Desde o palco de uma carrinha de som da CGTP ecoaram canções de protesto e palavras de ordem, enquanto uma faixa do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), “Solidariedade com o povo brasileiro. Pela democracia no Brasil” encabeçava o protesto.
Esta iniciativa foi organizada no seguimento de uma iniciativa do CPPC na sexta-feira também frente à embaixada brasileira e quando foi confirmada a ordem de prisão do antigo Presidente Lula da Silva dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT).
Nesse protesto, e que mobilizou algumas dezenas de pessoas, foi entregue um manifesto na embaixada que “repudia o golpe institucional”, expressa “viva solidariedade ao povo irmão brasileiro e à sua luta para salvaguardar os direitos e garantias democráticas” e apela à resistência “a um poder crescentemente repressivo e autoritário”.
Hoje, a adesão foi superior, e o manifesto foi lido perante mais de 100 pessoas, enquanto subiam ao palco, para breves intervenções, representantes de alguns dos 44 atuais subscritores: Filipe Ferreira do CPPC, Solange Pereira da Juventude Operária Católica (JOC), Rita Rato, deputada do PCP, Pedro Noronha, da Associação de amizade Portugal-Cuba, Kaoê Rodrigues, de uma associação de estudantes da Universidade Nova, Joaquim Correia do partido Os Verdes, Evones Santos, coordenadora do PT brasileiro em Lisboa, e Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP.
“Queremos manifestar a nossa solidariedade com o povo brasileiro, que neste momento luta contra um golpe imposto pela extrema-direita e com Lula da Silva, que está claramente a ser um preso político no Brasil”, disse em declarações à Lusa o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, antes de subir à tribuna para condenar a prisão de Lula.
O líder da CGTP prometeu prosseguir a cooperação com as centrais sindicais do Brasil, com quem mantém relações próximas.
“O que está aqui em causa é um ataque à liberdade, à democracia, a direitos fundamentais do povo brasileiro, e também à política e os políticos. Mas é também um ataque aos direitos dos trabalhadores e ao movimento sindical”, assinalou.
“Esta ofensiva visa não só impedir que Lula se candidate, mas também procurar atacar direitos dos trabalhadores e a intervenção do movimento sindical enquanto elemento fundamental para a afirmação dos direitos dos trabalhadores, mas também da liberdade e democracia”, prosseguiu Arménio Carlos, para reclamar ainda a possibilidade de Lula se candidatar às próximas eleições presidenciais e “deixar no povo a decisão sobre o que deve ser o futuro do Brasil”.
Os discursos prosseguiam durante a concentração, entrecortados por palavras de ordem: “Fora Temer, Lula Livre”, “Democracia de novo com a força do povo”, Somos muitos, muitos mil, solidários com Brasil”, Fascistas, golpistas, não passarão” foram frases que ecoaram enquanto desfilavam os discursos.
Com uma bandeira do PT na mão e um cartaz de protesto colado ao corpo, Marcos Pinheiro, brasileiro, professor do ensino básico e secundário e em Portugal há 29 anos, também respondeu à chamada.
“O que me traz aqui hoje é defender Lula, o maior Presidente da história do Brasil, as injustiças cometidas pela expulsão de Dilma Rousseff e o erro arbitrário de um julgamento sem provas”, afirmou à Lusa.
Um Presidente que “trouxe a educação e tirou a fome de milhões e milhões e milhões de brasileiros”, afirma com convicção. “Temos de ter gratidão e respeito por esse Presidente”.
E mesmo que admita alguns erros nas “alianças” promovidas pelo PT no poder e que o “prejudicaram”, considera que a eleição de Lula significaria o regresso da “estabilidade” ao Brasil.
“É um homem de reconhecimento mundial, de uma força absoluta, com dignidade, e que pensa no povo do Brasil”, vincou.
Uma opinião em parte partilhada por Miriam Andrade Guimarães, também brasileira, professora universitária da universidade federal do Rio de Janeiro e que completa um doutoramento em Portugal na área da Educação.
“Estou aqui revoltada, desde 2003 com todas as forças populares apoiando o governo do PT, a burguesia brasileira não segurou a onda de perder por quatro vezes as eleições no Brasil”, sustenta, segurando com as duas mãos a bandeira vermelha do partido de Lula e Dilma.
Miriam considera que o “golpe” que afastou Dilma Rousseff do poder, a sucessora do Lula na presidência e “eleita com 54,5 milhões de votos”, também teve como objetivo retirar direitos aos trabalhadores e terminar com diversos programas educativos nas universidades, referindo-se a um “golpe internacional” com a colaboração das corporações mediáticas “que fazem inclusive que as pessoas não saibam que está a haver um golpe”.
A ativista do PT reconhece que o partido terá de fazer uma autocrítica, mas pelo facto de não ter sido eficaz na “formação política” dos cidadãos.
“Esquecemos essa metodologia que faria com que o nosso povo hoje tivesse a mesma força que tem o povo venezuelano, que vai para a rua e se insurge contra o golpe que está existindo lá, e também no Brasil”.
E numa referência à política de alianças que o PT privilegiou, a universitária recordou as características do sistema presidencial brasileiro.
“Se não tivermos a consciência que teremos de fazer essas alianças não chegamos ao poder. E só com a caneta, só com poder, pudemos fazer as transformações que o Brasil conheceu”, referiu, enquanto no palco improvisado Arménio Carlos encerrava as intervenções dos nove oradores convidados pela organização.
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