
Dirigentes da União Europeia (UE) e da NATO reuniram-se em Paris na tentativa de mostrar uma frente unida perante a mudança na política dos Estados Unidos em relação à guerra na Ucrânia, mas o eventual envio de tropas de paz gerou discordâncias.
Os líderes europeus temem que Trump feche um acordo com a Rússia em negociações que excluam a Ucrânia e a UE.
Perante essa hipótese, o anfitrião do encontro, o presidente francês Emmanuel Macron, garantiu que a Europa deseja "uma paz sólida e duradoura na Ucrânia. Para isso, a Rússia deve cessar a agressão e isso deve vir acompanhado de garantias de segurança fortes e críveis para os ucranianos".
Macron fez a declaração numa conversa telefónica com o homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky, que expressou que os europeus partilham "uma visão comum: as garantias de segurança devem ser robustas e confiáveis".
Durante a reunião, na qual compareceram os chefes de governo de Alemanha, Reino Unido, Itália, Polónia, Espanha, Países Baixos e Dinamarca, a ideia de enviar tropas para a Ucrânia, mesmo que futuramente para garantir um cessar-fogo, causou atritos.
O chefe de governo da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou após a reunião que o debate é "altamente inadequado" e "precoce".
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, também disse que "é muito incipiente" falar sobre o envio de tropas para a Ucrânia.
"Neste momento não há paz, e o esforço deve ser alcançar a paz o mais rápido possível", afirmou.
Também compareceram o presidente do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
"Paz através da força"
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu que "a Ucrânia merece a paz através da força" e que isso deve ser alcançado "respeitando a sua independência, soberania e integridade territorial, com fortes garantias de segurança".
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, afirmou que os europeus estão "dispostos e preparados". "Será necessário decidir os detalhes, mas o compromisso está claro", garantiu.
Um ator-chave na reunião foi o primeiro-ministro britânico, o trabalhista Keir Starmer, que na próxima semana visitará Trump em Washington e procura desempenhar um papel de facilitador entre os Estados Unidos e os europeus.
Starmer afirmou que está disposto a propor o envio de forças britânicas como parte de um contingente maior, se um acordo de paz duradoura for alcançado, mas ressaltou que é necessário o apoio de Washington, pois "uma garantia dos Estados Unidos é a única maneira de dissuadir efetivamente a Rússia de atacar a Ucrânia novamente".
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, constatou após a reunião que as relações com os Estados Unidos "entraram numa nova fase".
O encontro, convocado por Macron, ocorreu num momento delicado para as relações transatlânticas.
Tanto Kiev quanto os países europeus temem ser excluídos das negociações para encerrar o conflito na Ucrânia, que a Rússia invadiu em fevereiro de 2022.
A desconfiança começou após a conversa por telefone, na quarta-feira, entre o presidente americano Donald Trump e o seu colega russo Vladimir Putin para discutir o início das negociações.
O contacto entre os dois líderes foi um dos principais tópicos da Conferência de Segurança realizada no fim de semana em Munique.
Trump disse no domingo que poderia encontrar-se com Putin "muito em breve" e o Kremlin anunciou depois que uma reunião entre autoridades russas e americanas está marcada para hoje em Riade, na Arábia Saudita.
A reunião, confirmada pelos Estados Unidos, tentará "restaurar" as relações entre Moscovo e Washington e abordar "possíveis negociações sobre a Ucrânia", segundo a Presidência russa.
O Departamento de Estado americano insistiu, no entanto, em que Washington não considera a reunião como o início de "negociações" sobre a Ucrânia.
Maior "financiamento"
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, alertou após a reunião que a Rússia "está a ameaçar agora toda a Europa".
Europa e Estados Unidos devem "agir sempre juntos" pela segurança coletiva, declarou Scholz.
O chanceler alemão também pediu maior "financiamento" para as capacidades de defesa, um ponto no qual todos estiveram de acordo de forma geral.
No sábado, Zelensky pressionou os seus aliados europeus em Munique a reforçarem a unidade e instou-os a criar um Exército europeu.
Perante o anúncio do encontro entre Rússia e Estados Unidos em Riade, o presidente ucraniano insistiu hoje que o seu país "não reconhecerá" nenhum acordo concluído sem ele sobre o seu futuro e criticou o facto de Kiev não ter sido informado sobre as conversas. O chefe de Estado ucraniano viaja para a Arábia Saudita na quarta-feira.
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