“As labaredas batiam muito forte na carrinha, ainda fui contra um pinheiro e andei por valetas”, disse Hugo Manuel Almeida Santos, que falava hoje, à agência Lusa, no Hospital de Avelar, no concelho de Ansião (distrito de Leiria), onde o pai, de 57 anos de idade e com “muito pouca mobilidade”, está internado, por não ter onde ficar.
“A casa ardeu toda, ficou tudo queimado, fiquei sem nada”, relatou Hugo Santos, que hoje voltou ao local onde residia, em Figueira, “mesmo junto ao IC8 [itinerário complementar 8], na freguesia da Graça, no concelho de Pedrógão Grande, e onde “está tudo, mesmo tudo, desfeito em cinza e carvão.
“Ninguém sabe explicar” como Hugo Santos se conseguiu salvar a si, ao pai, à mulher e à filha, de 11 anos de idade.
“Temi pela vida de nós todos, pensei que ficávamos lá todos”, repetiu, recordando que as chamas “bateram” de forma insistente na viatura, cujo controlo, “por várias vezes”, sentiu que podia perder.
Hugo Santos também não consegue encontrar palavras para contar como se salvou, nem como tudo aconteceu – “nunca, por nunca, vi uma coisa comparável a esta”, assegurou, referindo-se ao modo como o incêndio deflagrou e à intensidade com que alastrou.
O pai de Hugo Santos é o único dos cerca de 30 feridos que está internado na Unidade de Cuidados Continuados/Hospital da Fundação Nossa Senhora da Guia, onde no sábado e hoje foram assistidos por terem sido vitimados pelo fogo de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no norte interior do distrito de Leiria.
O internamento mantém-se por “motivos sociais” e não tanto por razões de saúde, disse à agência Lusa um responsável pelo estabelecimento.
Dos feridos que ali deram entrada já todos tiveram alta médica ou foram reencaminhados para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, mas “nenhum sofreu ferimentos que possam ser considerados graves, são todos feridos ligeiros”, acrescentou a mesma fonte.
Depois de uma noite e madrugada dominadas por um “invulgar” movimento de feridos e meios de socorro, o hospital da vila de Avelar regista hoje o “movimento calmo”, próprio de um domingo.
Só algumas ambulâncias estacionadas junto à entrada do estabelecimento, para a eventualidade de terem de entrar em ação naquela região, coberta de fumo, mas com as chamas a alguma distância, tornavam o ambiente algo diferente do habitual no hospital, onde, a meio da tarde, se deslocaram o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, e do presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, José Tereso.
Segundo o balanço feito pelas 16:00, pelo menos 61 pessoas morreram no incêndio que atinge Pedrógão Grande e outros dois concelhos do distrito de Leiria desde sábado, disse hoje o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes.
O fogo deflagrou ao início da tarde de sábado numa área florestal em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), e alastrou-se aos municípios vizinhos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, obrigando a evacuar povoações e deixando-as isoladas.
O primeiro-ministro, António Costa, afirmou que o incêndio terá sido causado por trovoadas secas, salientando, no entanto, que "é prematuro tirar ilações" sobre o que aconteceu.
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