Esta terça-feira foi prolífica em novidades sobre nomes que vão ou não constar nas listas do dois maiores partidos portugueses, PS e PSD, às eleições legislativas antecipadas que vão ocorrer no próximo dia 30 de janeiro.
Começando pelas ausências dos nomes grandes da política nacional, hoje ficou-se a saber que o ex-ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita comunicou a António Mendonça Mendes, líder da Federação de Setúbal do PS, círculo pelo qual tem sido candidato a deputado desde 2002, que não tenciona ser novamente candidato a deputado nas próximas eleições legislativas.
Recorde-se que Cabrita pediu a sua demissão do Governo, depois de ter sido conhecida a acusação de homicídio por negligência ao motorista do seu carro oficial, pelo atropelamento de um trabalhador em 18 de junho na autoestrada A6.
Quando anunciou a sua demissão, Eduardo Cabrita alegou que não podia permitir que este caso tivesse um “aproveitamento político absolutamente intolerável”, visando penalizar o Governo, o primeiro-ministro, António Costa, e o PS.
Também no campo socialista, a ex-ministra da Administração Interna e atual vice-presidente da bancada socialista Constança Urbano de Sousa comunicou ao secretário-geral do PS, António Costa, que não se se recandidatará a deputada nas eleições legislativas.
Esta posição consta de uma mensagem que Constança Urbano de Sousa enviou aos deputados do PS do distrito do Porto, círculo pelo qual foi eleita deputada nas eleições legislativas de 2019.
“Sinto que tenho o dever de vos informar que, tendo sabido que iria integrar as listas do PS às legislativas de 2022, formalizei junto do nosso secretário-geral [António Costa] a minha decisão de não me recandidatar à Assembleia da República”, escreve a ex-ministra da Administração Interna entre novembro de 20165 e outubro de 2017.
A vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS refere depois que abandona as funções de deputada na Assembleia da República “por razões puramente pessoais”.
Já o PSD, que teve esta terça-feira reunião da Comissão Política Nacional e do Conselho Nacional, passou o dia sob a notícia de que Rui Rio estava a afastar os apoiantes de Rui Rangel das listas dos sociais-democratas.
Em declarações aos jornalistas no final da reunião da Comissão Política Nacional e antes do Conselho Nacional, que irá votar a proposta de listas, Rio considerou que deu “alguns sinais de unidade, mas ao mesmo tempo de renovação”.
“Fizemos um esforço de renovação particularmente em deputados que possam estar há muitos anos no parlamento”, afirmou, embora escusando-a a adiantar exemplos, dizendo que “as listas estão a ser finalizadas”.
Quanto aos sinais de unidade, Rio considerou que foi tentado “um equilíbrio” com as propostas feitas pelas comissões políticas distritais e concelhias.
“Não entrarmos numa situação em que só olhamos para aqueles que estavam do meu lado e correndo com os que estavam do outro”, afirmou, numa referência às recentes eleições diretas em que derrotou o eurodeputado Paulo Rangel.
Questionado se não teme ouvir, no Conselho Nacional que se seguirá, críticas de saneamento, Rio disse esperar que não, pelo menos de um ponto de vista “global” das listas.
“Pontualmente, o que conta estar e não está vai dizer que foi saneado, mas há pessoas que votaram pela minha vitória e também não estão”, disse.
Rui Rio considerou mesmo que, comparativamente com outras reuniões de direção de aprovação de listas, esta foi “a mais pacífica” a que assistiu.
Quem não viu as coisas da mesma forma foi Paulo Rangel, candidato derrotado nas últimas semanas eleições diretas do partido.
“Até agora, nós não temos ainda as listas, veremos. Eu gostava muito que houvesse sinais no sentido da unidade, mas, sinceramente, pelo que se viu nos cabeças de lista isso não é claro, pelo contrário”, afirmou, em Évora.
Em declarações aos jornalistas, à chegada ao Conselho Nacional do PSD, que está a decorrer esta noite na cidade alentejana, Paulo Rangel disse esperar que, na reunião, “haja alguns sinais” de unidade por parte da direção, porque “era importante”.
“Eu gostaria que houvesse sinais encorajadores no sentido da diversidade e da unidade e, até agora, eles não apareceram”, insistiu.
Questionado pelos jornalistas sobre se espera que as listas às legislativas de 30 de janeiro sejam facilmente aprovadas no Conselho Nacional, Rangel, que perdeu as diretas à liderança do partido para Rui Rio, escusou-se a fazer “prognósticos”.
“O meu ponto de vista é avaliar se realmente, havendo disponibilidade para unidade, se houve algum esforço nesse sentido ou não. Até este momento, não, veremos entretanto”, afirmou.
No momento em que este texto é escrito sabe-se que o secretário-geral do PSD, José Silvano, vai ser o número dois da lista de candidatos a deputados do partido por Lisboa, enquanto o presidente do Conselho Estratégico Nacional, Joaquim Sarmento, será o quarto.
De acordo a lista do círculo da capital - o maior do país - a que a Lusa teve acesso, os primeiros nomes são todos indicados pela direção e não constavam das propostas da distrital de Lisboa: além do cabeça de lista, Ricardo Baptista Leite, de José Silvano e de Joaquim Sarmento, estão também na lista a vice-presidente Isabel Meirelles (em terceiro) e o líder da distrital da Área Oeste Duarte Pacheco (em quinto).
Também Paula Reis, membro do Conselho Nacional de Jurisdição, Lina Lopes, presidente das Mulheres Sociais-Democratas, ou Pedro Roque, líder dos Trabalhadores Sociais-Democratas, foram indicados pela direção em sexto, sétimo e oitavos lugares, respetivamente.
Em décimo lugar, surge o líder da Juventude Social Democrata, Alexandre Poço, que também teve um reforço de indicação por parte da distrital de Lisboa, embora o primeiro nome proposto por esta estrutura, Rodrigo Gonçalves, apareça apenas em 17.º lugar, que não deverá ser elegível, uma vez que em 2019 os sociais-democratas elegeram 12 deputados.
Já em relação ao Porto, Rui Rio não vai não ser cabeça de lista, num sinal que pretende “valorizar os mais jovens e governar para o futuro”.
A deputada Sofia Matos, 31 anos, é advogada e deputada e foi candidata a líder da JSD, tendo sido derrotada pelo atual presidente da estrutura, Alexandre Poço, será cabeça de lista do PSD pelo Porto. Nas últimas eleições, foi a nona pelo círculo do Porto.
No total, o PSD anunciou os seus cabeças de lista pelos 22 círculos eleitorais às legislativas, dos quais 11 são novos em relação a 2019, o que representa uma renovação de 50%.
Dos 22 nomes apresentados, 14 já eram deputados na anterior legislatura e apenas seis são mulheres (27% do total), menos uma do que as cabeças de lista de 2019.
Além de Sofia Matos e Baptista Leite, ‘estreiam-se’ como número 1 o deputado Artur Soveral de Andrade, que tinha sido o número três por Vila Real, e agora substitui no topo da lista por esse círculo Luís Leite Ramos, que foi vice-presidente na bancada nas últimas legislaturas e manifestou a vontade de não continuar como deputado.
António Topa Gomes, sobrinho do deputado António Topa, que faleceu no final da atual legislatura, substitui a deputada e investigadora Ana Miguel dos Santos como cabeça de lista por Aveiro, enquanto na Guarda o até agora ‘vice’ da bancada Carlos Peixoto deixará de ser deputado e dá lugar a Gustavo Duarte.
Em Viseu, regista-se a única ‘troca’ de cabeça de lista entre círculos: Hugo Carvalho passa do Porto para Viseu, onde substitui o recém-eleito presidente da Câmara Fernando Ruas.
Já em Leiria, que tinha tido como cabeça de lista a ex-líder da JSD Margarida Balseiro Lopes - que já se tinha excluído das listas e foi uma destacada apoiante de Rangel - a novidade é o dirigente e ex-juiz do Tribunal Constitucional Paulo Mota Pinto, que nem sequer tinha integrado as listas em 2019.
Fecham as novidades: Luís Gomes em Faro (com a saída de outro apoiante de Rangel do topo da lista, o líder da distrital Cristóvão Norte), João Pedro Luís em Portalegre, Sérgio Marques na Madeira, Maria Ester Vargas pela Europa, e Maló de Abreu pelo círculo Fora da Europa, afastando de número 1 o antigo secretário de Estado das Comunidades José Cesário.
Repetem-se dez cabeças de lista (o mesmo nome, pelo mesmo círculo): Jorge Mendes, por Viana do Castelo, André Coelho Lima, por Braga, Adão Silva, por Bragança, Cláudia André, por Castelo Branco, Mónica Quintela, por Coimbra, Isaura Morais, por Santarém, Nuno Carvalho, por Setúbal, Sónia Ramos, por Évora, Henrique Silvestre, por Beja, e Paulo Moniz, pelos Açores.
Quem está definitivamente fora da equação social-democrata para as legislativas é o CDS. A ideia de uma coligação pré-eleitoral foi recusada por esmagadora maioria da Comissão Política Nacional.
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