Marta ‘D7’ Asensio, nos Vodafone Giants, onde também joga Aida Simão, ou Cristiana Chaves, nos EGN, são algumas das (poucas) jogadoras de Counter-Strike: Global Offensive em organizações portuguesas, com ‘Yun’ a evoluir ao serviço de uma equipa estrangeira.
Nos esports, a participação feminina é cada vez mais notória em todo o tipo de funções, mas ainda há uma penetração menor no espaço dos jogadores, onde estes exemplos, ou de Diana Ferreira e Sílvia Santos (TS Warrior) no FIFA, entre alguns outros nomes, confirmam a exceção à regra.
Adriana Barbosa, natural do Porto e a viver em Lisboa, lembra que começou a mostrar talento para este videojogo desde cedo, tendo experimentado “através do portátil do irmão”, ainda na versão 1.6.
“Começaram logo a chamar-me de batoteira, por alguma razão. Entrei logo no CS:GO [quando saiu], depois tive um computador fixo, comecei a jogar mais e a fazer amizades, até que em 2016 entrei numa ‘equipazinha’”, recorda.
Mais tarde, competiu por organizações maiores, como os Galactics Esports ou os GTZ Bulls, onde conseguiu um primeiro lugar, competindo sobretudo por equipas internacionais, tendo recebido algumas propostas que não resultaram até encontrar a equipa que agora representa, com “imensos bons resultados”.
Nos Ambush, a equipa atual, está “super bem”, com a organização dinamarquesa a olhar para competições europeias e outras naquele país, além de promover torneios próprios para os quais convida outras equipas.
Questionada pela Lusa sobre a experiência no feminino neste setor, em crescimento um pouco por todo o mundo, não tem dúvidas: “não é fácil ser mulher nos esports”.
“Levamos sempre com ‘tu és mulher, devias ir para a cozinha, não devias estar a jogar’. Esse é o insulto mais básico e comum. Não digo que me afeta, até me faz querer mais ganhar o jogo. Se for contra pessoas que me estão a dizer isso, melhor. [Mas] conheço muitas pessoas a quem isto afeta, que ficam mal e vão abaixo, que não se valorizam por isso mesmo”, conta.
Esse panorama, que considera “muito grave”, é algo que “devia mudar”, mas “dos dois lados”, por ver muitas raparigas que ajudam a “rebaixar” outras jogadoras, seguindo o que acontece com rapazes.
Ainda assim, considera que “a maior parte das raparigas que não entram na via competitiva é por não quererem”, dando o exemplo de ‘streamers’, que transmitem quando jogam mas “porque se divertem”.
Sobre a existência de equipas mistas ou só de mulheres, como é o caso dos Ambush, ‘Yun’ considera que ambos estão corretos, porque ajuda ter equipas separadas mas também a mistura.
“A mim, dá-me motivação jogar com rapazes. Só jogo com mulheres porque prefiro, são mais fáceis de lidar, os rapazes têm mais mau feitio. [Mas] se me aparecer uma oportunidade de jogar com rapazes, aceito, não quero mesmo saber”, comenta.
Um dos grandes exemplos da jogadora de 21 anos é a norte-americana Kaitlin ‘Keiti’ Boop, que joga numa equipa com quatro homens, mostrando “que raparigas podem jogar com rapazes e ser boas ou melhores do que eles”, mesmo que, neste setor, tenham “de se esforçar muito mais”.
‘Keiti’ tornou-se a primeira mulher na liga MDL da ESEA, pelos slashLEVEL, e hoje em dia compete nos Mythic Reborn, 44.º no ‘ranking’ internacional.
“Ela dá-nos uma boa imagem, dá uma boa imagem a todas as raparigas que jogam competitivamente”, acrescenta.
Depois de acabar o 12.º ano, encontra-se agora a fazer “cursos sobretudo na área do ‘marketing’ e gestão comercial”, já teve “uma oportunidade de trabalhar” no setor nestas funções, mas para já está “focada em ser jogadora”.
Ainda assim, assume que “o grande objetivo é conseguir viver dos esports”, e pondo de lado o ‘streaming’, porque não se sente capaz de “interagir com muitas pessoas por ser um bocado tímida”, a possibilidade de “chegar aos grandes palcos” no lado competitivo é o principal sonho.
Esse “sonho”, de resto, é o que a guia e o que pretende passar a outras mulheres à procura de ingressar na via competitiva do ‘gaming’.
“Quero passar uma mensagem às raparigas para que se esforcem mais, por mais que pensem que o sonho está longe. Nunca sabem se podem chegar lá ou não. É tentar, e muitas desistem, por precisar de trabalhar ou estudar, mas mesmo assim podem chegar longe”, atira.
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