Numa declaração hoje divulgada, a que a Lusa teve acesso, os membros da organização com sede em Washington, entre os quais a antiga chefe da diplomacia norte-americana Madeleine Albright, dizem que "observam com a maior preocupação uma rápida deterioração da situação", lembrando que "dezenas de milhares de afegãos, que apoiaram o trabalho e os objetivos da comunidade internacional no país, estão agora em grave risco".
"Muitos tentaram deixar o país, mas não conseguiram e agora estão efetivamente presos" atrás das linhas dos talibãs, sublinham os ex-chefes de diplomacia, que estiveram envolvidos no passado com a missão internacional no Afeganistão.
"Exortamos os nossos líderes a agirem juntos com propósito e urgência para retirar esses aliados afegãos e evitar uma catástrofe humanitária mais ampla", adiantam os 24 signatários, que incluem os ex-chefes das diplomacias alemã, Joschka Fischer, russa, Igor Ivanov, britânica, Malcolm Rifkind, egípcio, Amre Moussa, entre outros.
Para o efeito, os antigos ministros defendem que "a comunidade internacional deve usar toda a sua força para pressionar os talibãs a permitir que cidadãos afegãos e internacionais deixem o país por meio de um processo seguro e ordeiro, com corredores estabelecidos para passagem desobstruída".
Os antigos MNE, segundo a mesma nota enviada à Lusa, consideram ainda que "o esforço de retirada atualmente em andamento no Aeroporto Internacional Hamid Karzai, liderado pelos Estados Unidos, deve ser significativamente expandido e continuar até que todos os estrangeiros e afegãos vulneráveis sejam transportados com sucesso para fora do país".
"Mais atrasos criarão uma crise de confiança e agravarão o caos no terreno", alertam, sublinhando ainda a importância de "os países que investiram no Afeganistão deem um passo à frente com ofertas de apoio humanitário tangível e coordenado".
Em particular, consideram que "há uma necessidade urgente" de mais países se comprometerem a acolher aliados afegãos, com alguns lugares a funcionarem como locais de trânsito temporário e outros aceitando refugiados com caráter permanente, através do processo de reassentamento.
Os ex-responsáveis da diplomacia dos seus países elogiam as nações que já declararam publicamente a sua intenção de acolher civis afegãos evacuados.
Os membros do ASPEN Intitute consideram que "esta crise humanitária serve como um primeiro teste crítico para a nova autoridade governante do Afeganistão", pelo que instam à "criação de um governo inclusivo no Afeganistão que defenda as garantias da Constituição afegã de 2004" em matéria de direitos humanos, direitos das mulheres e direitos das minorias.
"Pedimos aos nossos sucessores que deixem claro que o futuro reconhecimento diplomático de uma nova autoridade no Afeganistão se baseia na defesa dessas proteções constitucionais básicas", concluem, salientando que, daqui para frente, a comunidade internacional também não pode "esquecer os milhões de afegãos, especialmente mulheres e meninas, que correm o risco de perder os ganhos consideráveis obtidos em duas décadas de sacrifício".
"Não abandonaremos ou esqueceremos o povo do Afeganistão. Faremos a nossa parte para garantir que suas necessidades humanitárias permaneçam no centro da agenda internacional", acrescentam.
O ASPEN Institute e os seus parceiros internacionais têm como objetivo promover a criação de uma sociedade livre, justa e equitativa através de seminários, programas políticos, conferências, e iniciativas de desenvolvimento de liderança.
Os talibãs conquistaram Cabul no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
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