Como ponto de partida o dia que hoje se comemora, vão decorrer até dia 25, por todo o continente e ilhas, ações de limpeza terrestres e subaquáticas, junto do mar mas também de rios e de outros pontos de água.

As ações, de limpeza mas que são também de sensibilização para o problema do lixo marinho, são apoiadas e promovidas pela Fundação Oceano Azul, envolvendo acima de uma centena e meia de associações, além de mais de 2.000 alunos do programa Educar para uma Geração Azul, desenvolvido pela Fundação, juntando-se também a representação da Comissão Europeia em Portugal.

Para hoje estão previstas 60 das 150 ações de limpeza já programadas, disse à Agência Lusa Flávia Silva, da Fundação Oceano Azul, que é responsável pelo programa de capacitação de organizações não-governamentais (ONG) e pela implementação de uma rede nacional de organizações dedicadas ao oceano, com especial enfoque na componente do lixo marinho.

A iniciativa nos moldes atuais começou em 2019 e desde então já foram recolhidas quase duas centenas de toneladas de lixo. Flávia Silva explica que desde essa data há cada vez mais adesões e mais diversificadas.

Se no primeiro ano participaram essencialmente organizações ligadas ao ambiente e ao mar, há agora também a promover ações de limpeza escolas, escuteiros, organizações de solidariedade social, e mesmo empresas, embaixadas e clubes desportivos, disse.

De acordo com a responsável o plástico representa 90% do lixo que é recolhido, e em termos de itens é campeã a beata. No fim do verão são as pontas de cigarro que mais se encontram nas praias, deixadas pelos banhistas durante a época balnear, e a quantidade é tal que Flávia Silva considera que devia de haver uma ação de limpeza específica.

A responsável admite que a questão não seja consensual mas diz que, pessoalmente, advoga a proibição de se fumar nas praias. Tal já acontece, por exemplo, em Barcelona, Espanha.

“Julgo que tem havido uma redução das pontas de cigarro, e nota-se também um investimento maior dos municípios e dos apoios de praia, na sensibilização, mas a verdade é que as pessoas continuam a achar que não faz mal. E os filtros demoram cinco anos a desaparecer, e os peixes e as aves comem esses filtros”, diz Flávia Silva, lembrando que “na verdade” até é proibido atirar pontas de cigarro para o chão.

Além das beatas os cotonetes são outros materiais muito encontrados, mas também embalagens de produtos consumidos nas praias. Os invólucros em plástico das palhinhas (que já não são de plástico) “são às centenas”. “Esses resíduos continuam a ser um problema”, lamenta.

E do fundo do mar, diz, chegam também garrafas de vidro e de plástico e sobretudo material ligado às artes de pesca e redes.

Flávia Silva admite que são os adultos que deixam mais lixo nas praias, e considera por isso importante a participação de cada vez mais pessoas nas ações de limpeza, porque, diz, quem participa numa ação assim vai passar a ver o lixo de outra forma.

Por isso também fica satisfeita por haver cada vez mais participantes de setores da sociedade diversificados. No ano passado, quando a União Europeia se associou pela primeira vez, Portugal foi dado como exemplo de boas práticas, porque o total das ações de Portugal era o dobro das ações de outros países envolvidos na campanha, disse.

E satisfeita também por estar a haver uma diminuição de lixo, ainda que a redução não seja tão grande como gostaria.

Ações como as que hoje começam contribuem para uma mudança de mentalidades, afiança, acrescentando que ela é fundamental, porque ainda há muito lixo que é largado em praias inacessíveis, porque na passagem do ano é crítica a quantidade de lixo deixado nos areais, de garrafas de champanhe e copos de vidro e plástico a “confetis” de plástico.

Flávia Silva não quer destacar ações de limpeza, porque todas são importantes, mas diz que no dia 24, em Sesimbra, se vão tentar reunir 600 mergulhadores numa iniciativa de limpeza subaquática que quer bater um recorde.

Em Cascais haverá hoje uma ação de limpeza subaquática e outras no concelho e nos concelhos de Sintra e de Mafra, neste caso, na praia da Foz do Lizandro, com representantes da Comissão Europeia, da Fundação Oceano Azul e da autarquia.

Desde 2019 já foram recolhidas, em Portugal, 192 toneladas de lixo marinho em aproximadamente 1.250 ações de limpeza costeira, as quais envolveram quase 24 mil voluntários e 250 organizações.

Em média, 14 milhões de toneladas de plástico chegam ao oceano todos os anos. A cada minuto entram no mar o equivalente a dois camiões carregados de plástico.

A Fundação Oceano Azul diz que todos os anos um milhão de aves marinhas, cem mil mamíferos e tartarugas marinhas, assim como um infindável número de peixes, morrem vítimas do plástico presente no oceano.