"O partido também se faz em discordância, mas sempre em lealdade". Este foi o mote do discurso de Adolfo Mesquita Nunes. "Um partido que tem orgulho sua história não apupa um ministro que tirou o país da bancarrota”, disse, criticando os congressistas que vaiaram António Pires de Lima, ex-ministro da Economia, depois de este ter dito que “Francisco Rodrigues dos Santos és seguramente um jovem com potencial, mas, em democracia, se queres dar-te ao respeito começa tu por mostrar respeito pelos teus adversários”.
O ex-secretário de Estado do Turismo, que tornou público o seu apoio a João Almeida, acrescentou que não gostou do que ouviu sobre si, e expressões como “direita envergonhada” ou “direita do champanhe” deixaram-no desconfortável. "Onde está a tolerância?", perguntou.
E, nesta espécie de generation gap em que parece transformado o congresso do CDS, lembrou que "não há idade" na política, e "Deus queira que possa cá estar mais velho a parecer muito novo", par terminar com esta afirmação: “Nós, os católicos, prestamos contas a Deus, não aos dirigentes do CDS”. Ao SAPO24 disse mais.
Quem ganha, já consegue antecipar? Francisco Rodrigues dos Santos ou João Almeida?
Não faço ideia.
Disse no final da sua intervenção que mudou o discurso por causa do apupo a Pires de Lima, não era nada daquilo que ia dizer. O que ia dizer?
Mudei o discurso porque me pareceu que apupar-se um dirigente do CDS, seja ele qual for, que tem uma opinião, que ode ser polémica, que pode ser crítica de alguém, não é o melhor sinal para m partido que se quer unir. E essa mensagem de união era aquela que eu tinha previsto dizer. Foi-me, de alguma maneira, apresentado um exemplo concreto que me fez pegar nele para discursar. E de uma forma muito mais emotiva do que aquela que eu estava a contar, porque aquilo que gostava de explicar é porque motivo penso que é importante que o CDS não faça um concurso de pureza ideológica, como acho que corre o risco de fazer.
Não está já a fazer?
Neste congresso é normal que haja debate e que as pessoas se exaltem e se animem. É preciso saber se isto é apenas um momento de catarse, o que é próprio de um partido que teve um resultado muito duro, ou se é uma forma de entender o partido.
E, por tudo o que viu e ouviu hoje, como interpreta?
Temos de esperar os resultados para interpretá-los.
Mas, mesmo que não seja eleito, Francisco Rodrigues dos Santos e os seus apoiantes continuaram no CDS e a pensar da mesma forma.
Sabe que mais importante do que a idade das pessoas é a idade das ideias. Vejo nessa candidatura ideias que eu considero mais velhas do que as minhas. E isto não é uma crítica pessoal, é uma leitura política que é normal, há ideias com as quais estou mais de acordo do que outras.
Quais são as ideias mais velhas da candidatura de Francisco Rodrigues dos Santos?
Uma centralização das questões morais, das questões relacionadas com o modo de vida, no discurso político. Não acho que o CDS não deve ter posição nessas matérias, acho que deve, e acho que nem tem de ser a minha, mas não penso que isso deve ser o eixo central do discurso político nem a razão pela qual as pessoas devem votar em nós.
Nessas questões tão pessoais deve haver disciplina de voto? Até onde deve ir a disciplina de voto?
Entendo que a disciplina de voto deve estar associada ao programa eleitoral com que um partido se apresenta a eleições. E vai sempre depender do programa eleitoral. Quando há um programa eleitoral que é sufragado nas urnas e os seus deputados são eleitos, espera-se o cumprimento desse programa eleitoral. Portanto, essa questão terá de ser vista à medida que as situações forem surgindo.
O CDS está com um problema?
O CDS está com o problema de ter tido 4%. Nós não queremos ter 4%, não queremos ficar com 4%, não queremos viver com 4%. Objetivamente, temos um problema que temos de resolver.
Como é que o vão resolver?
Vamos ver qual a moção de estratégia que sai vencedora deste congresso, que será uma parte da resposta à sua pergunta.
Se fosse convidado para integrar o Iniciativa Liberal, aceitava?
Eu estou no CDS. O meu partido é o CDS. Eu gosto de estar num partido onde se confluem as várias sensibilidades da direita, gosto deste convívio e desta moderação que todas elas trazem. E sempre me senti confortável, nunca me senti a mais. Como não me sinto a mais, não vejo necessidade. Se me sentir desconfortável com a estratégia que for seguida pelo CDS, direi dento dos órgãos próprios do CDS, como se espera.
Num congresso, como são esperadas palmas, também são esperadas vaias, ou não?
Não. As vaias, os apupos demonstram... Eu não gosto de ver dirigentes militantes congressistas do meu partido serem apupados por delito de opinião. Não gosto. E reagi por não gostar.
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