Desde que se assumiram como candidatos às diretas de 11 de janeiro, o atual presidente, Rui Rio, o antigo líder parlamentar Luís Montenegro e o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, apenas estiveram juntos no debate da RTP, na semana passada, e cruzaram-se numa iniciativa da JSD, no Fundão, no final de novembro.

No debate televisivo, foi visível que as divergências internas que marcaram os dois anos do mandato de Rui Rio continuam bem vivas, mas com os candidatos genericamente de acordo nas críticas à governação socialista e quanto ao modelo económico que defendem para a sociedade.

Nas suas iniciativas públicas, Montenegro e Pinto Luz têm criticado a estratégia de Rio que levou a derrotas eleitorais nas europeias e legislativas e acusado o atual líder de ‘colar’ o partido aos socialistas, dizendo que “subalternizou” o partido com os acordos que firmou com o Governo ou até que quer transformar o PSD numa “espécie de PS2.

Já Rui Rio tem-se mantido firme na defesa do posicionamento ideológico que pretende para o partido - “Portugal ao centro” é o seu slogan de candidatura -, e reiterado que não pode rejeitar futuros acordos de regime com os socialistas, desde que sejam bons para o país.

A posição quanto ao próximo Orçamento do Estado - que só será conhecido na próxima segunda-feira - separa Montenegro dos outros candidatos, já tendo defendido que o PSD deve votar contra, ao contrário de Rio e Pinto Luz, que preferem esperar pelo documento, apesar de entenderem que será muito difícil viabilizá-lo.

As autárquicas são a principal meta fixada pelos três, embora com diferentes graus de otimismo quanto ao resultado: Rio quer ganhar “muito mais câmaras” do que o PSD tem atualmente, enquanto Pinto Luz e Montenegro sobem a fasquia para a vitória ao PS, com este último a considerar também possível voltar a ganhar a Câmara da capital, que foge ao PSD desde 2007.

Nas legislativas, ambos os desafiadores de Rio dizem querer ganhar em 2023, com Montenegro a falar até em “maioria absoluta” e vitória para duas legislaturas.

Até ao debate, a campanha interna decorreu praticamente em circuito fechado, com Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz a multiplicarem-se em sessões de esclarecimento com militantes, à porta fechada, e Rio a deixar esse tipo de iniciativas quase sempre para o fim de semana.

Durante a semana, o atual presidente e líder parlamentar concentra-se nas suas funções institucionais, e até partilha nas redes sociais como candidato as principais intervenções na Assembleia da República nos debates quinzenais como primeiro-ministro, António Costa.

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Rui Rio, atual presidente do PSD créditos: LUSA

Nesta primeira fase da campanha, as redes sociais têm sido um veículo privilegiado para os candidatos divulgarem os vários apoios recebidos e até mensagens políticas.

A candidatura de Rio reclama o apoio de 11 presidentes de distritais do PSD - embora sejam raras as estruturas que formalmente deram apoio a qualquer candidato -, entre os quais Alberto Machado, do Porto, José Manuel Fernandes, de Braga, ou Salvador Malheiro, de Aveiro, e também ‘vice’ do partido.

Entre os ‘notáveis’ que apoiam Rio contam-se, além dos membros da atual direção, o militante número um do PSD, Francisco Pinto Balsemão, a ex-líder Manuela Ferreira Leite, o ex-líder parlamentar Fernando Negrão, o antigo presidente do Governo Regional da Madeira Alberto João Jardim e terá como mandatária para a Juventude a secretária-geral da JSD, Sofia Matos.

A líder da Juventude Social-Democrata, Margarida Balseiro Lopes, apoia Luís Montenegro - e é uma das suas mandatárias nacionais, a par do médico e gestor Luís Reis -, com o antigo presidente da bancada parlamentar do PSD a ter ao seu lado muitos dos deputados e ex-governantes do ex-líder Pedro Passos Coelho, como Hugo Soares, José Matos Correia, Pedro Pinto, Maria Luís Albuquerque, Aguiar-Branco, Rui Machete ou Paula Teixeira da Cruz, bem como da histórica militante Conceição Monteiro.

O antigo líder da JSD Pedro Duarte, que chegou a ponderar uma candidatura à liderança do PSD, também está com Montenegro. Miguel Morgado, que desistiu de se candidatar por não reunido apoios suficientes, anunciou igualmente que votará no antigo líder parlamentar.

Montenegro recolhe ainda apoio de alguns nomes que estiveram com Rio há dois anos, casos de António Leitão Amaro ou dos presidentes das distritais de Viseu, Pedro Alves (que é seu diretor de campanha), ou de Leiria, Rui Rocha, bem como do atual vice-presidente da distrital de Lisboa, Rodrigo Gonçalves, que foi um dos principais operacionais da campanha na capital do atual presidente.

Já o líder da distrital de Lisboa, Ângelo Pereira, está com Miguel Pinto Luz, que reclama o apoio de nove das dez concelhias do distrito (todas exceto Sintra), contando igualmente com Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, de quem é ‘vice’, e, no Porto, com o presidente da concelhia Hugo Neto e do antigo líder da distrital Virgílio Macedo, bem como com o líder da distrital de Setúbal, Bruno Vitorino.

Os ex-governantes Miguel Relvas, Marco António Costa, José Eduardo Martins ou Mira Amaral estão nesta disputa ao lado de Pinto Luz, tal como o ex-secretário geral Matos Rosa, o antigo diretor da campanha presidencial de Cavaco Silva, Alexandre Relvas, o vice-presidente da JSD Alexandre Poço ou a deputada Ana Miguel Santos, que foi escolhida pela atual direção como cabeça de lista por Aveiro nas últimas legislativas.

Três candidatos querem disputar vitória, se possível à primeira volta

A um mês das eleições diretas, os responsáveis pelas campanhas de Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz apostam numa intensificação do ritmo da disputa interna, que passará por todos os distritos.

Em declarações à Lusa, Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD e diretor de campanha do atual presidente, assume que a expectativa é uma vitória à primeira volta, mas sem euforias.

“Estamos a trabalhar como se estivesse zero a zero, apesar de sentirmos que há uma grande aceitação da militância de base na candidatura de Rui Rio”, afirmou.

Dizendo aguardar com expectativa as datas de 13 de dezembro - prazo limite para os militantes atualizarem os seus dados junto do partido - e de 22 - quando fecham os cadernos eleitorais -, o também presidente da Câmara de Ovar considera que as novas regras de pagamento de quotas “têm tido uma grande aceitação dentro do partido”.

“O grande objetivo da candidatura do dr. Rui Rio é, com estas condições, tentar aumentar ao máximo o universo eleitoral para o dia das eleições, ou seja, temos a perceção que temos vantagem quanto mais pessoas estiverem em condições de votar”, defendeu.

Quando ao modelo de campanha, esta continuará com reuniões “quase intimistas” com os militantes por todo o país e é assumido que Rio “vai continuar a aproveitar o palco nacional” que tem por ser presidente e líder parlamentar do partido e, na reta final, fazer “uma aposta maior naqueles que são os distritos mais decisivos”, como Porto, Lisboa, Braga e Aveiro.

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Luís Montenegro, ex-líder parlamentar do PSD créditos: LUSA

Também a campanha do antigo líder parlamentar Luís Montenegro promete ir a todos os distritos, e continuar com um modelo de sessões com militantes onde estes têm a oportunidade de fazer perguntas ao candidato.

“A agenda começou a intensificar-se de acordo com a disponibilidade das estruturas locais: Luís Montenegro sempre disse que iria onde houvesse militantes e onde fosse chamado”, afirmou o deputado e seu diretor de campanha, Pedro Alves.

Considerando que será natural que o candidato vá mais vezes aos concelhos “onde existem mais militantes”, Pedro Alves defende que “é possível vencer à primeira volta”, falando de “um crescendo” em torno do apoio a Luís Montenegro.

“É possível vencer à primeira volta, queremos vencer à primeira volta”, afirmou, alertando, contudo, que o novo sistema de pagamento de quotas introduzido em simultâneo com o processo eleitoral significará “um universo eleitoral mais curto” e que torna mais difícil a vantagem de 50% para qualquer um dos três candidatos, necessária para evitar uma segunda volta em 18 de janeiro.

À Lusa, o diretor de campanha Miguel Pinto Luz, José Matos Rosa, concorda que o facto de haver menos eleitores faz com que os resultados sejam “menos adquiridos” à partida, mas assegura que o objetivo do vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais é “ganhar”.

“O que pretendemos é que as coisas se esclareçam de uma forma que não deixe dúvidas, se for à primeira ou à segunda volta, nós cá estaremos para ir à segunda volta se for necessário”, afirmou.

O antigo secretário-geral do PSD considera que os apoios que Pinto Luz tem recolhido no terreno “levam a crer num bom resultado, e um bom resultado é ganhar”: “Não é uma terceira via para cumprir calendário, é uma candidatura para ir até ao fim”, assegurou.

Quanto ao último mês de campanha, Matos Rosa promete igualmente a presença do candidato em todos os distritos e nas Regiões Autónomas, que está igualmente disponível para mais debates televisivos - ainda não estando acordada qualquer data entre as três candidaturas.

O prazo para a entrega de candidaturas à liderança do PSD só termina a 30 de dezembro - embora seja muito pouco provável que apareçam novos candidatos -, data limite também para a entrega das moções de estratégia global e dos orçamentos de campanha.

A menos de duas semanas do fecho dos cadernos eleitorais, estão em condições de votar perto de 26.000 militantes, muito longe do universo eleitoral de há dois anos, superior a 70 mil, e até dos votantes, que foram mais de 42 mil.

Apesar de o partido estar dividido em 23 estruturas (19 distritais, duas regionais e duas da emigração), são sobretudo seis que vão decidir quem será o futuro presidente do PSD, já que concentram mais de dois terços deste universo: Porto, Lisboa Área Metropolitana, Braga, Aveiro, Leiria e Coimbra.

Nonas eleições diretas podem obrigar pela primeira vez a uma segunda volta

As próximas eleições diretas, as nonas no PSD, podem obrigar a uma segunda volta pela primeira vez na história do partido, apesar de a regra ter sido inscrita nos estatutos sociais-democratas há sete anos.

A eleição direta do presidente por todos os militantes foi introduzida no PSD em 2006 pelo então líder Marques Mendes, mas só em 2012 foi colocada nos estatutos a obrigatoriedade de uma segunda volta sempre que um candidato não obtenha “a maioria absoluta dos votos validamente expressos”, 50%.

Pelo meio, as eleições mais renhidas no PSD disputaram-se, até agora, em 2008, com diferenças inferiores a dez pontos entre o primeiro e o terceiro candidatos, mas ainda sem a regra da segunda volta: Manuela Ferreira Leite foi a vencedora com 37,9% dos votos, Pedro Passos Coelho ficou em segundo com 31,06%, seguindo-se Pedro Santana Lopes com 29,6%. Em quarto lugar ficou Patinha Antão, com 0,68%.

PSD: Miguel Pinto Luz apresenta campanha à liderança do partido
Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais créditos: LUSA

Das oito eleições diretas já disputadas no PSD, em quatro apenas houve um candidato a líder, caso da primeira que consagrou Marques Mendes por este novo método e das três reeleições do anterior presidente, Pedro Passos Coelho.

Só por duas vezes as diretas foram disputadas entre dois candidatos: em 2007, entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, que o segundo venceu com uma diferença de dez pontos percentuais; e em 2018, entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, que o atual presidente do PSD venceu com uma diferença de oito pontos.

As próximas diretas serão as primeiras disputadas entre três candidatos - confirmando-se no dia 30 de dezembro que apenas Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz se apresentam a votos -, já tendo havido duas disputadas entre quatro candidatos (em 2008 e em 2010).

O universo eleitoral para as próximas diretas só ficará definido depois de 22 de dezembro, prazo limite para pagamento de quotas, situando-se atualmente perto dos 26.000 militantes, muito abaixo dos 70.385 em condições de votar em 2018 (acabando por votar 42.655, cerca de 60% do total).

Nas eleições diretas do PSD em que houve mais do que um candidato, o universo eleitoral situou-se entre os 63 mil, em 2007, e os 78 mil, em 2010.

Nas primeiras diretas do PSD, em 05 de maio de 2006, com o candidato único Marques Mendes, foram cerca de 55 mil os eleitores, tendo votado apenas perto de 20 mil.

Em 2007, com Marques Mendes contra Menezes, subiu o universo eleitoral – para 63.042 – e o número de votantes – 39.353.

Em 2008, com quatro candidatos à liderança (Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes e Patinha Antão) sobe novamente o número de eleitores – 77.090 – e o de votantes – 45.592.

Dois anos depois, em 2010, voltam a ser quatro os candidatos à liderança (Pedro Passos Coelho, Paulo Rangel, José Pedro Aguiar-Branco e Castanheira Barros) e regista-se o recorde no número de eleitores – 78.094 – e no de votantes, que ficam nos 51.748.

Nas eleições diretas de 2012, 2014 e 2016, Passos Coelho foi sempre candidato único e o número de eleitores rondou os 50 mil e o número de votantes andou perto dos 20 mil militantes.