A grande maioria dos 440 casos de contaminação deste novo vírus, que pertence a mesma família da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), foram registados nessa cidade construída às margens do rio Yangtsé.

A epidemia foi detetada pela primeira vez no último mês, num mercado de frutos do mar localizado na cidade. Desde então, nove pessoas morreram — e os cientistas temem uma possível mutação e propagação desenfreada do vírus.

Após terem ignorado a doença durante semanas, nos últimos dias os habitantes de Wuhan começaram a utilizar máscaras de proteção, segundo relatos de vários moradores da cidade contaram por telefone à agência France-Press (AFP).

"O medo realmente aumentou desde a última segunda-feira [21], quando informaram que o contágio acontece de forma direta entre pessoas", relata Melissa Santos, uma estudante dominicana que vive em Wuhan há pouco mais de dois anos.

Num primeiro momento, as autoridades indicaram que o vírus seria transmitido apenas de animais para pessoas, e que não havia contaminação entre humanos.

Charly Bonnassie, um estudante francês que viajou num comboio com origem em Wuhan, contou que "100% dos passageiros e dos funcionários" estavam a utilizar máscaras.

"Não existem máscaras disponíveis nas farmácias. Desapareceram todas", disse Vincent Lemarié, um professor de francês que leciona na Universidade de Hubei, a província de Wuhan.

Risco de contaminação 

As autoridades estão preocupadas pelo risco de contaminação a poucos dias de um grande feriado local — data em que milhões de chineses se preparam para viajar.

"Caso não seja necessário, aconselhamos que não venham a Wuhan", informou o autarca da cidade, Zu Xianwang, num comunicado vinculado na televisão estatal.

Numa conferência de imprensa dada em Pequim, o vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China, Li Bin, sugeriu aos moradores para que não saíssem da cidade.

De resto, detetores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida por postos de controlo; e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Assim como a polícia controla também a presença de animais selvagens e aves nos veículos que entram e saem da cidade.

No mercado onde surgiu a epidemia eram vendidos animais selvagens, segundo comunicou esta quarta-feira o diretor do Centro Nacional de Controlo e Prevenção de Doenças, Gao Fu. Contudo, não confirmou se esses animais eram ou não a origem da infeção.

O local de comércio, principalmente voltado para a pesca, mantém uma seleção variada de mercadorias, como lobos e gatos-civeta, segundo informações divulgadas pelos órgãos de comunicação chineses.

Sem festividades

Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades cancelaram as comemorações previstas para o feriado, no qual é comemorado o Ano Novo chinês, marcado para o próximo 25 de janeiro. O famoso templo budista Guiyuan — que no último ano recebeu 700 mil pessoas para a ocasião — já não vai receber qualquer evento. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam o museu.

Cerca de 30 mil pessoas já tinham comprado ingressos e outros 200 mil foram distribuídos de forma gratuita. O autarca local, criticado por ter organizado no último final de semana um banquete no qual recebeu 40 mil famílias, teve que explicar que desconhecia o tamanho real da epidemia.

"As pessoas estão um pouco preocupadas", diz Melissa Santos. "Um amigo que me tinha convidado para passar o Ano Novo com ele noutra cidade da província de Hubei preferiu cancelar a festa", explica.

"Ele tem medo de se contaminar. Pessoalmente, eu também prefiro cancelar a minha viagem para evitar encontrar-me com pessoas infetadas no comboio", acrescenta.

Por: Patrick Baert da agência AFP