e fazendo o trabalho como fazíamos até aqui? Tem sido uma aventura”, diz a responsável que está na direção do CIMM desde a abertura do centro infantil há quase dez anos.

O desafio acabou por se revelar mais fácil do que o esperado, uma vez que todos os funcionários se mostraram empenhados e facilitaram trocas de folgas com os colegas sempre que necessário.

“As pessoas comprometeram-se bastante, tudo o que tem a ver com trocas, as pessoas são todas muito envolvidas e participativas, entreajudam-se e — já havia um bom ambiente –, mas acho que até melhorou a maneira como lidam uns com os outros”, refere Francisca Carneiro.

Segundo explica, as auxiliares de educação mantiveram o horário de trabalho, mas algumas educadoras de infância tiveram de trabalhar mais meia hora por dia para poderem depois gozar a folga semanal.

A creche aproveitou a experiência da pandemia de covid-19 e organizou-se por “alas”, garantindo pelo menos cinco pessoas sempre presentes em cada uma delas, ou seja, tanto no berçário como nas salas de um e dois anos.

Porém, foi necessário contratar duas pessoas, uma a tempo parcial, para que a creche conseguisse implementar o projeto mantendo o rácio adulto/crianças.

A produtividade melhorou “ao nível da alegria” uma vez que a qualidade de vida dos trabalhadores aumentou, refletindo-se no bem-estar das próprias crianças.

Segundo Francisca Carneiro, tinha ficado definido que “se o bem-estar das crianças estivesse em causa alguma vez ou diminuísse, o projeto parava automaticamente”, mas “não só se manteve como melhorou” e “os próprios pais referem isso” e até dizem que gostavam que as empresas onde trabalham seguissem o exemplo da creche.

“Os pais gostam bastante. Podem notar a falta de uma pessoa ou outra com quem estejam mais à vontade, mas sentem que têm sempre uma resposta”, garante a diretora.

Também a educadora Leonor Granate, que se manifestou “super satisfeita” com a semana de quatro dias de trabalho, conta que os pais “adoram este projeto” e que consideram uma mais-valia num trabalho que é “muito cansativo”.

A educadora de infância, mãe de quatro filhas, destaca como vantagem da semana de quatro dias de trabalho a conciliação da vida familiar e pessoal com a profissional.

“Foi ótimo termos um dia para nós, sem termos de vir trabalhar, sem termos também de ficar com os filhos em casa, que é o que acontece muitas vezes ao fim de semana. Sou mãe de quatro filhas e, portanto, ter aquele dia em que as vou deixar à escola e vou tratar de assuntos ou de ir ao médico com uma delas, marco nesse dia. É ótimo não ter de faltar ao trabalho para ir à Segurança Social, ao médico ou tratar da casa”, realça Leonor Granate.

Da mesma opinião é Rute Ribeiro, auxiliar de educação: “A semana de quatro dias foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Acho que foi benéfico para todos ter mais um dia livre”.

A auxiliar conta que o novo modelo laboral permitiu-lhe dedicar mais tempo à família e aos amigos e também aproveitar para fazer ações de formação profissional.

“O facto de termos mais um dia livre para nós depois também se revela no rendimento dos outros quatro dias, porque já vimos trabalhar com outra disponibilidade e outra vontade”, refere Rute Ribeiro.

O projeto-piloto da semana de quatro dias termina em dezembro mas, segundo a diretora da creche, em princípio, o modelo é para manter no futuro.

“Precisamos de parar para refletir um bocadinho e perceber os moldes [em que será feito no futuro], porque financeiramente existe um custo para o projeto. Mas o que percebemos também é que existe flexibilidade e que, se calhar, como equipa também conseguimos pensar neste projeto mudando algumas coisas que nos permitam então que financeiramente seja ainda mais sustentável”, indicou Francisca Carneiro.

*Denise Fernandes (texto), Jorge Coutinho (vídeo) e Tiago Petinga (fotos), da agência Lusa