A visita relâmpago do presidente ucraniano, a primeira deslocação para fora do país desde o início do conflito, tem lugar quando os congressistas norte-americanos se preparam para votar um pacote de despesas que inclui cerca de 45 mil milhões de dólares (cerca de 42 mil milhões de euros) em assistência de emergência à Ucrânia. Esta medida, caso seja aprovada, será a maior injeção de apoio à Ucrânia pelos EUA e uma garantia de que o financiamento pode fluir para o esforço de guerra nos próximos meses. Todavia, antes mesmo da chegada de Zelensky a solo norte-americano, os Estados Unidos anunciaram que fornecerão ajuda militar à Ucrânia no valor de 1.850 milhões de dólares (1.750 milhões de euros), incluindo uma bateria de mísseis Patriot.
“É uma honra recebê-lo na Casa Branca, senhor presidente”, congratulou Biden na conferência de imprensa que teve lugar após o encontro entre os dois líderes. "Tivemos muitas horas de comunicação à distância e agora estamos, finalmente, frente-a-frente. É uma honra tê-lo aqui”, reforçou o presidente dos EUA.
“Os ataques do presidente Putin têm sido brutais, visando escolas e hospitais. Temos de nos manter juntos ao longo de 2023”, disse Biden. “Foram 300 dias com o povo ucraniano a mostrar à Rússia e ao mundo a sua determinação em escolher o seu próximo caminho. Vocês nunca estarão sozinhos. A liberdade da Ucrânia será suportada por todos nós”, garantiu o presidente norte-americano, que defendeu hoje o compromisso com uma "paz justa" para o país liderado por Zelensky.
Biden considera que "a Rússia está a usar o inverno como uma arma" e defendeu que "a luta da Ucrânia representa a democracia, e que se o mundo não apoiar, sofrerá as consequências”.
“Desde o início, os EUA e os aliados têm estado ao lado da Ucrânia adotando sanções económicas contra a Rússia", salientou. “Juntos, temos fornecido milhares de dólares em apoio humanitário para ajudar o povo da Ucrânia nesta guerra brutal de Putin. Os EUA têm orgulho em receber os milhares de cidadãos ucranianos que fogem da guerra. Temos fornecido alimentos e cuidados de saúde, e vamos ajudar 2,5 milhões de ucranianos a manterem-se quentes durante o inverno”, declarou o presidente dos EUA.
Biden destacou ainda a resiliência da Ucrânia, que "ganhou a batalha de Kherson e de Kharkiv", e garantiu, "Putin não está interessado em acabar com este conflito”.
Assim, e como reflexo do compromisso assumido, o presidente norte-americano fez referência ao pacote de apoio hoje anunciado, em antecipação à chegada de Zelensky, dizendo que este "inclui a transferência de munições, artilharia, tanques e rockets", além da "bateria de mísseis Patriot e formação para o exército” ucraniano.
O sistema de defesa Patriot é "um dos melhores sistemas de defesa do mundo", disse Biden na conferência de imprensa, tendo a capacidade para anular mísseis de cruzeiro e balísticos de curto alcance e aviões.
A par, “os EUA vão fornecer equipamento para assegurar a estabilidade do sistema elétrico da Ucrânia para manter a população quente”, prometeu o presidente norte-americano, reforçando a garantia direta ao homólogo Zelensky de que “os EUA estarão consigo”.
O Presidente norte-americano manifestou ainda a confiança na aprovação do novo pacote de despesas que inclui cerca de 45 mil milhões de dólares de ajuda de emergência à Ucrânia pelo mesmo Congresso que já aprovou um total de 65 mil milhões de dólares em apoio desde o início da guerra.
Zelensky, que começou por “agradecer ao povo da América, que tanto tem feito pela Ucrânia'', salientou que esta é uma visita "histórica". “Estamos a começar uma nova fase da nossa parceria. É isso que tenho sentido nas nossas conversas e reuniões. Estou muito agradecido ao presidente Biden pelo seu esforço e a todos os países do mundo por tomarem uma posição de apoio à Ucrânia”, disse Zelensky, que discursou em ucraniano.
“Tenho boas notícias para dar quando regressar a casa", disse, numa referência ao "pacote de ajuda dos EUA [agora anunciado] e, sobretudo, à possibilidade de defender os nossos céus com os mísseis Patriot”.
"O elemento mais forte deste pacote são os sistemas de bateria Patriot, algo que fortalecerá significativamente a nossa defesa aérea", reconheceu o presidente ucraniano. "Este é um passo muito importante para criar um espaço aéreo seguro para a Ucrânia", concluiu Zelensky.
Fabricado pela Raytheon, o MIM-104 Patriot é um sistema de mísseis terra-ar (SAM) desenvolvido, inicialmente, para interceptar aeronaves em alto voo. Foi modificado na década de 1980 para se concentrar na nova ameaça de mísseis balísticos táticos e mostrou sua eficácia contra os Scuds de fabricação russa usados pelo Iraque de Saddam Hussein na primeira Guerra do Golfo, o primeiro uso desse sistema em combate.
Neste conflito, as defesas aéreas da Ucrânia tiveram um papel fundamental na proteção do país contra os ataques russos, assim como para evitar que as forças de Moscovo conseguissem controlar os céus.
Zelensky não escondeu também que a sua expectativa é ver aprovado no Congresso, onde irá discursar nas próximas horas, o pacote de apoio no valor de 45 mil milhões de dólares, o que representará uma vitória significativa para Kiev e uma garantia de manutenção do esforço de guerra.
Nas conversas entre os dois presidentes, Zelensky disse a Biden o que antecipa para 2023 e relatou ao homólogo americano os estragos feitos pela Rússia na rede elétrica ucraniana e de que forma isso coloca "em risco" a sobrevivência do povo ucraniano neste inverno.
No decorrer do conflito, e à medida que a Rússia enfrentava cada vez mais reveses no terreno, Putin começou a atacar sistematicamente a infraestrutura crítica na Ucrânia, provocando cortes de energia elétrica e de água, afetando milhões de pessoas.
Questionado sobre o que significa alcançar uma "paz justa", Zelensky garantiu que isso não passa por "qualquer cedência quanto à soberania, liberdade e integridade territorial do meu país".
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chegou à Casa Branca, em Washington, pelas 14:00 de hoje (19:00, em Lisboa), para se reunir com o seu homólogo norte-americano, Joe Biden.
À entrada da Casa Branca, Zelensky foi recebido, com guarda de honra, pelo próprio chefe de Estado norte-americano e pela primeira-dama Jill Biden, tendo tirado uma fotografia protocolar com o casal presidencial.
O avião que transportou o Presidente ucraniano para os Estados Unidos aterrou hoje numa base aérea perto de Washington, capital norte-americana.
Zelensky visita os Estados Unidos com o objetivo de obter mais apoio para a Ucrânia e “enviar uma mensagem desafiante aos invasores russos”, afirmou um alto funcionário da Administração Biden.
Na conta pessoal da rede social Twitter, o Presidente ucraniano disse, antes de iniciar da partida para Washington, que a sua primeira viagem conhecida para fora da Ucrânia desde o início da guerra, em fevereiro, destina-se a “fortalecer a resiliência e as capacidades de defesa” de Kiev e a discutir a cooperação com os Estados Unidos.
*com AFP e Lusa
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