Israel afirmou, esta quinta-feira, que espera que o Hamas liberte três reféns vivos no sábado para garantir a continuação do cessar-fogo em Gaza, depois do movimento palestiniano assegurar que respeitaria o cronograma estipulado pelo acordo.
A primeira fase do cessar-fogo, que entrou em vigor a 19 de janeiro, em Gaza, permitiu cinco trocas de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.
O movimento palestiniano, que governa Gaza, anunciou no início desta semana o adiamento da próxima troca marcada para este sábado, sujeita ao "cumprimento" do acordo e dos "compromissos retroativos das últimas semanas".
As negociações ficaram paralisadas por vários dias, mas o Egito e o Catar, que atuam como mediadores no conflito, conseguiram "superar os obstáculos" que ameaçavam o acordo, noticiou a imprensa egípcia esta quinta-feira.
Após este anúncio, o Hamas declarou que está pronto para implementar o acordo de tréguas e libertar os reféns israelitas, conforme estipulado no cronograma.
O porta-voz do governo israelita, David Mencer, alertou que a estrutura do acordo "estabelece claramente que três reféns vivos devem ser libertados sábado" pelo Hamas.
Se os três reféns não forem libertados no sábado ao meio-dia, "o cessar-fogo terminará", disse o porta-voz.
O Hamas afirmou anteriormente que estava comprometido com o acordo, desde que Israel honrasse a sua parte.
Posteriormente, o exército israelita anunciou que tinha atingido um lançador de mísseis em Gaza "de onde foi identificado um disparo", que segundo os militares caiu no território palestiniano.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ameaçou na terça-feira o Hamas com "combates intensos" na Faixa de Gaza se não libertasse os reféns, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou que se o movimento não libertasse "todos" os prisioneiros em Gaza, o "inferno" se iria instalar.
"Um inferno insuportável"
Duas fontes palestinianas relataram "progressos", e afirmam que os mediadores conseguiram fazer com que Israel prometesse implementar as disposições do protocolo humanitário a partir desta quinta-feira.
Se essa promessa for confirmada, materiais pré-fabricados, tendas, combustível, medicamentos, materiais para reabilitação de hospitais e mantimentos relacionados com o protocolo humanitário podem começar a ser levados para Gaza, disse outra fonte à AFP.
Um porta-voz do primeiro-ministro israelita afirmou que o seu país não irá permitir que "maquinaria pesada" entre em Gaza por Rafah, que fica a sul do território e se liga ao Egito.
Centenas de milhares de deslocados regressaram ao norte da Faixa de Gaza, uma área densamente povoada antes do conflito, mas deixada em ruínas pelos combates. "Gaza tornou-se um inferno insuportável, não podemos viver com este nível de destruição", disse Abdul Naser Abu al Omrain.
Jorge Moreira da Silva, chefe do Gabinete das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), declarou, após uma visita a Gaza, que não só tinha visto "um imenso sofrimento humano", apesar do cessar-fogo, mas também "um volume esmagador de escombros".
Marchas em "solidariedade"
Trump, cujo regresso à Casa Branca encorajou a extrema-direita em Israel, provocou indignação global ao propor a tomada de Gaza pelos EUA e o deslocamento da sua população para o Egito e a Jordânia. Esses dois países rejeitaram categoricamente a ideia.
O Hamas convocou marchas para expressar "solidariedade" no mundo inteiro e protestar contra a proposta de deslocar a população palestiniana.
Em Israel, dezenas de familiares de reféns mantidos em Gaza bloquearam uma autoestrada perto de uma área comercial em Telavive com faixas a exigir que os acordos sejam respeitados, observou um jornalista da AFP.
O estado dos reféns libertados no sábado gerou indignação em Israel, onde a opinião pública ficou chocada com as imagens dos três homens extremamente magros e abatidos a ser interrogados por membros do Hamas antes de regressarem.
O ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023 no sul de Israel causou 1.210 mortes, a maioria civis, segundo uma contagem baseada em dados oficiais. Das 251 pessoas sequestradas, 73 permanecem em Gaza, das quais pelo menos 35 morreram, de acordo com o exército israelita.
A ofensiva israelita em Gaza deixou pelo menos 48.222 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestiniano, considerados confiáveis pela ONU.
*Com AFP
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