Numa mensagem escrita no ‘Jornal de Notícias’, o presidente da República fala de “um Natal dividido entre a preocupação e sobretudo a esperança. A preocupação, antes do mais.” O chefe de Estado lembra que “continuam ou multiplicam-se, no Mundo, sinais que não são boa notícia nem para a paz, nem para o diálogo, nem para a convivência entre pessoas, povos, culturas e civilizações”.

As desigualdades, o clima, a guerra e a instabilidade política, social e económica “a provocaram mais migrações e mais refugiados”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa no diário portuense. “Entretanto, a Europa inicia um novo ciclo político com alguns outros sinais que continuam a provocar apreensão”, afirma.

“Sinais como a situação mais ou menos crítica de certos sistemas políticos nacionais”, “o apagamento de lideranças convictas, claras e determinadas e a emergência de compassos de espera ou fragmentações internas as mais variadas”, “o adiamento de decisões importantes para os anos mais próximos em áreas essenciais, até pela influência em termos de crescimento e emprego sustentados e significativos”, diz Marcelo.

Nota, também em Portugal, sinais preocupantes, “embora num plano diferente”, “quanto à concentração do debate público em pontos específicos, mais formais do que substanciais, mais conjunturais do que estruturais, à sensação difusa de que o dia a dia deve prevalecer sobre os horizontes de médio e longo prazo na perceção social de muitos, à situação crítica da comunicação social, acicate de instabilidade, de preferência pelo imediatismo, de potenciação do efémero em detrimento do fundamental.”

“Tudo isto é preocupante. Por isso, falei num Natal de preocupação”, sintetiza o presidente.

Mas há esperança, essa que “permite mobilizar, mesmo quando a preocupação se manifesta”. “Esperança no Mundo. Porque continua a luta de um sem-número de organizações e de cidadãos pelos valores primeiros do personalismo e do humanismo, a começar pela dignidade da pessoa humana”.

Esperança “porque prossegue a saga dos que batalham pela paz, pela justiça, pelos direitos humanos, pelo Direito Internacional, pelo diálogo, a convergência, o entendimento”, “não pára a faina dos que pensam nas gerações futuras e não desistem perante a negação da evidência ou a frouxidão perante as alterações climáticas”.

Marcelo sublinha também a “esperança na Europa. Porque a saída do Reino Unido se fará com acordo e não como tantos defendiam sem ele”, mas também porque nas eleições europeias e em muitos sistemas políticos europeus se viu que ainda há espaço para reformar, mudar de vida, acelerar o passo, retirar argumentos aos antieuropeus ou assistémicos”; e porque “movimentos de ideias e sociais surgem ou se reforçam, pressionando outra iniciativa, outro ritmo, e, mais relevante do que isso, mais prioridade às pessoas, à sua participação, ao seu envolvimento numa Europa que se deixe de meras abstrações ou de torres de marfim”.

Por fim, esperança ainda em Portugal, “porque, entre nós, o bom senso, a experiência de muito passado e do que nele se viveu e o apelo de mais e melhor apontam para olhar mais alto e mais longe e cuidar de evitar injustiças, desigualdades, omissões, atrasos e displicências que criem o caldo para o enfraquecimento de pilares basilares de uma Democracia viva e de futuro”.