A poucas horas de abrirem as urnas no Reino Unido, as últimas sondagens davam a vitória a Boris Johnson. Mas ao longo da campanha a distância entre os Conservadores e os Trabalhistas, liderados por Jeremy Corbyn, foi diminuindo. A maioria absoluta para os Tories (como também são conhecidos os Conservadores) não está garantida.
Segundo o YouGov, um instituto britânico de referência a nível internacional, estas eram as percentagens atribuídas esta terça-feira aos principais partidos e o número correspondente de lugares no parlamento (para conseguir a maioria, um partido precisa de chegar às 326 cadeiras):
Partido Conservador 43% (339)
Partido Trabalhista 34% (231)
Liberais Democratas 12% (15)
Verdes 3% (1)
Partido Nacional Escocês (SNP) 3% (41)
Outros 5% (5)
* Nestes valores, o YouGov não inclui os 18 assentos correspondentes aos deputados eleitos pela Irlanda do Norte.
O jornal The Guardian, que faz uma compilação dos dados das empresas de sondagens mais reputadas do Reino Unido, apresenta valores semelhantes.
Estes resultados dariam ao Partido Conservador mais 22 lugares do que em 2017 e seria o melhor resultado desde 1987. Já os Trabalhistas perderiam 31 lugares em relação às últimas eleições.
Nestes valores salta à vista o facto de os Verdes e o Partido Nacional Escocês obterem a mesma percentagem, mas um número de assentos muito diferente. Isso acontece porque, no Reino Unido, em cada circunscrição (unidade em que se divide o sistema eleitoral) apenas é eleito o deputado mais votado. Isso significa que um partido pode ter muitos votos em várias circunscrições mas não chegar a eleger ninguém se os seus deputados não forem os mais votados.
A leitura dos dados deve considerar margens de erro, uma vez que as oscilações podem trazer cenários significativamente diferentes. No caso do Partido Conservador, por exemplo, o número de assentos parlamentares pode ir dos 311 aos 367, o que implica uma vitória sem ou com maioria absoluta.
Os especialistas em sondagens têm sido cautelosos nas previsões devido aos erros registados nas eleições legislativas de 2017, quando a maioria das sondagens não antecipou uma recuperação de Jeremy Corbyn relativamente a Theresa May, fazendo os conservadores perderem a maioria absoluta.
O YouGov lembra que os valores apresentados não se tratam de sondagens, mas sim de uma metodologia que combina valores de sondagens com as características demográficas dos eleitores. Estes dados resultam de 105.612 entrevistas a eleitores registados, realizadas durante uma semana até ao dia 10 de dezembro.
Estes são os principais cenários que podemos esperar destas eleições
Clara vitória de Boris Johnson: via aberta para o Brexit
Se os conservadores conquistarem uma maioria absoluta, Boris Johnson quer garantir o Brexit. Antes do Natal pretende que o Parlamento discuta a ratificação do acordo negociado com Bruxelas, para que a aprovação final chegue em janeiro, permitindo a saída a 31 do primeiro mês do ano, depois de o prazo já ter sido adiado três vezes.
O acordo de saída estabelece as condições para o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia após 47 anos de casamento tumultuoso, em termos de direitos dos cidadãos e cumprimento de compromissos financeiros. Também introduz um período de transição até o final de 2020, prorrogável, e trata o problema da fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, membro da União Europeia.
Mas a saga não parará por aí. Londres terá até 31 de dezembro de 2020 para negociar o seu futuro relacionamento com o bloco europeu. Um prazo extremamente apertado para um tipo de negociação que geralmente leva anos.
Conservadores lideram, mas sem maioria: compromissos são necessários
Se não conseguir chegar às 326 cadeiras na Câmara dos Comuns, Boris Johnson tentará permanecer à frente de um Governo minoritário. Neste caso, precisará de encontrar aliados para fazer valer as suas ideias, o que promete ser difícil.
Como demonstrado nos últimos meses, governar com aliados pode levar a bloqueios e reduzir as possibilidade de aprovação do acordo do Brexit, ressuscitando o temido cenário de um divórcio sem acordo. Após a saída, isso complicaria as difíceis negociações comerciais que se aproximam com a União Europeia.
Trabalhistas assumem o poder: novo referendo
Se uma maioria absoluta parece fora do alcance do trabalhista Jeremy Corbyn, o líder da oposição poderia conseguir as chaves do número 10 de Downing Street se formasse uma aliança com o SNP, contrários ao Brexit.
Se chegar ao poder, o Partido Trabalhista prometeu renegociar o acordo negociado por Boris Johnson e submetê-lo dentro de seis meses após a chegada ao poder a um novo referendo, com a opção de permanecer na União Europeia.
Nesta campanha, Jeremy Corbyn anunciou que permaneceria “neutro" para não acentuar as fraturas de um país dividido por três anos de crise política. Ao contrário do líder, muitos membros do partido anunciaram que lutariam pela permanência na União Europeia.
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