A vitória eleitoral é um mandato “não apenas para tornar efetivo o Brexit, mas para unir este país e levá-lo adiante, com foco nas prioridades dos britânicos”, afirmou Johnson depois de se conhecerem os resultados das eleições desta quinta-feira.

O recém-eleito primeiro-ministro quer trazer unidade ao país, embora a sua popularidade seja tudo menos óbvia. É-lhe reconhecido carisma - essencialmente por parte dos apoiantes, mas não só -, mas é ao mesmo tempo alvo de muitas críticas.

Durante a campanha para estas eleições, o político com uma imagem marcada pelo cabelo louro despenteado trocou pneus de carros de Fórmula 1, durante a visita à fábrica da Red Bull no sul de Inglaterra, tosquiou ovelhas, numa deslocação ao País de Gales, onde anunciou que quer aumentar o investimento na região, e degustou whisky na Escócia.

Em julho deste ano foi escolhido pelo partido para suceder a Theresa May quando esta se demitiu. Em poucos meses a liderança de Boris Johnson sofreu uma série de reveses: em setembro, 21 deputados conservadores foram expulsos do partido depois de se rebelarem e de tentarem evitar um Brexit sem acordo (entretanto alguns destes deputados já foram readmitidos); no mesmo mês, o primeiro-ministro tentou suspender os trabalhos parlamentares mas a justiça acabou por considerar a decisão ilegal; já em outubro, acabou por ser forçado a pedir um terceiro adiamento do Brexit, mesmo depois de ter dito que preferia “estar morto” do que admitir adiar a saída mais uma vez.

Apesar das polémicas, o país decidiu dar carta branca a Johnson para que possa cumprir a sua grande promessa: retirar o país da União Europeia.

Como BoJo chegou até aqui

Alexander Boris de Pfeffel Johnson nasceu em 1964 em Nova Iorque, no seio de uma família de políticos, jornalistas e celebridades.

De acordo com a sua irmã, Rachel, quando era criança, Al, para a família, queria ser o “rei do mundo”.

Seguindo a trajetória clássica das elites britânicas, BoJo, como é hoje popularmente conhecido, estudou nas prestigiadas escolas de Eton e Oxford, e mais tarde na Escola Europeia de Bruxelas. O seu pai foi um dos primeiros eurodeputados na capital belga.

O atual primeiro-ministro ganhou projeção política quando foi eleito presidente da Câmara de Londres, em 2008.  E, embora lhe atribuam alguns projetos desastrosos, brilhou com os bem sucedidos Jogos Olímpicos de 2012.

Em julho 2016, foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros por Theresa May. Dois anos depois demitiu-se por divergências sobre a estratégia para o Brexit.

Em julho deste ano acabou por suceder a May, quando a ex-primeira-ministra abandonou o cargo.

Carismático e controverso

Boris Johnson, de 55 anos, fã de Winston Churchill - sobre quem escreveu uma biografia -, desperta muitas críticas, sendo acusado de ter uma retórica populista. As suas declarações já lhe valeram até a comparação com Donald Trump e uma falta de rigor que muitos denunciam como mentiras.

Em 1987, começou uma carreira de jornalista em The Times, que o demitiu um ano depois por inventar umas declarações. Entre 1989 e 1994, foi correspondente do Daily Telegraph em Bruxelas. "Não inventava as histórias, mas caía no exagero", lembra Christian Spillmann, jornalista da AFP em Bruxelas nestes anos.

Eleito deputado em 2001, perdeu o seu cargo três anos depois por mentir sobre um caso extraconjugal - mas voltou a ser eleito em 2005.

Protagoniza muitas vezes situações caricatas que acaba por conseguir que joguem a seu favor.

Em 2012, durante os Jogos Olímpicos, as imagens de um Jonhson preso num slide a acenar, pendurado, com pequenas bandeiras do Reino Unido acabaram por lhe render popularidade.

Já durante a campanha para estas eleições o primeiro-ministro britânico divulgou um vídeo eleitoral de apelo ao voto e a favor do Brexit, no qual faz a paródia de uma cena do filme "O Amor Acontece". O vídeo já tem quase dois milhões de visualizações no Facebook.

Da defesa do Brexit ao pedido de adiamento da saída… contra a sua vontade

No referendo de 2016, Boris Johnson protagonizou a campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia e foi um dos críticos mais proeminentes da estratégia do Governo de Theresa May para o Brexit, tendo prometido aplicar a saída até ao prazo de 31 de outubro.

Mais tarde, acabou por ser forçado a pedir o adiamento da saída por três meses. Boris Johnson foi obrigado a fazê-lo porque o calendário para concluir a aprovação do acordo, em três, dias foi chumbado no parlamento britânico.

O primeiro-ministro fez questão de deixar claro que o adiamento foi "imposto ao governo contra a sua vontade”.

Boris Johnson prometeu que não vai "perturbar deliberadamente o funcionamento da UE", mas que vai defender os direitos do Reino Unido enquanto fizer parte do bloco.

As eleições desta quinta-feira eram vistas como uma forma de romper com os recorrentes impasses no parlamento, que chumbou três vezes um acordo negociado por Theresa May.

Agora o Partido Conservador conseguiu a maioria absoluta, como as sondagens vinham indicando, e a vitória deixa a porta aberta para que Boris Johnson cumpra a tão esperada saída da União Europeia.

(Notícia atualizada às 10h de dia 13 de dezembro já com informação dos resultados das eleições)