Durante o protesto, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, adiantou que os vários indicadores de adesão à greve de hoje relevam que é superior aos valores registados no primeiro dia de greve, na quarta-feira, que rondou os 60%.
O protesto foi convocado pelo SEP para exigir a “valorização dos enfermeiros”, através da reposição da paridade salarial da carreira de enfermagem com as carreiras de técnico superior e outros profissionais de saúde, da aposentação mais cedo, como mecanismo de compensação do risco e penosidade da profissão e a contratação de mais profissionais.
“A saúde é um direito, sem ela nada feito”, “Anos trabalhados não podem ser roubados”, “A luta continua nos serviços e na rua” são alguma das palavras de ordem entoadas pelos enfermeiros à porta do Ministério da Saúde.
Na cabeça da concentração, os enfermeiros têm uma faixa com a inscrição “SNS com falta de enfermeiros! Incompreensível. Governo/Ministério das Finanças despede-os”, enquanto outros seguram cartazes com frases como “SNS precisa de enfermeiros! Ministério das Finanças manda despedir” e “CH [centro hospitalar] Tâmega e Sousa precisa de enfermeiros: Governo ‘põe’ 31 no desemprego”.
Durante o protesto, foi aprovada uma moção em que o SEP afirma que “é inadmissível e intolerável que o Ministério da Saúde continue a não dar as necessárias e justas respostas aos problemas dos enfermeiros, a não apresentar propostas de solução e a não agendar reunião com o Sindicato dos Enfermeiros” e que foi entregue no Ministério.
A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, juntou-se à luta dos enfermeiros, lembrando também a luta dos farmacêuticos e a dos médicos, sublinhando que são estes profissionais que trazem “as soluções para o SNS (Serviço Nacional de Saúde)”.
“Soluções são condições que permitam que os profissionais se mantenham no SNS e nós, quando vamos a um hospital, um centro de saúde, sabemos a importância destes profissionais, em particular dos enfermeiros”, disse a líder bloquista, lamentado as abordagens dos vários ministérios a profissões, como enfermeiros, médicos, professores, de arrastar o problema, “deixando as pessoas anos e anos sem os seus problemas resolvidos”.
Mariana Mortágua elucidou que não se pode pedir a um enfermeiro que “ganha 1.000 euros ou 1.000 e poucos euros por mês que trabalha horas sem fim” que aguenta o SNS quando “tem ao seu lado um tarefeiro que faz as mesmas funções, com menos responsabilidades e ganha mais”.
“O Governo escolhe gastar 140 milhões de euros em tarefeiros, mas não escolhe investir esse dinheiro em carreiras para os enfermeiros e para os médicos”, criticou, avisando que, quando estes profissionais saírem do SNS acontecerá “um desastre” no SNS.
Enfermeiro no Hospital de São João, no Porto, Nuno Agostinho fez questão de participar no protesto devido “ao descontentamento” a que tem assistido ao longo dos anos e que se agravou “nestes últimos tempos”, e o que disse gerar “uma sensação de injustiça enorme”.
“Ao contrário daquilo que o senhor ministro diz, os enfermeiros não foram valorizados. O que aconteceu foi a justa progressão em alguns enfermeiros”, disse à agência Lusa Nuno Agostinho, vincando que “ainda existe uma discriminação enorme dentro da classe” relacionada com dias de férias, por exemplo, com os enfermeiros com contrato individual de trabalho a terem menos dias de férias face aos colegas que têm contratos de trabalho em funções públicas.
Cerca de 10 enfermeiros da urgência do Hospital de Vila Franca de Xira também marcaram presença no protesto para manifestar o seu descontentamento com o que se passa na instituição, como contou Marco Aniceto à Lusa.
“Ainda estamos a aguardar há dois anos pela assinatura do acordo coletivo de trabalho por parte do Ministério da Saúde e do Ministério das Finanças”, adiantou o enfermeiro, sublinhando que esta situação está a levar “ao desmantelamento do hospital”, uma vez que nos últimos dois meses saíram 10 enfermeiros só do serviço de urgência e há outros que vão sair em agosto, e ao “desmantelamento do serviço público de saúde para a população de Vila Franca de Xira”, alertou.
Quem fica, está sobrecarregado de trabalho: “Temos horários na loucura (…) cada um de nós está neste preciso momento a fazer mais 50 horas extras do que aquelas que tinham de ser contratualizadas”, lamentou Marco Aniceto.
(Artigo atualizado às 14h24)
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