Os dados constam no relatório da emigração em 2015, que foi hoje entregue na Assembleia da República e apresentado no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Rui Pena Pires, coordenador do Observatório da Emigração, entidade do ISCTE-IUL que colabora com o Governo, referiu que se registaram 110 mil entradas de portugueses nos países de destino, o mesmo número que nos dois anos anteriores.
Estes dados "apontam para uma estabilidade depois de um grande período de crescimento, na sequência da crise de 2008 e sobretudo depois de 2011, que estabiliza num patamar elevado", explicou, referindo que o Observatório dispõe de dados novos que indicam que houve "um pico um pouco maior por volta de 2013" do que aquilo que tinha sido estimado no passado - ou seja, que se tenha situado na ordem das 120 mil pessoas - e, portanto, desde então, se tenha registado "uma pequena, mas mesmo pequena descida".
"A única coisa que podemos afirmar com bastante confiança é que a emigração não cresceu. Se estabilizou ou se teve uma ligeira descida, ainda não conseguimos afirmar", acrescentou.
Certo é que não é previsível que a emigração diminua muito nos próximos anos.
"Uma vez iniciada a redução da emigração, será para que patamar? É muito improvável que seja para um patamar inferior àquele antes do crescimento", comentou o responsável do Observatório, considerando "expectável que seja mais baixo que as 100 mil saídas por ano".
Segundo o especialista, normalmente, a emigração custa a arrancar, mas, uma vez iniciada, "mantém-se mesmo quando as assimetrias se atenuam", até por causa do efeito de atração das comunidades nos países de acolhimento.
Pena Pires admitiu mesmo que esperava que a emigração portuguesa "estivesse a descer um pouco mais".
A emigração portuguesa "continua em níveis historicamente muito elevados", representando um por cento da população nacional, disse.
Sobre os países de acolhimento, Reino Unido mantém-se como o principal destino dos portugueses, seguido de Suíça e França, para onde a emigração se manteve em alta, dados que confirmam que a emigração portuguesa é essencialmente dirigida para a Europa.
Espanha e Dinamarca registaram também maior procura pelos portugueses, enquanto o número de emigrantes para a Suíça, Luxemburgo e Noruega baixou.
Um dado surpreendente para os autores do estudo foi o aumento da emigração para Angola.
Pena Pires indicou que está a surgir um problema: o envelhecimento acentuado da população que emigrou para o continente americano (Estados Unidos, Canadá, Brasil e Venezuela).
A maioria dos emigrantes são "muito pouco qualificados", embora se registe "um aumento significativo" do número de emigrantes licenciados, disse Pena Pires.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, referiu, sobre o ano passado, que os serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros acompanharam perto de cem situações de crise, como atentados e acidentes; 178 cidadãos portugueses detidos no estrangeiro e cerca de dois mil reclusos, além de seguirem a deportação de 460 nacionais, dos quais 276 de países da União Europeia e Suíça e 184 do resto do mundo.
Por outro lado, o Governo apoiou em 2015 863 beneficiários de apoio social a emigrantes carenciados, no valor de 1,7 milhões de euros.
O relatório da emigração de 2015 será analisado pelos deputados, numa audição parlamentar pela comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.
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